Lustosa da Costa
Botando no mau caminho
Um dia destes, amigo recente me convidou a um almoço para que eu melhor o conhecesse. O papo se desenrolou inteligente e intimista, irrigado por não sei quantas doses de caipirosca. Sabia que ele há décadas estava sem beber. De véspera, ante o convite, disse lhe não dispensaria um aperitivo. Qual não foi meu espanto ao vê-lo me acompanhar, passo a passo, em cada drinque consumido. É que ouvira falar de que sua abstinência era deliberada pelo mal que o consumo das chamadas bebidas espirituosas fazia a seu comportamento, a sua carreira. Não era, porém, hora de dar conselhos a um velhote, exatamente da minha idade. Ele bebeu todas. Ao final, na afetuosa despedida, só lhe enderecei um pedido: “Não vá dizer à sua mulher nem à sua mãe que o obriguei a beber”. É que a família acha sempre que o outro é que corrompe nosso irmão, nosso filho. Tão inocentes, eles se deixam levar por qualquer proposta de terceiros ao caminho do vício, do prazer.
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