É preciso manter o diálogo
por Paulo Coelho sua Coluna no DN
– A esposa do rabino Iaakov era considerada por todos os seus amigos como uma mulher muito difícil; por qualquer pretexto iniciava uma discussão. Iaakov, porém, nunca respondia as provocações. Até que, no casamento de seu filho Ishmael, quando centenas de convidados comemoravam alegremente, o rabino começou a ofender sua mulher – mas de tal maneira, que todos na festa puderam perceber.
– O que aconteceu? – perguntou um amigo de Iaakov, quando os ânimos serenaram. – Por que abandonou seu costume de jamais responder às provocações?
– Veja como ela está mais contente – sussurrou o rabino.
De fato, a mulher agora parecia estar se divertindo com a festa.
– Vocês brigaram em público! Não entendo nem sua reação, nem a dela! – insistiu o amigo.
– Faz alguns dias, entendi que o que mais perturbava minha mulher era o fato de eu ficar em silêncio. Agindo assim, eu parecia ignorá-la, distanciar-me com sentimentos virtuosos e fazê-la sentir mesquinha e inferior.
“Já que a amo tanto, resolvi fingir perder a cabeça na frente de todo mundo. Ela viu que eu compreendia suas emoções, que era igual a ela, e que ainda quero manter o diálogo”.