Outras contas, por Janio de Freitas
Audácia e astúcia –eis Eduardo Cunha. É ele mesmo, em pessoa, a explicação para a tão difundida curiosidade sobre o desfecho do seu caso no Conselho de Ética. Ou, mais ainda, sobre o desempenho do próprio naqueles circunstâncias.Eduardo Cunha já disse que provará não haver mentido à CPI da Petrobras, como alegado por proponentes da cassação do seu mandato, com base nas contas suíças do deputado. O mais provável argumento mágico que usará é o de que afirmou à CPI não ter contas do exterior. E as contas mandadas pelos suíços têm nomes de fantasia, ou "empresariais", não o seu. Ainda que não se desconecte das contas, cujos registros têm sua assinatura, pode contestar o motivo da acusação.Mas, entre a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, é indiferente o que se passe no Conselho de Ética. O interesse está, acima das delações verbais, em um levantamento contábil do "recebido e a receber" que Fernando Soares, o Baiano, diz ter recebido de Eduardo Cunha como cópia, em e-mail, da contabilidade das transações de ambos com terceiros. Esta é tida como uma das mais importantes delações e a mais forte referente a Eduardo Cunha.PROVOCAÇÃO
O plano da facção de caminhoneiros que quer "paralisar o abastecimento das cidades", como exposto na internet, é de irresponsabilidade só menor que a dos movimentos pró-impeachment que o incentivam. A combinação e o propósito retiram o caráter reivindicatório da greve de parte dos estradeiros, marcada para segunda-feira (9). A ação pretendida daria características físicas ao confronto até aqui próprio de forças apenas políticas.Não é o tom que se eleva, quando entrara em declínio. É o salto para uma zona sombria em que não há possibilidade alguma de resultado positivo, por menor que seja, para qualquer das partes.Quase tudo parece recomeçar, por desconhecimento ou má-fé, o já vivido a caminho dos tantos precipícios em que o Brasil caiu, ou foi até à iminência de despencar.VOCAÇÃONem toda a importância que as contas ilegais no exterior adquiriram, para a opinião pública e a política, foi capaz de fazer a oposição na Câmara tratá-las pela ótica do conveniente ao país. O projeto de lei para atrair de volta esse dinheirão, desde que não proveniente de ilicitudes, sofreu duplo boicote de deputados, por integrar as medidas propostas pelo governo.A tentativa de acordo para a pronta votação do projeto, feita por vários ministros e deputados governistas, encontrou a oposição com a ideia de protelar a votação e, portanto, a lei e o retorno do dinheiro. A alternativa ficou clara: a disputa a todo risco.O relator do projeto, Manoel Júnior, paraibano do PMDB, incluiu variadas formas de proteção a criminosos financeiros. Até a importação sem pagamento dos impostos devidos, que em português razoável é o velho contrabando, entrou no projeto. Aliás, como contrabando de Manoel Júnior.
na Folha de São Paulo
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