Ciro Gomes é um homem inteligente e tem posições muito corajosas, sob diversos aspectos. Mas, há muito, se perdeu.
Dizer que a eleição de Jair Bolsonaro é culpa de Lula e do PT não é só desonestidade intelectual, é mau caratismo mesmo.
Ao abarcar essa tese, Ciro passa a se alinhar, definitivamente, com a raia miúda de ressentidos da direita brasileira que tenta fugir de uma responsabilidade que é exclusivamente dela. Porque foi ela, junto com a mídia criminosa do Brasil, que desencadeou um processo devastador de desconstrução da política para, como efeito colateral, destruir a imagem do Partido dos Trabalhadores e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, finalmente, apear o petismo do poder central.
A dose do veneno antipetista, no entanto, foi demasiada. Na falta de um Fernando Collor, a classe dominante pensou em colocar na Presidência da República um boneco inanimado como Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, do PSDB. O retorno dos tucanos, sonho dourado de banqueiros, barões da imprensa, grandes empresários e especuladores do mercado financeiro se transformou no pesadelo chamado Jair Bolsonaro.
A ferramenta usada foi a Operação Lava Jato, sob comando do bem treinado Sérgio Moro, talvez o único realmente beneficiado, no fim das contas. Sem provas, mas incensado pela mídia e pelos setores mais reacionários envolvidos no golpe de 2016, Moro conseguiu colocar Lula na cadeia, a tempo de tirá-lo da disputa de 2018 e garantir, mais adiante, uma boquinha de ministro no governo Bolsonaro.
Foi esse movimento político que elegeu o demente que, por ora, nos governa. Não há qualquer culpa do PT e de Lula, nisso, e Ciro Gomes, entregue ao vale tudo para se cacifar entre os futuros órfãos do bolsonarismo, sabe muito bem disso.
Sempre soube, aliás. Ainda assim, fugiu para Paris, no segundo turno das eleições, ao invés de ficar e enfrentar a besta fera que ele, agora, ataca e critica confortavelmente sentado no camarote da covardia.