Minha terra, Iguatu - Ceará, igual à tantas outras terras, tem suas peculiaridades e seus tipos fazedores de estórias e/ou histórias. Ponha-se o grau de crença, na conta de quem viu, ouviu ou transmitiu, ao longo do tempo, as artimanhas de um povo capaz de tudo, em termos de sobrevivência.
Deu-se que um "conterra" comprou, em tempos idos, uma motocicleta, quando possuir uma delas, era o mesmo que pobre andar em avião!
Coisa rara!
O "conterra", filho de comerciante abastado, já morando e estudando em Fortaleza, adubando o sonho dourado de ser doutor com anel no dedo, fez parceria com a moto.
Passeios na Beira-Mar bucólica, caça à submarinos nas dunas da Praia do Futuro, vez ou outra uma esticada até a Barra do Ceará, onde Fortaleza foi parida. Conforme confirma o marco de São Thiago.
O certo é que em meio á tanta "farra" não esqueceu daquele que habita a fé de cada nordestino, seja praciante ou habitante do sertão mundão afora: --- São Francisco das Chagas de Canindé, padrinho de cada Chico que existe!
Promessa feita, promessa à ser cumprida!
O "conterra" encheu o tanque da motinha e se mandou rumo ao Canindé!
Passou por Caridade, bebeu refrigerante num destas birosca da estrada. Mais de metade de caminho percorrido, motinha resfolegando sem perder potência, divisou ao longe uma blitz rodoviária.
Grande susto!
Tudo por uma razão: --- Nosso Chico, nunca tivera a preocupação de se habilitar.
Dentro de Fortaleza sempre se dera bem! Mesmo quando abordado, resolvia tudo, com um discreto agrado ao guarda de trânsito.
Mas, com a Polícia Rodoviária Federal, a coisa era diferente!
Estacionou, e raciocinou!
--- Para Fortaleza não vou voltar daqui! Já percorri mais de metade do caminho!
E o Professor Pardal, o iluminou, dando-lhe a ideia "salvadora".
Conversou com seus botões:
--- Daqui para a blitz é (sic) no máximo duzentos metros, vou apear-me da moto, e empurrá-la até passar da blitz, não estarei infringindo nenhuma norma legal.
Apeou-se, e caminhou ao encontro de onde se encontrava o grupo de rodoviários federais.
Ao passar pelo grupo, ainda teve coragem de dar-lhes um bom-dia, eram onze horas da manhã, mas sol quase à pino!
Aquele que parecia comandar a blitz respondeu-lhe o cumprimento, mas ao mesmo tempo deu-lhe sinal de que desse um stop na caminhada!
--- Meu amigo, o que aconteceu? Vejo que pneu furado não é! Será falta de gasolina?
Chico não titubeou:
--- Inspetor, não é nada disso não! O que ocorre, é que estou pagando uma promessa por um sonho realizado. Desde menino velho do buchão, meu maior o sonho era um dia comprar uma moto. Realizei há poucos dias este sonho e agora tô pagando o trato com São Francisco:
--- Ir até Canindé empurrando a moto!
O inspetor ficou admirado com o estoicismo do jovem rapaz, e apontou-lhe seguir caminho com a graça do Senhor.
Ao mesmo tempo, Chico, já calculara:
--- Depois daquela curva monto na minha motinha, e upa, até Canindé!
Só que, Chico, não andara nem cinquenta metros empurrando a moto, para ouvir um grito de alerta:
Era o Inspetor Rodoviário:
--- Jovem, estou designando um patrulheiro para lhe acompanhar até Canindé, afinal ainda são trinta quilômetros à percorrer! Nesta canícula você pode passar mal, e além de socorrê-lo, será para você uma ótima companhia.
E lá se foi o nosso Pagador de Promessas empurrando a moto até Canindé!
Um Zé do Burro com sua cruz representada por uma motocicleta, coisa que Dias Gomes jamais imaginaria!
--- Que "falta de habilitação"!
Copyright ® Buchenga
Robespierre Amarante
Nenhum comentário:
Postar um comentário