As recentes ondas de calor extremo no Hemisfério Norte têm exposto milhões de pessoas a temperaturas elevadas e atípicas, resultando em alta mortalidade. Há duas explicações predominantes: o fenômeno El Niño, que deve influenciar fortemente nosso clima até janeiro de 2024, e o aumento constante da temperatura global média, que já apresenta uma alta de aproximadamente 1,2º C desde o início da era industrial.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já vê uma alta incidência de doenças e mortalidade ligada ao drástico aumento da temperatura corporal humana. Diante deste cenário inédito na história moderna, fica mais díficil para nossos organismos enfrenta regularem suas temperaturas. O resultado é uma cascata de doenças, que vão desde cãibras e exaustão por calor até insolação e hipertermia. As temperaturas extremas também podem agravar doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, respiratórios, cerebrovasculares e condições relacionadas ao diabetes.
Embora preocupante, a ciência médica sugere que muitos desses efeitos adversos à saúde podem, em parte, ser evitados. Já há guias para sobrevivência, focando ações preventivas que requerem políticas públicas bem definidas, estratificadas em diferentes níveis, a partir de avaliações estratégicas sobre vulnerabilidade e adaptação.
Seguindo o exemplo do tórrido verão do Hemisfério Norte, o Brasil deverá enfrentar um verão atípico entre 2023 e 2024. Nosso clima apresenta características peculiares, com temperaturas máximas mais relacionadas à secura que sucede os meses de inverno na região Centro-Oeste e picos de temperatura no verão no Sudeste, especialmente em estados como São Paulo.
O Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) destaca a secura do clima no Nordeste brasileiro, não apenas com altas temperaturas, mas também com o avanço da desertificação em diversos estados.
Fica claro, portanto, que o Brasil precisa de um plano integrado para lidar com o calor extremo. A proteção da população precisa ser planejada através de estratégias que envolvam a capacitação da sociedade, e o preparo adequado dos setores de saúde e assistência social.
Essa estratégia de combate ao calor excessivo demandará a cooperação entre diferentes esferas de governo, incluindo federal, estadual e municipal. É fundamental a capacitação e preparação dos municípios, que são responsáveis pelos serviços de saúde essenciais à população.
O Ministério da Saúde, em seu programa Vigidesastres já prevê teoricamente os riscos associados às ondas de calor. Porém, ainda é necessário aprimorar esse planejamento.
Além disso, há segmentos da sociedade que estão em maior risco, como idosos e trabalhadores de áreas abertas e ambientes de trabalho sem refrigeração adequada.
De forma estrutural, é preciso melhorar a habitabilidade de nossas cidades. É crucial que o planejamento urbano, métodos construtivos e melhorias em edificações proporcionem maneiras de amenizar os efeitos das ondas de calor extremo. As áreas urbanas intensamente pavimentadas e de cores escuras, por exemplo, absorvem calor durante o dia e o liberam à noite, exacerbando o fenômeno das ilhas de calor.
Também são fundamentais a proteção dos recursos naturais e a expansão de áreas verdes para refrigeração e sequestro de carbono. A prevenção de incêndios em campos, culturas, áreas naturais e florestais pode proteger a biodiversidade e prevenir a exposição das populações à poluição do ar.
Todas essas ações podem ser integradas em um plano de ação contra o calor extremo, com medidas escalonadas de acordo com a gravidade do risco. É crucial considerar os riscos de insegurança alimentar, especialmente em áreas onde cultivos específicos podem ser vulneráveis a altas temperaturas.
Para ilustrar a gravidade de uma onda de calor extremo, basta olhar para o que está acontecendo nos verões europeus, com as ondas de calor chamadas Cérbero e Caronte. O fato de tais ondas de calor agora receberem nomes, assim como tornados e furacões, é um testemunho da seriedade e da gravidade desses fenômenos. |
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