Saída de Aldo traz mais perguntas do que respostas, por Ricardo Cappelli
Respostas simplistas, esquemáticas, chavões anacrônicos e ataques pessoais não contribuem em nada, mas talvez sejam a melhor forma de não enfrentar a questão central: por que um quadro da estatura de Aldo Rebelo, nascido, criado e formado nas fileiras do PCdoB, decidiu deixar o partido?
O filho do vaqueiro da fazenda do velho Teotônio Vilela tem uma história pessoal que daria filme. Saiu da pequena Viçosa, no interior Alagoano, onde quase todos os filhos de vaqueiros são condensados a uma vida de sacrifícios, para assumir os mais altos postos da República hasteando a foice e o martelo. Não é pouco.
Ao longo de 40 anos de militância comunista foi quase tudo. Presidente da UNE, Fundador e primeiro Presidente Nacional da UJS, Vereador, Deputado Federal, Ministro de 4 pastas distintas e Presidente da Câmara dos Deputados. Até a Presidência da República chegou a assumir por alguns dias. Há pouco tempo chegou a ser sondado para presidir o PCdoB Nacionalmente e só não foi lançado pré-candidato à Presidência da República pelo partido porque recusou a tarefa. São fatos. Sua história, trajetória e pensamento são parte importante da construção do PCdoB. Sua desfiliação não é um fato qualquer. Aldo mudou repentinamente suas posições? Se não, o que teria mudado? Desistiu de lutar por suas posições? Por que? Sua saída enfraquece os comunistas? Seria irrelevante?
Acusar Aldo de ser um nacionalista que "endireitou" é faltar com a verdade. O projeto de resolução do Congresso do PCdoB coloca como central a questão nacional e a necessidade de reunir amplas forças. Vejamos: “A realização desses objetivos só é possível com a união de forças em frente ampla, para além da esquerda política e social.” O Manifesto lançado por Aldo encarna este conteúdo ou não? Dá um bom debate. Nossa tese, é da nossa tradição, é sempre meeira, de forma que cada um reforça os aspectos ou ângulos que julga mais importantes. Particularmente, e afirmo sinceramente, tenho dúvida se, na prática, damos consequência a esta formulação. Que iniciativas estão em curso para construção da tal Frente Ampla?
Na última vez que estive com ele, percebi um claro incômodo com o futuro do país e da esquerda brasileira. Lá se vão quase 30 anos que os comunistas, diante das mais variadas e diferentes conjunturas, perseguem um único caminho nacionalmente, o apoio ao PT. A constatação, é um fato, longe de ser antipetismo e de desconsiderar o fenômeno e a liderança de Lula, é a aspiração de, principalmente pensando no pós-Lula, construir um caminho alternativo, altivo, uma nova experiência progressista no país. Certo? Errado? Alguns movimentos de valorização de Haddad, o plano B do PT, devem ter causado grande desconforto. Certos? Errados? Dá um bom debate.
Com certeza não há o que comemorar. Ficam mais perguntas do que respostas. Em meio a uma brutal defensiva da esquerda, perder um General não é um bom sinal. Aldo saiu como conduziu sua vida, com profunda dignidade. Muitas de suas inquietações são as mesmas dos que permanecem em nossas fileiras. Nem os mais próximos foram contatados. Se optasse por uma saída após uma disputa interna, mexeria nas estruturas com consequências imprevisíveis. Saiu de forma discreta, como sempre conduziu sua vida. Que tenha sucesso, onde quer que vá. Se movimenta por causas, jamais por coisas. Seu sucesso será o do Brasil e dos Brasileiros. Com certeza estará ombro a ombro com os Comunistas em muitas batalhas duras que virão. Boa sorte e até Camarada!
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