Vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer ofereceu na noite desta terça-feira (5) um jantar para congressistas, governadores, ministros e caciques regionais do seu partido. Além do repasto, os convidados mastigaram Dilma Rousseff no Palácio do Jaburu. Morderam também o PT. Entre a entrada e a sobremesa, previram um 2015 inóspito, com crise econômica e turbulência política.
Passaram pelo Jaburu mais de uma centena de políticos. Não houve discursos nem decisões. No jogo de aparências que caracteriza o exercício do poder, o evento fora concebido como uma confraternização que projetasse para fora a imagem de um partido relativamente coeso, pronto para prover a Dilma mais quatro anos de governabilidade.
"O encontro se destina a nos confraternizarmos'', disse Temer ao saudar os comensais. "Por mais que tenhamos divergências localizadas, elas não acontecem em um encontro nacional.''
Na sequência, o que se viu nas mesas e nas rodas foram manifestações de um partido unificado, por assim dizer, no ressentimento e a desconfiança. Líder do governo no Senado, Eduardo Braga, por exemplo, soou como um pemedebista do primeiro grupo. Derrotado na sua tentativa de retornar ao governo do Amazonas, ele se referiu com de maneira inamistosa ao governo e, sobretudo, ao PT.
O ex-deputado gaúcho Eliseu Padilha revelou-se um pemedebista do segundo tipo. Amigo de Temer, ele frequenta o noticiário como ministeriável. Mas, questionado sobre seu ânimo, levou o pé atrás. Ministro, eu não poderia indicar nem o cara que serve o cafezinho, brincou Padilha, ecoando uma queixa antiga do PMDB sobre a indisposição de Dilma de ceder ministérios por inteiro —de porteira fechada, como se diz em Brasília.
Referindo-se a Dilma como "essa mulher", o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, disse que, considerando-se o modo como a presidente sempre tratou o PMDB, o partido tem de "arrancar tudo dela'' se for participar do governo no
Relator do Orçamento da União de 2015, o senador Romero Jucá anteviu um agravamento da crise econômica. Ouviram-se vozes de concordância ao redor. Uma delas, irônica, disse que Dilma passará pelo vexame de ter de adotar as medidas impopulares que, na campanha eleitoral, acusou o antagonista Aécio Neves de tramar.
Numa das rodas que se formaram no Jaburu, a Petrobras se impôs como assunto incontornável. Houve concordância quanto ao potencial destrutivo dos depoimentos prestados sob o manto diáfano da delação premiada. Ali mesmo, no salão da casa do vice, estavam personagens alvejados pelos delatores. Entre eles Renan Calheiros, presidente do Senado.
Eterno todo-poderoso do Senado, Renan sofrera na véspera uma nova fissura no escudo protetor. Acusado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa de lhe repassar R$ 500 mil em verbas sujas, provenientes de propina, o ex-senador Sérgio Machado teve de se licenciar da presidência da Transpetro, cargo para o qual Renan o indicara em 2003.
A governadora maranhense Roseana Sarney, também alvejada pela petro-delação, disse noutra roda que vai mesmo se retirar da política. Aposenta-se depois de passar a faixa, em janeiro, para o governador eleito Flávio Dino (PCdoB), adversário do clã Sarney.
Diferentemente de Roseana, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, parece enxergar diante de si uma avenida larga. Festejado por alguns dos convivas de Temer como opção presidencial do PMDB para 2018, Paes não refugou a ideia. Ao contrário, recebeu-a com hedionda naturalidade.
O deputado Eduardo Cunha, desafeto de Dilma, desfilou pelo Jaburu como uma espécie de presidente da Câmara esperando para acontecer. Ele havia conversado mais cedo com Temer, que andava incomodado com o timbre semi-oposicionista e antipetista de suas manifestações. Aparentemente, para desassossego de Dilma, o diálogo entre dois foi proveitoso para Cunha.
Nesta quarta, sob a presidência de Temer, o PMDB reúne seu conselho político. Dessa vez, para discutir um tema específico, apontado por Dilma como prioritário: a reforma política. Nessa matéria, o partido tem um único consenso: não concorda com o plebiscito sugerido pela presidente. Topa, no máximo, um referendo.