Da coluna de Gregório Duvivier na Folha:
De tudo o que escrevi por aqui, o que mais gerou revolta foi falar bem de São Paulo. Cariocas ficaram revoltados com um carioca elogiando outra cidade que não o Rio. Paulistanos ficaram revoltados com um carioca elogiando a cidade deles. "Falar bem de São Paulo é fácil!", gritavam. "Quero ver morar aqui!"
Na Redação da Folha me explicaram que quebrei um acordo tácito: aqui não se fala bem de São Paulo. Acho que foi o Juca Kfouri que me ensinou: "O que a imprensa carioca e a paulista têm em comum é que a imprensa carioca odeia São Paulo e a imprensa paulista odeia São Paulo".
Só mesmo essa falta de autoestima explica a maneira como tratam o Haddad. A decepção do paulistano com o prefeito me lembra da tristeza de uma amiga que reclamava do namorado fofo demais. Suspirava: "Se ao menos descobrisse que ele me trai…". Todo dia entrava no Facebook dele e nada. Nem uma cutucada.
Tenho certeza de que todo dia o paulistano abre o jornal ansiando por um escândalo de corrupção envolvendo o prefeito. Algo que fizesse jus à expectativa. Bastava um desviozinho pra paixão voltar com tudo! Mas nada. Enquanto isso, Doria e Russomanno só fazem subir nas pesquisas –na mesma proporção em que pipocam escândalos envolvendo os mesmos.
Tenho a impressão de que os paulistanos votaram em Haddad da primeira vez por causa do sobrenome. Pensaram: "Kassab, Maluf, Temer, Alckmin… Deve ser da turma deles". (Ainda vão explicar a onipresença libanesa na política brasileira).
Ledo engano. Haddad fez corredor de ônibus, levou cinema pra periferia, priorizou a bicicleta, reduziu acidentes, empregou travestis, cuidou dos crackudos, fechou a Paulista pra pedestre, fechou o Minhocão mais cedo aos sábados pras famílias, e nem uma pontezinha superfaturada. Nada. Nem um peculatozinho.
Poxa, Haddad, aí fica difícil te defender.
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