Crônica dominical de Luiz Fernando Veríssimo

Será que Batman e Robin dormiam na mesma cama?

Nos anos 30, reagindo a uma onda de protestos contra a "licenciosidade" nos filmes de Hollywood, a indústria cinematográfica americana criou um código determinando o que o público podia e não podia ver na tela. Nudez nem pensar, beijo de boca aberta esquece, sexo só sugerido e assim mesmo dentro de certos limites específicos.

Homem e mulher, mesmo casados, não podiam aparecer na mesma cama. Durante os anos de vigência do código puritano, cama de casal, e tudo que ela implicava, era proibida, a não ser que fosse ocupada por uma só pessoa.

Com uma exceção, como sacou o Ruy Castro numa das suas colunas recentes na "Folha": o Gordo e o Magro. Há várias cenas nos filmes do Gordo e o Magro em que os dois dormem juntos na mesma cama de casal — isso quando o sono não é interrompido por um fantasma ou uma briga pelo cobertor.

E ninguém, que se saiba, jamais protestou contra os dois homens numa cama só. Talvez porque a ideia do Gordo e o Magro fazendo sexo não tenha ocorrido nem à mente mais suja ou mais puritana. Ou talvez se concedesse a uma dupla humorística, cujo fato de ser inseparável fazia parte da sua graça, uma licença que outros casais da tela não tinham.

O curioso é que justamente nessa fase em que o puritanismo reinou, alerta contra qualquer alusão sexual, por menos explícita que fosse, ninguém prestava atenção, por exemplo, no estranho relacionamento do Batman com o Robin.

Nunca se soube se os dois dormiam juntos, mas essa seria uma especulação natural numa época tão fixada em sexo e seus subterfúgios.

Mas só se começou a fazer este tipo de interpretação — o Zorro e o Tonto representando o colonialismo branco e a submissão do índio, mas certamente dormindo agarradinhos no frio das planícies — tempos depois, quando o ridículo código já tinha acabado, e as camas de casal podiam ser ocupadas por três ou quatro de sexos diferentes.

Mas entende-se. O puritanismo é uma espécie de inocência. Concentra-se tanto no rabo do vizinho que não vê mais nada.

O Almedinha é categórico: crime é Crime!

Por Matheus Pichonelli

A cruzada de Almeidinha pelo direito hetero

Almeidinha entrou no Twitter e está encantado com a capacidade de Danilo Gentili (seu humorista-filósofo-apresentador-ator-escritor favorito) fazer pensar com humor leve, seco e de forma instigante.algu


O Almeidinha não tem "nada contra, mas…"

Ontem, ao ler que, no Brasil, um gay era assassinato a cada 26 horas, Almeidinha ficou curioso e correu ao Google para digitar as seguintes tags: "pessoas" + "assassinadas" + "por hora" + "Brasil".

Bingo.

Ele acabara de descobrir que, no Brasil, seis pessoas são assassinadas por hora. Concluiu assim que pessoas "comuns", caso dele, eram muito mais vulneráveis à barbárie do que a comunidade gay.

Os motivos eram óbvios. Ele, que é machão, não pode sair às ruas com bandeiras de orgulho "hetero" nem fazer passeata em nome da sua comunidade. Pelo contrário, se fizer piada sobre gays, quem vai preso é ele. O Almeidinha pensa que privilégio tem lado, cor e orientação sexual.

Cansado de ser chamado de "ogro" pela cunhada que largou o marido para dividir o apartamento com a amiga ("aí tem", diz ele todo santo dia), Almeidinha usou a prova dos nove colhida no Google para "denunciar" que hoje, no Brasil, é mais negócio ser gay do que "hetero". A diferença, diz, é que uns são mais barulhentos e outros, discretos.

Mas teve dificuldade para juntar tanta informação numa caixa de apenas 140 caracteres. Pensou, cortou palavras, calculou mil abreviações. Quando estava desistindo, foi resgatado pelo ídolo piadista, que acabara de chegar à mesma conclusão e usava a rede social para pedir a algum voluntário a gentileza de sodomizá-lo para se proteger da violência estatística. "Só por segurança", frisou.

Almeidinha riu. Mas riu demais. Ele riu tanto que até caiu da cadeira.

Chegou a engasgar com a piada-verdade-denúncia e chegou à conclusão que só um retweet não bastava (foram 1.105 ao longo do dia) para expor a verdade. Era preciso dizer o quanto o humorista-filósofo-apresentador-ator-escritor encarnava, em 140 caracteres, a genialidade pura do brasileiro sem preconceito, aberto a novas ideias, e disposto a fazer pensar por meio da piada.

Almeidinha retwitou o Gentili.

Fez loas ao ídolo.

E esperou.

Não deu um minuto e a patrulha politicamente correta, armada pela cunhada, emendou o primeiro petardo. "Larga de ser bronco: as pessoas, nestes casos, não morrem por serem quem elas são, mas por diversos fatores. 'Crime de ódio' é outro campo". E mais: "as pessoas não vão te assaltar por você ser hetero ou gay, mas porque tem algo a ser roubado. Mas gays morrem 'SÓ' por serem gays". E outro: "O hetero não está livre da violência, mas ela não será movida por sua forma de andar, falar, se relacionar. A discriminação mata. ENTENDE?".

E por fim recebeu no rosto o desenho de um cartunista que ele só conhece por se vestir como mulher. Algo como: "Hetero é considerado insulto? Hetero é ridicularizado por ser hetero? Então não venha dizer que 'crime é crime' porque 'não dá no mesmo'".

Era tanta arroba e tanta palavra difícil ("fatores", "campo", "crimes de ódio", "discriminação"…) que o Almeidinha não demorou a perceber por que intelectuais tinham dificuldades em matemática. Para ele era tudo "papo de intelectual" que cria conceitos para esconder a verdade – e a verdade era matemática como dois e dois: mais "heteros" morrem (ele diz "gente comum"), mais perigo para "heteros". Era a matemática do mimimi contra o chamado "politicamente incorreto": meia dúzia de queixas e apoio à censura contra milhares de retweets de quem superou preconceitos com leveza, humor inteligente, liberdade de expressão e lâmpadas fosforescentes.

A mesma leveza devia valer para todos, pensou ele, e quem fica de mimimi manifesta um preconceito contra ele mesmo. Se fossem discretos, se se respeitassem para serem respeitados e não fizessem questão de dar "amassos" e andar de mãos dadas pelas ruas, não haveria tanto crime de ódio, pensa ele – agora sem coragem de expor. Para não deixar barato, pensa que a "feminista lésbica" da cunhada não entenderia se respondesse com ironia. Volta ao Google e procura alguma frase-pronta com as palavras "tratar" + "iguais" + "os desiguais". E começa a cavar a trincheira em 140 caracteres: "Olha, não tenho nada contra gays, até tenho amigo gays, mas…"

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-cruzada-de-almeidinha-pelo-direito-hetero/

O pai da bomba atômica russa

Os historiadores batizaram-no "pai" da bomba atômica, Lavrenti Beria o menciona  em seus apontamentos simplesmente pelo nome – Igor, os colegas e os discípulos chamavam-no cordialmente pelas costas de "o Barba". Tudo isso é Igor Kurchatov, grande cientista russo e fundador do projeto atômico soviético.

Os peritos e cientistas, incluindo os que o conheciam pessoalmente, participam no dia do seu centésimo décimo aniversário à Voz da Rússia as suas recordações de Kurchatov.

Depois da fim da Segunda Guerra Mundial o mundo viu-se à beira de uma nova catástrofe – os aliados de ontem da União Soviética na luta contra o nazismo, que agora possuíam a bomba atômica, acalentavam seriamente planos de ataque nuclear contra a União Soviética. Moscou tinha uma única solução – criar, custasse o que custar, uma arma idêntica, diz o doutor em ciências históricas Alexander Sagomonian.

"Stalin e a direção soviética compreendiam perfeitamente que o país enfrentava um perigo tremendo e que para evitá-lo era preciso criar o mais rápido possível a bomba atômica. E esta missão passou a ser a principal na política interna da União Soviética. Foi precisamente naquela altura que Stalin escolheu Kurchatov na qualidade de dirigente científico do projeto atômico. Foi um trabalho grande – era preciso em apenas quatro anos liquidar o monopólio atômico dos EUA.

Todavia, o trabalho foi feito a tempo. E um dos componentes do êxito foram as aptidões científicas e organizadoras de Igor Kurchatov, disse o acadêmico Evgueni Velikhov, presidente do Centro Nacional de Pesquisas Instituto de Kurchatov.

"Ele era, como se diz, um "físico de verdade". A partir de 1943, quando foi nomeado dirigente do projeto nuclear da União Soviética, deu provas de que era organizador magnífico, conseguiu incorporar no projeto os maiores conjuntos científicos e criou uma escola. Foi Kurchatov quem lançou as bases da defesa da Rússia, em que hoje se baseiam todos os seus componentes – os submarinos atômicos, navios e quebra-gelos atômicos.

Tudo isso foi uma obra grandiosa – mas nesta obra ele sempre procedeu com o máximo de humanismo, manteve contato pessoal com quase todos os participantes, e fazia isso pessoalmente, independentemente da graduação ou posto de cada um. Quando era preciso, podia falar com Beria e com um simples assistente de pesquisa. Naquela época difícil ele criou no ramo, que estava sob a sua direção, um ambiente que permitiu à Rússia tornar-se hoje uma das maiores potências científicas do mundo."

É difícil de resolver agora, quem deu contribuição maior para o nascimento do programa atômico da União Soviética – Kurchatov-cientista ou Kurchatov-organizador, mas o seu instrumento mais poderoso no trabalho com as pessoas sempre foram as suas qualidades humanas, opina o historiador Serguei Smirnov, mestre em ciências físicas e matemática.

"Kurchatov não era gênio mas sabia "cultivar" gênios e comandar gênios. Isto é muito difícil. Ele conseguiu preservar até o fim dos seus dias o talento de fazer amizade. O número dos seus subalternos que o encaravam sinceramente como amigo era anormalmente alto. Jamais ouvi alguma pessoa, que trabalhasse sob a direção de Kurchatov, recordar dele com hostilidade."

Mas apesar de ser eminente cientista, Igor Kurchatov não era alheio ao sentimento de humor. O seu famoso apelido, "o Barba", nasceu por causa de uma decisão incomum do grande físico, diz o perito militar Ilya Kramnik.

"Uma lenda reza que inicialmente Kurchatov deixou crescer a barba durante a guerra "até a vitória sobre o fascismo", depois continuou a usá-la já depois da guerra – até a realização bem sucedida do projeto nuclear, e uma vez que o projeto se desenvolvia e não queria de forma alguma terminar, aliás, nem podia terminar, continuou a usar a barba durante todo este tempo."

Infelizmente, Igor Kurchatov faleceu muito cedo, com 57 anos. Mas a memória dele não morreu. Agora várias cidades, avenidas, ruas, institutos e escolas têm o nome de Kurchatov. Existe, inclusive, um objeto cósmico que leva o nome dele – o asteroide Kurchatov.

Em busca do ganha-pão

Maioria dos empreendedores abre empresa por necessidade e não por vocação

De cada 10 pessoas que partiram para montar um negócio próprio, sete pretendiam seguir carreiras convencionais, bem empregadas em companhias privadas ou no setor público. Mas se viram impelidas a criar empresas pelo desemprego, para melhorar a renda ou para ascender socialmente. É o que mostra pesquisa concluída no mês passado pela PUC Minas com 100 empreendedores da indústria de BH. O estudo revela que 98% dos empreendimentos são pequenos, com menos de 99 empregados. E que entre os entrevistados originários de classes sociais mais baixas, 100% elevaram o padrão de vida. 

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