no Tijolaço
Não creio que Cunha comece a bater com a língua nos dentes de imediato, embora já tenha soltado alguns torpedos na direção de Moreira Franco. Mas não custa lembrar que a base de Cunha é a base de Temer. E que Temer poderia usar um adesivo daqueles usados por evangélicos nos seus automóveis no vidro de trás do carro presidencial: "Foi Cunha que me deu".
Então, é útil saber o que se cochicha nas rodas oficiais e da turma que vive de dar nota para colunas dos jornais. E uma das mais interessantes é a da Natuza Nery, na Folha:
Um general da Lava Jato diz, menos de uma hora após a prisão de Eduardo Cunha : "Os estoques de Rivotril em Brasília vão desaparecer das gôndolas das farmácias".
A referência ao ansiolítico e a ironia com os poderosos tem razão de ser.
Tão logo a prisão preventiva do ex-presidente da Câmara foi anunciada, Brasília entrou em verdadeira ebulição.
Ministros, auxiliares do governo e, em especial, deputados federais ficaram atônitos.
O temor da delação de um dos mais influentes parlamentares da história do Congresso tomou conta de muita gente.
Cunha é um arquivo privilegiado sobre os usos e costumes da política brasileira. Por isso a hipótese de uma colaboração premiada provoca tanto calafrio.
Apesar de tamanho nervosismo, sabe-se que uma ala da Lava Jato nunca caiu de amores pela ideia de sua delação.
Alguns procuradores sempre disseram nos bastidores, recorrendo a um dito popular, que um acordo assim equivaleria a fazer um "pacto com o diabo".
Em outras palavras, a contar pelo humor de parte do Ministério Público Federal, o peemedebista terá de "cuspir sangue" – expressão usada por um investigador – se quiser se tornar delator.
Seu acordo, diz, seria mais difícil de sair do que o da Odebrecht, há tempos em negociação.
Não se trata de alívio aos desesperados. Mesmo que a Lava Jato não queira que ele fale em troca de redução de pena e de pagamento de multa, Cunha ainda pode decidir abrir a boca mesmo sem contrapartida da Justiça.
Ele não é do tipo que vai para a forca sozinho.
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