Ri palhaço

A crônica abaixo, de autoria do genial Fernando Veríssimo, dedico aos midiotas, coxinhas e paneleiros do Brazil.
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Depois da provável cassação da Dilma pelo Senado, ainda falta um ato para que se possa dizer que la commedia è finita: a absolvição do Eduardo Cunha. Nossa situação é como a ópera “Pagliacci”, uma tragicomédia, burlesca e triste ao mesmo tempo. E acaba mal. Há dias li numa pagina interna de um grande jornal de São Paulo que o Temer está recorrendo às mesmas ginásticas fiscais que podem condenar a Dilma. O fato mereceria um destaque maior, nem que fosse só pela ironia, mas não mereceu nem uma chamada na primeira página do próprio jornal e não foi mais mencionado em lugar algum.


A gente admira o justiceiro Sérgio Moro, mas acha perigoso alguém ter tanto poder assim, ainda mais depois da sua espantosa declaração de que provas ilícitas são admissíveis se colhidas de boa-fé, inaugurando uma novidade na nossa jurisprudência, a boa-fé presumida. Mas é brabo ter que ouvir denúncias contra o risco de prepotência dos investigadores da Lava-Jato da boca do ministro do Supremo Gilmar Mendes, o mesmo que ameaçou chamar o então presidente Lula “às falas” por um grampo no seu escritório que nunca existiu, e ficou quase um ano com um importante processo na sua gaveta sem dar satisfação a ninguém. As óperas também costumam ter figuras sombrias que se esgueiram (grande palavra) em cena.

O Eduardo Cunha pode ganhar mais tempo antes de ser julgado, tempo para o corporativismo aflorar, e os parlamentares se darem conta do que estão fazendo, punindo o homem que, afinal, é o herói do impeachment. Foi dele que partiu o processo que está chegando ao seu fim previsível agora. Pela lógica destes dias, depois da cassação da Dilma, o passo seguinte óbvio seria condecorarem o Eduardo Cunha. Manifestantes: às ruas para pedir justiça para Eduardo Cunha!
Contam que um pai levou um filho para ver uma ópera. O garoto não estava entendendo nada, se chateou e perguntou ao pai quando a ópera acabaria. E ouviu do pai uma lição que lhe serviria por toda a vida:

— Só termina quando a gorda cantar.

Resultado de imagem para charge palhaçoNas óperas sempre há uma cantora gorda que só canta uma ária. Enquanto ela não cantar, a ópera não termina. Não há nenhuma cantora gorda no nosso futuro, leitor. Enquanto ela não chegar, evite olhar-se no espelho e descobrir que, nesta ópera, o palhaço somos nós.

Comentários

  1. Ana Maria Schirmer28 agosto, 2016

    Bom domingo minha gente querida.

    Somos palhacos desse circo que comecou com um louco que perdeu as eleicoes convocando os cegos para acompanha-lo.
    Para confirmar , convocou uma louca que cobrou 45 mil reais para escrever um parecer que nem ela mesmo e entendia o
    que escreveu. "Loucos guiando cegos ." Shakspeare.

    Renan está certo em chamar aquilo de "hospício ". Por isso ,esses loucos nao tem condicoes de julgar uma presidente lúcida
    como disse a senadora Gleisi Hoffman . Só nos resta colocar um nariz de palhaco e peruca para assistir a tragédia .

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  2. Nos, Povo brasileiro estamos demostrando para o mundo que não passamos de Cucarachas (baratas)

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  3. Grande Luis Fernando Veríssimo

    Faz bem à gente brasileira.

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