As chatices do Amor, por A. Capibaribe Neto

As emoções que sobrevém às emoções que ruborizam e arrepiam no primeiro momento, com o primeiro olhar, a primeira vontade, são mágicas. As manobras que antecedem à conquista fazem bater mais forte o coração, mas logo depois do primeiro sinal de aquiescência por conta da sinergia, as temperaturas se estabilizam e o passo seguinte obedece a um roteiro muito comum. O primeiro encontro ainda tem ansiedade, nervosismo, coração batendo mais forte antes do eclodir do primeiro toque, primeiro beijo, daí pra frente, as pedras que poderiam dificultar o caminho que vai até os lençóis são pequenas e logo se transformam em areia macia, boa de deixar rastros. Aí, o tempo...! Se não houver muita criatividade e criatividade pode ser entendida como predisposição e dinheiro, advém a rotina e da rotina até a chatice é um passo. Essa reflexão não remete à pressuposição de que seja uma regra, mas via de regra é o que acontece, principalmente se tudo tiver começado com uma paixão e muito desejo fazendo as carnes arderem por conta da fome que custa a passar e de uma sede descontrolada, quase irracional.




A conquista sadia, o jeito manso e sem a pressa que ajuda a paciência de sonhar com o dia seguinte e o dia depois do dia seguinte, no desfiar das contas Amor não dá para explicar. Esse sentir é muito pessoal, exclusivo, é único como uma impressão digital e cada um o prova e sente seus gostos, perfumes, tudo, de uma forma muito especial e mágica. Quem ama de verdade, quem sente amor por alguém e é correspondido, não precisa dizer: "eu te amo", melhor poder olhar bem fundo nos olhos do outro e dizer com alegria pela certeza: "ah, como você me ama... Também!". Quem ama e é amado nunca diz "você me faz muito feliz...!" Que história é essa de fazer o outro feliz? A felicidade é de dentro para fora, é uma coisa que se sente e se espalha através de cada célula e pela alma de cada um. Se não é assim que muitos pensam, é exatamente assim que deveria ser, porque a frase mais correta seria: "eu me sinto imensamente feliz ao seu lado, com você, em você...!" É bem verdade que não existe uma cartilha para amar nem pode haver a pretensão de dizer como os sentimentos se espalham, invadem e completam as pessoas. Quando acontece uma separação não significa necessariamente que o amor acabou. Desavenças, desentendimentos, explosões temperamentais estão embutidas no pacote. Faz parte. Não existe uma medida para provar quem ama mais a quem. Desencontros, brigas pequenas, grandes ou feias estão sempre evidenciadas nos grandes romances, nas novelas baratas ou mesmo naquelas inteligentes. São raros os amores prometidos para sempre que ainda perduram. Casais que conseguem viver juntos até que a morte os separe e quando acontece é motivo de pauta jornalística até na mídia internacional. Quem viveu um grande amor, um amor de verdade e dele insiste falar ou lembrar arrastando uma asa tem tudo para ser alvo do rigor da paciência alheia quando a mesma saudade é venerada em confissões repetitivas. E aquilo que se repete fica chato, sem graça, mesmo que lá no fundo tenha havido uma história complicada de amor de um homem por uma mulher...
O amor tem dessas chatices.

no Diário do Nordeste

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