Na última década do século passado, quando instado a opinar sobre a última declaração de Fernando Henrique Cardoso, o emérito e genial professor Bento Prado Jr. respondia: "Depende. Depende do personagem que o Fernando está encarnado no momento. Porque o Fernando vive encarnando personagens, vai de Maria Antônia a Napoleão e de Thatcher a Marx, conforme a cara do freguês".por Eugênio Gaspar-
A genial boutade do Professor Bento mostra a vacilante personalidade de Fernando Henrique Cardoso. Há, porém, um elemento que nunca, em toda trajetória do "príncipe da sociologia" se modificou: seu oportunismo.
Por que se presta um ex-presidente a dar uma entrevista ao jornal da direita raivosa – O Estado de São Paulo – defendendo o golpe de Estado, travestido da "legalidade do pedido de impeachment" contra a Presidente Dilma? (leia aqui)
Se recuarmos na história do Brasil encontraremos vários e vários exemplos da atuação dúbia e desonesta de Fernando Henrique: o financiamento da Fundação Ford ao CEBRAP – cujo grande trabalho era manter o debate de ideias dentro do aceitável pelas circunstâncias; a debandada dele e seu grupo quando perceberam que não tinham espaço para manobrar e montar seus esquemas no PMDB do Dr. Ulisses e fundaram o malfadado PSBD; a sentada na cadeira de Prefeito, sem nunca ter conhecido Sapopemba; a outra sentada precipitada no sofá do Collor, mendigando um cargo de Chanceler e, quando chamado às falas por Mário Covas, a recusa envergonhado, para logo em seguida surgir como paladino da moral a gritar "Fora Collor!".
Se analisarmos seu período como Presidente veremos operar a outra face do oportunismo de Fernando Henrique: o de cuidar dos seus. Ou esquecemos todos da nomeação do genro para a direção da Agência Nacional do Petróleo (e posterior demissão, quando deixou de ser genro)? Ou do envolvimento de seu filho Paulo no escândalo da Feira de Hannover, por ocasião dos 500 anos do descobrimento da América? Ou, ainda, o fato do projeto da Dona Ruth Cardoso – Universidade Solidária – ser tocado por uma ONG de propriedade da família e financiado, quase em sua totalidade, por recursos das estatais, notadamente a Petrobras?
Só se indigna com a entrevista de hoje do ex-presidente quem desconhece o fato de que Fernando Henrique sempre foi o mais serviçal dos acólitos da elite industrial e financeira do País.
Este é apenas mais um serviço que ele presta a seus patrões. Resta saber se desta vez ele emitiu Nota Fiscal e recebeu o pagamento em doações para seu Instituto, ou se o soldo se deu na forma de uma estrada para sua fazenda, um apartamento em Paris ou o pagamento de pensão ao filho que não é seu, mas é."
Fhc * décadence sans élégance
* A decadência sem elegância
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