A reportagem – um furo – de Jaílton Carvalho em O Globo na qual se dá conta de que Marcelo Odebrecht e dezenas de executivos de sua empreiteira finalmente fecharam um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República não traz uma palavra sobre uma eventual acusação a Lula.
Ao contrário, ele afirma que “segundo uma fonte, os acordos, incluindo o do o ex-presidente da Odebrecht, estão um tom abaixo da expectativa dos procuradores, mas ainda assim, são abrangentes”.
Não é preciso queimar a mufa para entender o que significa que “estão um tom abaixo da expectativa dos procuradores”, não é? Não tem acusação direta ao ex-presidente.
Jaílton, porém, menciona no texto que está na delação ninguém menos que o atual presidente da República, Michel Temer. Lá embaixo, no pé da matéria, sem direito a chamada, mas está:
“Na fase preliminar das negociações do acordo, Marcelo Odebrecht e outros executivos citaram pelo menos 130 deputados, senadores e ministros e 20 governadores e ex-governadores. Entre os nomes citados estão o do presidente Michel Temer, e dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), José Serra (Relações Exteriores) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo).
Também foram mencionados o ex-ministro Antonio Palocci (que assumiu a Fazenda na gestão do ex-presidente Lula e a Casa Civil no governo Dilma Rousseff) e Guido Mantega (Fazenda, nos mandatos de Lula e Dilma). Executivos também relataram pagamentos indevidos ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso desde semana passada em Curitiba.”
A menção ao Presidente da República é apenas um detalhe que, certamente, não vem ao caso.
O Globo, porém, não se deu por achado.
“Enxertou” Lula na manchete do jornal, servindo-se de uma “convicção” de um delegado de polícia de que ele seria o “amigo” citado em documentos apreendidos na empreiteira.
Também lá no final, a ressalva que não salva, mas apenas atesta a irresponsabilidade com que as coisas são tratadas:
Desde o início da Lava-Jato, a PF errou pelo menos uma vez a interpretação dos nomes da mesma tabela onde agora identifica Lula como o “amigo”. Os investigadores sustentavam que as menções a valores para JD seriam pagamentos para José Dirceu. Com o avanço das investigações, passaram a sustentar que se tratava de Juscelino Dourado, assessor de Palloci.
No jornalismo de guerra que a imprensa faz contra Lula, é assim. Tortura-se os fatos até que eles digam o que se quer publicar. E, se não disserem, enxerta-se.
Publicado originalmente no Tijolaço, do qual o autor Fernando Brito é editor.
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