Alguns fatos indicam que estamos mudando de conjuntura ou, pelo menos, deixando para trás um momento de alto risco e entrando em uma fase cujo desenrolar vai depender das diferentes forças políticas em ação.
A oposição perdeu duas importantes batalhas, a do impeachment e a do ajuste fiscal, e ficou muito mal com as duas derrotas. O PSDB está dividido e o DEM sequer conseguiu se fundir com o PTB. Geraldo Alckmin evidentemente disputa com Aécio Neves a candidatura de 2018 à presidência, o que explica parte da divisão do partido.
O ajuste fiscal está aprovado na prática, com riscos de recessão, elevado desemprego e crise social, cujas conseqüências políticas seriam inevitáveis.
O ajuste fiscal e os altos juros ameaçam a estabilidade social, mas mudaram o humor dos mercados. Os recursos externos fluem para o país, com seus efeitos positivos a curto prazo e desastrosos a longo prazo. Este movimento cria uma dependência cada vez maior do país ao capital externo, que anula e amarra o grau de independência do governo para fazer política econômica ou ainda de desenvolvimento nacional.
A Petrobras se reorganiza, supera a crise, e os bancos e agências voltam a recomendar suas ações. Ao mesmo tempo o governo, aprovado o ajuste, lança o Plano Safra, o Plano Nacional de Exportações, a nova rodada de concessões de infraestrutura e o Minha Casa Minha Vida III, procurando evitar uma recessão que se transforme em crise social e política.
Dois problemas centrais se realimentam: o desemprego e a queda cada vez maior do PIB industrial. São urgentes medidas que atenuem demissões na construção civil, indústria e comercio, como foi a liberação do compulsório para o financiamento habitacional.
A retirada brusca das desonerações na folha de pagamento — que, diga-se de passagem, não reduziu os preços ao consumidor ou aumentou o emprego — pode agora gerar mais desemprego. E a escalada da taxa de juros, além de paralisar o país e promover o corte dos postos de trabalho, pode inviabilizar o superavit primário pelos altos custos da divida interna e levar o governo à lógica de novos cortes em gastos e investimentos, aumentando a recessão.
A superação da fase mais crítica do governo se deu também no Congresso, onde a contrarreforma política está empacada, depois da derrota do distritão e a aprovação, agora sob júdice no Supremo Tribunal Federal, do financiamento privado. O Senado dá sinais de que não aprovará o projeto como veio da Câmara.
A CPI da Petrobras se esgota em si mesma e apesar da maioria conservadora a agenda legislativa do presidente da câmara corre riscos, com dissensões em sua base e retirada de apoios na oposição.
No campos popular e social há um realinhamento de forças, com a CUT reassumindo protagonismo, as greves dos professores em oito estados — com destaque para o Paraná, onde o governo tucano foi derrotado em toda linha — e a oposição generalizada ao ajuste e a política econômica do governo.
Novas forcas sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ampliam sua ação. Movimentos contra a agenda de direita se organizam em todo o país: contra a redução da maioridade penal e a extinção dos autos de resistência, contra a homofobia, por direitos urbanos e transporte, contra a especulação imobiliária, pela democratização das comunicações. São importantes porque, além de justos, são organizados e formadores de opinião. O movimento sindical e social sai da defensiva e assume um papel positivo, deslocando progressivamente das ruas as forças conservadoras de oposição ao governo e ao PT.
Os manifestos dos setores progressistas e agora o dos sindicalistas petistas convergem para uma oposição à política econômica, e não ao governo e ao PT, apesar das críticas e das profundas diferenças, em parte porque a alternativa é a direita e em parte por falta de unidade com relação ao que fazer. O fato é que é cada vez mais dominante, em vários setores sociais, a idéia da necessidade de uma frente popular para enfrentar o novo ciclo que se abre.
O PT tem uma oportunidade única, no seu 5º Congresso, de se unificar para atuar e agir nessa complexa mudança de conjuntura e de ciclo histórico. Pode se renovar e assumir seu papel, buscando uma relação mais autônoma com o governo, sobre o qual já não tem mais comando, apoiando-o contra a oposição de direita mas pressionando publicamente, com a mobilização de sua base social e eleitoral, por uma mudança de rumo e redefinições estratégicas. Um dos desafios do partido é reunificar a ação de sua militância e lideranças — principalmente a de Lula –, bancadas e governos, com o movimento social. Para barrar o ofensiva da direita, aumentar as mobilizações e a disputa pelos rumos do governo.
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