O espectro de um novo escândalo ronda Brasília: o espectro do “cabidegate”. O crédito é do colunista Ricardo Noblat. Se as novelas da Globo tivessem um terço da criatividade de Noblat, a situação do Ibope, provavelmente, não estaria tão feia.
Assim como o historiador Marco Antonio Villa nutre uma obsessão homoerótica por Lula (seus apelos destemperados para que Lula apareça na TV Cultura são lindos), Noblat é fixado num rompimento entre Dilma e seu antecessor, entre lulistas e dilmistas.
Em sua última coluna, um dia depois do flop das manifestações de 12 de abril, ele resolveu narrar um quiproquó barra pesada no Palácio da Alvorada. Foi em “março último”:
A certa altura, Lula disse: “Eu lhe entreguei um país que estava bem…” Dilma devolveu: “Não, presidente. Não estava. E as medidas que estou tomando são para corrigir erros do seu governo”.
A réplica não demorou. “Do meu governo? Que governo? O seu já tem mais de quatro anos”, disparou Lula.
Os assessores de Dilma que aguardavam os dois para jantar e escutaram o diálogo em voz alta, não sabem dizer se ela nesse instante respondeu a Lula ou se preferiu calar.
Um deles guardou na memória o que Lula comentou em seguida: “Você sabe a coisa errada que eu fiz, não sabe? Foi botar você aí”.
Um assessor de Lula é a fonte, depreende-se. Ou o próprio Lula, quem sabe? O ódio de Noblat por Lula é de mentirinha, portanto. A dramatização vagabunda da conversa é digna de nota. Vai além da fofoca e da cascata. Estamos tratando de um caso de psicofactoidismo.
Dilma, de acordo com o preciso perfil psicológico traçado por Noblat, é “uma pessoa que não ama seus semelhantes, ou que não sabe expressar seu amor por eles”. Para ilustrar essa falha de caráter, ele desenterra uma história que foi originalmente publicada na coluna de Cláudio Humberto em junho passado e desmentida algumas vezes (não pelo governo).
Escreve Noblat:
Um dia, Dilma não gostou da arrumação dos seus vestidos. E numa explosão de cólera, jogou cabides em Jane. Que, sem se intimidar, jogou cabides nela.
O episódio conhecido dentro do governo como “a guerra dos cabides” custou o emprego de Jane.
Mas ela deu sorte. Em meio à campanha eleitoral do ano passado, Jane foi procurada pela equipe de marketing de um dos candidatos a presidente com a promessa de que seria bem paga caso gravasse um depoimento a respeito da guerra dos cabides.
Dilma soube. Zelosos auxiliares dela garantiram a Jane os benefícios do programa “Minha Casa, Minha Vida”, uma soma em dinheiro e um novo emprego. Jane aceitou.
A triste sina de Jane, a ex-criada, circulou no Whatsapp durante a campanha. Dilma estaria respondendo um processo por “injúria qualificada”. A oposição estaria “trabalhando” para levar à TV testemunhos de funcionários agredidos.
Havia um link para o processo na postagem, o qual levava para uma página não encontrada do CNJ. Não bastasse, se fosse verdade, Dilma responderia por lesão corporal e não injúria qualificada.
Na novela de Noblat, a camareira ainda aparece com uma vendida, uma irresponsável que faz tudo por dinheiro e não pensa no Brasil. O “cabidegate” virou assunto entre os de sempre. Danilo Gentili, por exemplo, o gênio do humor, estava “indignado”.
É o caso de se perguntar, novamente: qual o limite?
Não há. O próximo passo é a notícia de que Dilma — ou Lula, ou seja lá quem for, desde que “inimigo” — matou o cozinheiro do Alvorada por não concordar com a receita do espaguete ao sugo. Dilma, aquela sem coração, ladra e assassina. Noblat e quejandos vão contar em detalhes o crime.
A resposta? O silêncio. Tudo em nome do republicanismo.
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