Muitas águas vão rolar até que se saiba se Moro chegará candidato a 2022. Antes de tudo, ele vai ter que se adaptar aos modos e costumes de Brasília, conviver com os colegas do governo Bolsonaro, com o Legislativo e com os integrantes do STF, além, é claro, de mostrar serviço. Um serviço para lá de difícil, que é mostrar resultados no combate à violência e à corrupção. É um teste difícil, que somente quem tem ambições futuras teria disposição para enfrentar, saindo de sua zona de conforto.
Mas o maior beneficiário do casamento definitivo de Moro com a política pode ser Lula, usando o argumento de que ele confirma flertes anteriores do juiz com o antipetismo. A suspensão do sigilo da delação de Antônio Palocci em plena campanha eleitoral será o carro-chefe dessa argumentação, que deverá servir de base a recursos a instâncias superiores como o STF. O Supremo deverá se dividir mais uma vez, mas é muito provável que a maioria agora penda a favor do ex-presidente.
Até porque Moro não é o rei da popularidade no STF, onde diversos ministros, como o atual presidente Dias Toffoli e Gilmar Mendes, já se manifestaram diversas vezes contra excessos do juiz de Curitiba. Nos bastidores, o Supremo não está feliz com a possibilidade de ter o juiz de primeira instância nomeado para uma de suas vagas. E nem está disposto a se curvar a um superministro da Justiça, com quem terá relação mais protocolar do que qualquer coisa.
A Lava Jato poderá continuar sendo conduzida em Curitiba pelo sucessor de Moro, mas outros réus tendem a questionar suas decisões a partir de sua contaminação pela política. Já sem o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, a equipe evidentemente estará desfalcada e mais fraca.
De imediato, o maior ganho de Moro será evitar o enfrentamento previsto para o depoimento de Lula no caso de Atibaia, marcado para 14 de novembro. Os petistas estavam prevendo uma performance política do ex-presidente em seu primeiro pronunciamento público pós-eleições – que, no mínimo, provocaria constrangimentos a Sérgio Moro. Foi a primeira vez em que o juiz escapou do réu.
Helena Chagas em Os divergentes
Vida que segue, voltas que a vida dá (...) mas de repente, não mais que de repente as coisas mudam de lugar e quem perdeu volta a ganhar...
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