- Quando o povo muda de lado, você não sente, não vê, mas eu não deixo de dizer, meu amigo, que a próxima mudança, em outubro, vai acontecer -
Vai dar PT? por Sergio Saraiva
Toda mudança comportamental começa antes no imaginário, às vezes inapercebida, antes de tornar-se concreta. Mesmo para o inconsciente coletivo.
Nas eleições de 1974, quando era claro que a luta armada não derrubaria a ditadura - ao contrário - tornou-se fato que algo silenciosamente havia mudado no inconsciente do brasileiro. Acabara o apoio popular à Ditadura de 64 manifestado nas eleições de 1970; fruto do tricampeonato de futebol - só quem estava lá sabe o que foi aquilo - e do "milagre econômico". A ARENA - o partido da ditadura - foi derrotado inapelavelmente. Fez seis senadores contra quatorze eleitos pelo MDB de então - o partido da oposição.
A ditadura ainda duraria mais onze anos; haveria assassinatos e mesmo massacres – mais ou menos clandestinos; haveria casuísmos como o Pacote de Abril de 1977 e a Lei Falcão, mas a Ditadura começara a acabar naquela eleição de 1974. Jamais recuperaria o discurso junto à opinião pública.
Essa característica das mudanças comportamentais veio me à mente frente aos acontecimentos das últimas semanas e, principalmente, deste Carnaval.
Algo parece ter mudado na opinião pública geral em relação ao Golpe de 2016.
A rejeição generalizada à reforma da previdência – ainda que talvez somente uma minoria tenha estudado o seu conteúdo. A forma como foi fácil carimbar na testa do Judiciário a marca de “privilégio” em relação ao auxílio moradia– e nas testas coroadas de Moro e Bretas. Apoiadores de ontem, hoje viraram piadas.
E agora, o modo como alinhou-se ao imaginário popular esse desfile da Paraíso do Tuiuti e seus patos e camisas amarelos – manifestoches e vampiro neoliberalista.
Não parece haver dúvidas – algo mudou em relação ao Golpe de 2016. A população geral – formada por pessoas comuns e não militantes – passou para a oposição.
Lula será liberado para concorrer? Muito provavelmente não. Lula poderá ser preso ainda? Provavelmente não, mas é uma possibilidade.
Ocorre que se realmente a virada se deu, esses acontecimentos, por traumáticos que sejam, não alteram mais o resultado. A oposição ganhará as eleições.
Mas quem é a oposição?
Bolsonaro é oposição.
Alckmin não é oposição. Doria não existe mais – o affair com Zeca Pagodinho foi a gota d’água. Tornou-se tão ridículo quanto Temer.
Tristezas de carnaval - o que sobrou para o Golpe de 2016? Cara de palhaço, pinta de palhaço, roupa de palhaço – será este o amargo fim do Carnaval do Golpe?
E Huck - é oposição?
Vai ter de se fantasiar de oposição, se quiser ter chance. Vai conseguir? Tem os roteiristas da Globo a seu favor - eles são espertos em virar o personagem segundo as necessidades de IBOPE da novela. Mas, se a população o identificar com o governo Temer – nem assim tem chance.
Ainda mais agora que Huck está cheio de dúvidas e tendo que passar para a defensiva. Essa história do jatinho financiado a juros subsidiados - furo do grande jornalista Fernando Brito do blog Tijolaço que a grande mídia teve que repercutir - pode ser para Huck o que o aeroporto de Claudio foi para Aécio. Algo que precisa ser escondido - porque mata o discurso.
Empreendedorismo com financiamento de BNDES a juros de 3% ao ano, quando o povo paga mais de 300% no cartão de crédito, não é algo fácil de defender. É o “auxílio moradia” do Huck. E o povo não está para auxílio de nenhum tipo.
E o PT? O PT é oposição.
E talvez essa seja a grande notícia para a esquerda - se é que a esquerda percebeu. Um PT lavado e enxaguado no mar de lama recuperando o discurso da ética e da justiça social? Será possível?
Basta ver a reação à música "Vai dar P-T". Não poderia ter vindo em melhor hora.
Nada tem a ver com o Partido dos Trabalhadores, mas foi o suficiente para desconcertar jornalista experimentada da Globo. E, no Youtube, parece que o pessoal também entendeu assim.
E quando até o pessoal do funk ostentação está dizendo que vai dar PT é porque realmente a opinião pública geral virou.
PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – desfilando blues-enredo no sambódromo do Anhembi.***
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