O depoimento do ex-presidente Lula na manhã de ontem terça-feira (14) na Justiça Federal de Brasília acabou por se tornar o que provavelmente será o marco da retomada da redemocratização política brasileira.
Foi a primeira vez que o ex-presidente depôs na condição de réu na ação em que é investigado por uma suposta obstrução dos trabalhos realizados pela Operação Lava Jato.
O que para qualquer outro político brasileiro poderia ser o princípio do fim, para Lula representou a sua grande oportunidade de expor ao país não só as injustiças, as arbitrariedades e os insultos a que vem sendo submetido nesses três anos da inquisição de Curitiba, mas sobretudo a sua incomparável disposição para o embate político. Em resumo, foi um passeio.
Em nenhum momento Lula utilizou-se do seu direito de permanecer calado. Mais do que responder a todas as perguntas, lecionou sobre o regime presidencialista de coalização, sobre as relações institucionais que um presidente democrático deve manter com os demais poderes, sobre a política de fortalecimento da indústria nacional e sobre o caráter republicano que manteve nos oito anos que ocupou a presidência da República.
Uma a uma, caíam por terra todas as acusações a ele imputadas. Surpreendeu particularmente a precisão dos detalhes, a maneira enérgica com que discorria sem jamais perder o equilíbrio, a serenidade e a segurança na defesa de seus atos.
Sem pestanejar, desafiou que qualquer ministro do Supremo o acusasse de ter pedido um único favor, incitou qualquer empresário a olhar nos seus olhos e afirmar que, com ele, manteve transações espúrias, cobrou da Polícia Federal e do Ministério Público Federal qualquer prova que pudesse envolvê-lo em ilícitos minimamente que fosse. Nada. Absolutamente nada.
Pelo contrário, mostrou como fortaleceu de forma irrestrita as instituições de combate à corrupção, como garantiu a independência e isonomia dos órgãos controladores, como se tornou, enfim, o único ex-presidente brasileiro a ser respeitado e recebido diretamente pelos atuais presidentes no mundo todo.
Lula saiu daquela audiência infinitamente maior do que entrou. Ficou evidente para todos ali presentes, muitos a contragosto, que o ex-presidente continua mais ativo do que nunca, que o seu capital político é enorme e que 2018 está mais próximo do que se imagina.
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