O Brasil não pode ser governado por um miliciano, por Joaquim de Carvalho

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Um presidente que vivia no meio de marginais. A frase, dita pelo jurista Afrânio Silva Jardim, ecoa quando se assiste ao vídeo com o discurso de Jair Bolsonaro em Davos.
Olhos congelados, expressão de um homem frio, repetindo frases de efeito, para uma plateia mundial.
“Ele me dá medo”, resumiu o Prêmio de Economia (2013) Roberto Shiller. “O Brasil é um grande país e merece alguém melhor”, disse também. “Eu terei que ficar longe do Brasil”, acrescentou.
Ao mesmo tempo em que formadores de opinião como Shiller e a imprensa internacional definiam Bolsonaro exatamente como ele é — sinistro —, no Brasil as notícias colocavam não só Flávio, mas também o pai, alguns palmos abaixo na lama.
A família Bolsonaro enriqueceu na política com um discurso em que elogiava a ditadura e torturadores, e, ao mesmo tempo, abrigava criminosos em gabinetes públicos.
Um abrigo que não se resumia a homenagens ou discursos, mas envolvia dinheiro público também.
A mãe e a mulher de Adriano Magalhães, ex-capitão do Bope e suspeito de liderar o “Escritório do Crime”, eram assessoras de Flávio Bolsonaro.



Também a irmã de dois PMs presos sob a acusação de darem cobertura a extorsionários, recebiam do orçamento público, por nomeação do filho do presidente, na época deputado estadual.
Ao mesmo tempo, Flávio e o pai defendiam  de suas tribunas os milicianos, que, ao contrário do que ele dizem, não são bem-vistos nas comunidades, pela truculência e por cobrar por serviços que deveriam ser públicos.
No passado recente, o Brasil teve um sociólogo e um torneiro mecânico na presidência.
Agora, quando se olha para a figura de Bolsonaro discursando para a elite econômica do planeta, o que se vê é a imagem de um miliciano.
Um miliciano que tem respaldo do Exército e do juiz Sergio Moro, como muito bem definiu o ator José de Abreu.
Pode-se dizer muita coisa sobre isso, exceto que não se sabia que seria assim.
Na última eleição, o confronto era entre civilização e barbárie.
A velha imprensa sabia quem era Bolsonaro, mas preferiu não aprofundar questões delicadas, como a relação com as milícias.
Mostrar Bolsonaro exatamente como ele é significava jogar água para o moinho de Fernando Haddad, o candidato do Lula.
A figura de Bolsonaro evoca gritos de dor, gemidos, sangue, cadáveres encontrados na periferia ou em vielas de comunidade, no rastro deixado por homens que servem a uma organização que aceita receber dinheiro para matar seres humanos.
O “Escritório do Crime” desmontado ontem pelo Ministério Público fica na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Mas há outros escritórios do crime em pleno funcionando, nos palácios mais bem protegidos.
Urge desmontar estes também, para que o Brasil possa voltar a receber personalidades como o Prêmio Nobel de Economia de 2013.
Um presidente brasileiro não pode despertar medo.
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