Mulheres e nanquim

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Este era para ser um texto sobre o desenhista Paolo Eleuteri Serpieri, mas não vai dar. Não vai dar porque, entre o tema e a realidade, entre o mote e a inspiração, nesse caso, está algo mais. Algo, digamos assim, intrometido. O que seria?
Bom, para esclarecer o assunto, proponho que brinquemos de charada com poeta Carlos Drummond de Andrade. Vamos lá.
O que é o que é: é engraçada, está sempre sorrindo, nunca é trágica?
Não importa o que vai pela frente, ela se basta.

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São duas luas gêmeas, em rotundo meneio.

O jeitinho brasileiro tem seu lado bom

Para autores e estrangeiros, o jeitinho é uma ferramenta que pode ser usada a favor da criatividade e informalidade

Ter receptividade com estranhos, pensar em novas soluções para todos os tipos de problemas e até ceder um lugar na fila, por exemplo, formam o lado bom - original e ainda não compreendido - do jeitinho brasileiro. A declaração é de Fernanda Carlos Borges, autora do livro "A Filosofia do Jeito" (Summus Editorial), que reconhece no famoso “jeitinho” uma resistência brasileira aos valores da impessoalidade e formalidade. “Enquanto o mundo trata com indivíduos, o Brasil escolheu tratar com pessoas”, avalia a filósofa.





Enquanto o mundo trata com indivíduos, o Brasil escolheu tratar com pessoas
No lugar-comum, o jeitinho está ligado ao ato de se levar vantagem em tudo e, por conseguinte, associado à corrupção. Mas, segundo Fernanda, por outro lado, com ele os brasileiros mantêm viva a possibilidade de ir além da norma e assim são capazes de encontrar soluções novas para situações imprevistas. “Percebemos que essa é uma capacidade de manter a razão, o pensamento e a criatividade vivos, atuantes”, explicou em entrevista ao Delas. Tais características do jeitinho deveriam ser reconhecidas, educadas e estimuladas.
O historiador Sérgio Buarque de Holanda publicou em 1936, em "Raízes do Brasil", o perfil do "homem cordial" e sua informalidade descompromissada com a ética. Essa visão negativa sobre o que mais se aproximava do jeitinho brasileiro foi rebatida por Oswald de Andrade, por exemplo. "Na ética da nossa cultura popular não nos submetemos à ideia de democracia entre iguais. Estamos assentados na ideia da democracia entre diferentes", explica Fernanda sobre a visão de Andrade.
Já o lado positivo do jeitinho foi explorado pela antropóloga Lívia Barbosa em "O Jeitinho Brasileiro" (Ed. Campus). Para a autora, ele surgiu como uma nova identidade cultural no País, a partir de 1930, e só apareceria nos meios de comunicação mais de dez anos depois. E foi resumido assim: “Pois nada é mais importante para a sociedade brasileira moderna, individualista, industrial, do que temperar toda a impessoalidade do mundo político, econômico e empresarial com uma boa dose de intimidade.”


Vera Moutinho
Alexandra Coelho durante visita a São Paulo

“Brasileiros dão jeitinho, coisas acontecem”
Para Fernanda Borges, com a massiva presença de estrangeiros no Brasil, a Copa do Mundo surge como uma oportunidade de exportação do melhor aspecto dos brasileiros e o seu jeito. E a experiência da jornalista portuguesa Alexandra Padro Coelho confirma isso. Após 18 dias viajando entre os Estados de São Paulo, Mato Grosso e Pará, Alexandra e os colegas do sitePúblico viram seus problemas resolvidos após ouvirem de brasileiros a frase mágica: “Daremos um jeitinho, espera aí”.


Para a jornalista é interessante analisar ambiguidade da expressão, muitas vezes negativada pelos próprios brasileiros. Ela cita ainda uma comparação com os portugueses, que não são prontamente otimistas diante de um favor ou desafio. “Em Portugal é muito comum escutar que tudo vai ser difícil, quase impossível. Os brasileiros que conheci deram um jeitinho e as coisas aconteceram. A vontade de ajudar é incrível”, conclui.A experiência foi tão surpreendente que Alexandra decidiu escrever em seu blog o artigo “O jeitinho brasileiro”, onde narrou suas experiências no País. “Poderia até ter dado outro título. Algo mais para ‘eles dão um jeitinho e as coisas acontecem’. Foi realmente impressionante ver a conectividade entre brasileiros e como todos abrem suas redes de contato para nos ajudar”.


Getty Images
Vizinhos da América do Sul e outros estrangeiros veem criatividade e boa vontade no jeitinho

Práticos, espontâneos e otimistas
Dividindo um escritório em Miami (EUA) com norte-americanos, latinos e europeus, o colombiano Mauricio Garcia Quiñones, de 38 anos, que atua como diretor de logística em uma grande cervejaria, acredita que o jeitinho é responsável pela praticidade brasileira na rotina do trabalho. “Os brasileiros têm o pensamento de que alguns problemas podem ser resolvidos sem o freio da burocracia. É algo simples? Resolvem sem mandar aquele e-mail enorme. Acredito que o nível de agilidade dos brasileiros é similar ao dos norte-americanos”.
Para o mexicano Eduardo Cornejo, de 33 anos, que trabalha com brasileiros nos EUA há quatro anos, é admirável como os seus colegas do Brasil não se deixam influenciar pelo estresse do escritório e são agradáveis ainda na situação de crise. “Alemães, holandeses e franceses podem até ofender com um discurso direto com tom de superioridade, mas nunca passei por um momento difícil com os brasileiros”.
Outros estrangeiros ouvidos pelo Delas, como o economista argentino Diego B., de 30, e o francês Grégoire Delahaye, de 31, citaram a visão otimista sobre o futuro como a principal diferença ao trabalhar com os brasileiros. “O jeitinho faz com que você pense um jeito para remediar situações aparentemente sem solução. A equipe se esforça mais para pensar em outras soluções, que não são as mais óbvias”, comenta Delahaye, que é diretor de vendas de uma empresa francesa em São Paulo.
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O Brasil é o paraíso dos milionários

Pior que uma parcela da população pobre concorda e apoia os ricos, milionários e bilionários pagarem menos impostos ainda. Babacas!

por Fernando Brito no Tijolaço

Todo dia tem alguém reclamando dos altos impostos no Brasil.

E são mesmo, para a classe média e para os pobres.

Mas para os muito ricos, ah, é o paraíso.

Mas, de tanto a nossa mídia repetir,  passamos a acreditar que o imposto é alto para todo mundo.

impostos

Não adianta muito, porque tem gente tão fanatizada pelo discurso direitista que nem a gente desenhando aceita pensar, mas é interessante trazer a tabela aí de cima, publicada pelo site mundial da BBC .

Ela abrange todos os países do G-20 e foi elaborada pela Price Waterhouse Cooper, uma das mais conceituadas empresas de auditoria do mundo.

Ela trata das pessoas que recebem US$ 400 mil por ano, ou R$ 940 mil, por ano.

Em salário mensal, considerado aqui o 13°, dá R$ 72 mil mensais.

O estudo considera ainda que a pessoa seja casada e tenha  uma dívida, dedutível, de R$ 2,8 milhões  e tenha dois filhos menores.

E não ache que ninguém ganha isso.

A última Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar do IBGE apurou que a renda média do 1% dos brasileiros mais ricos é de R$ 18 mil. São dois milhões de pessoas e se imaginarmos que um em cada dez tenha renda igual ou superior à da pesquisa, serão 200 mil felizardos.

Além, é claro, de que para esta casta, os “por fora” – benefícios diversos, participação nos lucros, bonificações, etc – são frequentes e polpudos.

Se você acha que estou exagerando, dê uma  olhada num levantamento mundial da consultoria Robert Walters, que estabelece que os rendimentos anuais de diretores (com 12 anos de experiência ou mais)  de empresas de grande porte, em São Paulo, ou da indústria do petróleo no Rio fica entre  R$ 120 mil e R$ 620 mil, sem contar bônus e benefícios, o que pode dobrar ou triplicar o valor.

Nada mau, não é?

Mas, como diz O Globo, é o salário mínimo que está atrapalhando a economia brasileira e inviabilizando as empresas.

Mais um mascarado


Pena-paga

O conformista inconformado

O surgimento do PT e a vitória de um operário em 2002 e 2006, que fez a sucessora em 2010, causaram um ruído insuportável no escopo biográfico e político de FHC

 por: Saul Leblon

 Resgatar  o legado de Fernando Henrique Cardoso é tido como o  grande trunfo da campanha conservadora em 2014.
O escrutínio eleitoral desse patrimônio, como se sabe, não contabiliza  um saldo favorável.

‘Por acanhamento do próprio tucanato’ --alega o PSDB, que agora estaria disposto a redimir a herança de seu maior quadro.

Nas derrotas presidenciais de 2002, 2006 e 2010 a coalizão conservadora preferiu, ao contrário,  guardar essa carta  na manga do esquecimento.

Havia respaldo nas estatísticas sociais e econômicas, bem como nas enquetes de prestígio popular, à conveniência da decisão.

Talvez tenha chegado a hora de voltar a Fernando Henrique Cardoso, de fato,  não propriamente pelo seu legado presidencial.

Mas pela atualidade que a tensão da história latino-americana  –e brasileira, claro—veio adicionar à coerência do seu percurso intelectual, da sociologia à Presidência da República.

O próprio tucano ensaia esse aggiornamento das linhas estratégicas do projeto conservador, do qual ele se tornou uma referência.

Em artigo recente (‘Diplomacia inerte’), FHC faz a atualização do quadro analítico que desenvolveu como sociólogo, depois adotou como presidente, para responder aos desafios do desenvolvimento na periferia do capitalismo.

“(...) houve um erro estratégico desde o governo Lula na avaliação das forças que predominariam no mundo e da posição do Brasil na ordem internacional”, diz o ex-presidente.

O cabo eleitoral número um do PSDB reafirma o fatalismo implícito no festejado texto de 1967, ‘Dependência e desenvolvimento na América Latina’, escrito com Enzo Falletto, no Chile, quatro anos depois do golpe no Brasil, e publicado em 1973, ano da queda de Allende.

Os dois acontecimentos trágicos pareciam dar razão à analise sociológica sobre a inviabilidade de um modelo de desenvolvimento soberano na região.

O artigo do último domingo reitera essa inexorabilidade diante do que aponta como sendo  ‘as forças que predominariam no mundo’ na última década.

“Nossa diplomacia guiou-se pela convicção de que um novo mundo estava nascendo e levou o presidente (NR Lula), em sua natural busca de protagonismo, a ser o arauto dos novos tempos. Não me refiro ao que eu gostaria que ocorresse, mas às tendências que objetivamente se foram configurando (...)  A convicção implícita era a de que pós-Muro de Berlim, depois de breve período de quase hegemonia dos Estados Unidos, (dos) equívocos da política externa daquele país...assistiríamos a uma correção de rumos. (essa visão)  encontra eco nos sentimentos de boa parte dos brasileiros, inclusive de quem escreve este artigo. Sempre sonhamos com um mundo multipolar (...)  Nisso é que o governo Lula calculou mal.(...)  o Brasil faz reuniões com países árabes (...) abre embaixadas nas mais remotas ilhas,(enquanto) a Petrobras é expropriada pela Bolívia, interfere contra o sentimento popular em Honduras, além de calar diante de manifestações antidemocráticas quando elas ocorrem nos países de influência ‘bolivariana’. Noutros termos: escolhemos parceiros errados, embora, em si mesma a relação Sul/Sul seja desejável, e menosprezamos os atores que estão saindo da crise como principais condutores da agenda global (...)”

 Desguarnecido dos préstimos da toga colérica, que de herói da ética se confessou um delinquente jurídico ao manipular  a dosimetria na AP 470,  o conservadorismo renova  assim o martelete do suposto anacronismo geopolítico dos projetos progressistas.

A dependência é estrutural, dizia FH em 1967; a dependência é virtuosa, adicionaria FH presidente; a dependência é inexorável e o Brasil do PT perdeu seu tempo ao afrontá-la, diz o redimido patrono do PSDB.

O ponto de partida repisado no artigo de domingo encontrou suas bases empíricas em um texto que antecede o  livro de 1967 da dupla FHC/Faletto.

Em 1964, dois meses antes do golpe de Estado,  seria publicada uma pesquisa premonitória, ‘Empresário Industrial e Desenvolvimento Econômico’, coordenada pelo então sociólogo da USP.

Nela,  Fernando Henrique encontraria o fundamento da futura  visão sobre a dependência.

A pesquisa  desnuda o  equivoco de boa parte da esquerda, então, que via na burguesia nacional um aliado dos trabalhadores do campo e da cidade na luta pelo desenvolvimento industrial, contra o imperialismo e o atraso  agrário.

O levantamento coordenado por FHC não apenas desmentia o idílio.

Ele  antecipava a vontade predominante no empresariado industrial brasileiro de se aliar ao capital estrangeiro, ao largo de Jango, dos sindicatos e das reformas de base.

Em síntese, as bases burguesas do projeto nacional e popular eram tão sólidas quanto se revelaria o dispositivo militar de Jango.

O esquematismo importado das sociedades europeias viveu seu teste do pudim dois meses depois de publicado o diagnóstico e deu razão ao sociólogo.

Três anos mais tarde, com Faletto, ele ampliaria essa constatação, dando-lhe o escopo de uma matriz de validade latino-americana.

Focado na realidade efetiva dos interesses das classes dominantes, que opunha o capital às massas populares na disputa pela destinação do excedente econômico na região, ‘Dependência e Desenvolvimento na América Latina’, sinalizava a complementariedade de propósitos entre o capital local e o estrangeiro.

Tal convergência, antes de levar à estagnação pela atrofia do mercado interno, em decorrência do arquivamento das reformas de base, permitiria um padrão de desenvolvimento associado e dependente.

Ao privilegiar os conflitos de interesse no interior da sociedade à margem de idealizações ideológicas, o livro representou um avanço, sem  todavia definir um novo marco histórico.

Faltava-lhe abordar o essencial: a problematização dos conflitos inerentes à endogamia entre o capital local e o internacional  e o seu custo social.

A ausência desse olhar dialético e engajado o levaria a amplificar aquilo que corretamente criticava nos esquematismos de uma parte da esquerda: trocava-se a materialidade da luta de classes por um fatalismo alheio às contradições transformadoras do processo.

Até que ponto seria viável um desenvolvimento que alijava a grande maioria da sociedade das decisões relativas ao seu destino e à destinação do excedente econômico?

A visão de FH, de certa forma, repetia o tropeço dos que viam no desenvolvimento periférico quase que  uma atividade reflexa do centro hegemônico.

A dinâmica interna estaria assim previamente dada; independente da prática política, ela orbitaria como um lubrificante, sem nunca alterar o núcleo duro da engrenagem.

Com a exacerbação da lógica financeira, a partir da desregulação propiciada pelas derrotas da esquerda mundial nos anos 70/80, esse enredo mecanicista ganha a robustez de um sujeito histórico hegemônico.

 Os mercados autorreguláveis, seus agentes racionais e as agencias de risco assumem o rosto genérico de um interlocutor dotado de mando e ubiquidade.

Esse determinismo  inquestionável, sob a ótica conservadora,  daria estofo ao  projeto político do sociólogo que exerceu  a Presidência da República de 1995 a 2002, disposto a  personificar sua teoria.

E assim o fez.

A saber: com as privatizações, o desmonte do Estado (‘sepultar a Era Vargas’) , o descompromisso  estatal com as grandes obras de infraestrutura, a renúncia a uma política industrial, a redução do Itamaraty a um anexo do Departamento de Estado norte-americano, a desmoralização do planejamento econômico,  a terceirização do interesse público a agentes privados, a corrosão do poder aquisitivo dos trabalhadores, a desqualificação dos sindicatos e das organizações sociais, o sopão à pobreza (cuja sorte seria entregue à transição demográfica), a derrisão de tudo o que remetesse ao interesse público e, finamente, o deslumbramento constrangedor de um cosmopolitismo provinciano, festejado no Presidente que falava ‘línguas’ e era bajulado no exterior pelo bom comportamento.

Aquilo que em princípio era só  uma constatação  histórica, que desmentia o flerte da elite local com a agenda do desenvolvimento soberano,  transformar-se-ia na determinação política de fazer da servidão uma virtude.

O surgimento do PT e a vitória desconcertante do líder operário em 2002 e 2006 –que fez  a sucessora em 2010--  introduziu um ruído insuportável no escopo desse conformismo estratégico com a sorte do país e de sua gente.

Para revalidar a teoria  –e os interesses aos quais ela consagra uma dominância irreversível, era preciso desqualificar a heresia de forma exemplar.

Não apenas  derrotá-la nas urnas.

Quando a realidade teima,  a redenção requer o açoite inapelável da moral.

E parecia que Joaquim Barbosa seria o anjo negro de origem humilde, desfrutável em mais de um sentido, capaz de executar a purga saneadora  da história maculada pelo ‘voluntarismo petista’, como espicaçou FH em outro artigo (‘Estadão’, 03-03-2014).

Não foi assim que se deu.

O artigo deste domingo retoma então os marcos analíticos de uma biografia em rota de colisão com a realidade e exorta o país a aceitar o seu confinamento no tabuleiro geopolítico que os vencedores manejam à revelia das ilusões multipolares.

Como em 1967, não se cogita discutir os requisitos para disputar a hegemonia do processo.

Não há atores e interesses capacitados a operar essa difícil disputa, sugere o ex-presidente.

Nem no Brasil, nem em outras latitudes da  América Latina, onde hereges  verão  igualmente  fracassar  uma agenda social desprovida de sustentação econômica e inserção mundial.

A demonização das experiências venezuelana, boliviana e argentina faz parte desse tour de force  que transforma o noticiário internacional em uma extensão da guerra interna contra a ingerência do Estado e da democracia nas diretrizes do desenvolvimento.

FHC e assemelhados tem razão ao apontar a espiral de desequilíbrios introduzida na matriz econômica brasileira desde 2003.

De fato, mais de 50 milhões de novos consumidores aportaram no mercado em apenas dez anos; 17 milhões de empregos foram criados no período; o salário mínimo registrou um aumento real superior  a 60%.

O conjunto não apenas invadiu o mercado, mas a teoria de 1967 e com ela asfixiou o espaço politico e eleitoral d conservadorismo.

Um novo protagonista histórico, imprevisto e improvável na mecânica fatalista da dependência conservadora exige seu espaço na democracia depois de tê-lo conquistado no mercado:  o consumo das famílias brasileiras cresce ininterruptamente há 120 meses; tempo suficiente para uma geração nascer, crescer e completar dez anos.

Como devolver essa pasta de dente ao tubo estreito da dependência se a disputa se acirrou com demandas crescentes por infraestrutura, serviços de qualidade, habitação, participação, segurança, lazer etc?

O conformismo de 1967  esgotou o prazo de validade e com ele a pertinência da agenda conservadora abrigada no PSDB e assemelhados?

Não, sugere FHC, se o caos urbano --e o constrangimento externo decorrentes de desequilíbrios na capacidade de pagar importações crescentes-- fizer regredir os avanços da última década. 

Não se o torniquete financeiro internacional  –ancorado nas agencias de risco e na potencial fuga de capitais--  tanger a pasta  com a  chibata dos juros altos, o estalo do arrocho fiscal, a volta do desemprego e reversão dos ganhos salariais.

A hora do acerto de contas chegou, brada o conservadorismo latino-americano de olho na reversão do ciclo mundial de liquidez que, de fato, restringe a   margem de manobra progressista para mitigar a disputa pelo excedente.

É um pedaço da verdade. Mas a exemplo do que constatou o livro de 1967, não é toda a verdade.

O Brasil  dispõe dos requisitos objetivos para um salto industrializante que irradie a produtividade necessária aos novos avanços em direção à cidadania plena de sua gente.

A saber: 

1) as empresas instaladas no país dispõem de uma massa de capital monetário suficiente,  hoje alocado na roleta rentista (que inclui a dívida pública; e em repouso em paraísos fiscais, onde Brasil figura como o 4º país com maior volume de depósitos: US$ 520 bi, ou mais de R$ 1 trilhão, segundo a organização inglesa "Tax Justice Network);

 2) o mercado de massa brasileiro forma hoje, sozinho, o 16º maior país do mundo em movimento econômico;

3) a economia dispõe de sólidas bases de recursos naturais, incluindo-se o impulso industrializante inerente à exploração das maiores reservas de petróleo descobertas no planeta neste século. 

Falta a amarração política desses ingredientes, processo que guarda semelhança com a disputa de um gigantesco jogo de truco estratégico.

A iniciativa privada mantém o pé no freio do investimento e a emissão conservadora  exaspera a guerra de expectativas para desencorajar o capital privado a  apostar no país.

Derrotado o ‘lulopetismo’, o lucro será maior, sugere-se.

Quem pode induzir a  gigantesca escala de investimentos e o salto tecnológico que os oligopólios globais e seus associados locais – assim convertidos, como previa FHC em 1967--  se recusam a deflagrar?

Para escapar ao fatalismo conservador, e à  hipertrofia autoritária do Estado verificada  na ditadura, só existe um caminho:  encarar o fortalecimento da democracia participativa como um requisito indispensável à reordenação do desenvolvimento brasileiro.

Entenda-se por isso a criação dos instrumentos que forem necessários à ampla repactuação de metas e prazos  que tornem críveis as linhas de passagem entre as urgências da sociedade  e as possibilidades efetivas do crescimento.

Antes  que a crispação conservadora resulte em um endosso ao fatalismo embutido em ‘Dependência e Desenvolvimento na América Latina’, será preciso escrever na prática uma outra referência histórica que liberte a democracia da passividade a que foi condenada no arcabouço conservador.

 ‘Democracia Social e Desenvolvimento na América Latina’ é um bom título para esse novo período à espera do seu autor coletivo.

http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/O-conformista-inconformado/30397

Cantanhêde e Sheherazade: verso e reverso da insensatez, do preconceito e da fanfarronice

Quando vejo e leio informações sobre o que pensaram(?) e disseram as senhoras jornalistas Eliane Cantanhêde e Rachel Sheherazade não fico abismado e muito menos surpreso. Apenas me pergunto o porquê de um site de política tão importante como o Brasil 247 dá tanta atenção ao que afirmam duas jornalistas sem qualquer noção de civilidade e solidariedade, que vomitam seus preconceitos e perversidades, porque são simplesmente favoráveis ao fim do projeto de País do PT, partido trabalhista que apostou no crescimento do Brasil, por intermédio de pesados investimentos em programas sociais e infraestrutura. Porque, se alguém parar e pensar com clareza e de forma pontual vai perceber, quase que instantaneamente, que pessoas elitistas, preconceituosas e intolerantes como essas duas meninas já com certa idade não têm a importância política e jornalística que pensam ter e muito menos influenciam no que é relativo ao caminho que a maioria do povo brasileiro escolheu para trilhar, que se resume na busca, intermitente, do seu desenvolvimento social e econômico e da continuação de um programa de Governo apresentado há quase 12 anos à população brasileira, que hoje parte dela se mostra insatisfeita, porque teve acesso a muitas coisas até então “proibidas” e, como gostou das novas experiências, agora quer ter mais. Querer mais e reivindicar pacificamente ou violentamente, como ocorreram com as manifestações “pacíficas”, “apartidárias” e “apolíticas”, que somente a imprensa mentirosa e de negócios privados viu e ainda vê por conveniência política, ao tempo que teve que cobrir os protestos de helicóptero, porque, do contrário, apanhava nas ruas, não significa que a maioria dos brasileiros quer mudanças políticas e partidárias, como, por exemplo, colocar novamente na cadeira da Presidência da República um tucano neoliberal e que, conforme os anteriores, não tem compromisso com o povo brasileiro e, sim, com os privilegiados inquilinos da escravagista casa grande.  A verdade é que o povo pobre, os trabalhadores, a classe média que recentemente melhorou de vida sabe o que quer. Esses grupos ascenderam socialmente e passaram a ter acesso ao consumo, sendo que muitos de seus filhos ingressaram nas escolas técnicas, nas universidades públicas e, consequentemente, conquistaram melhores empregos e passaram a receber salários mais dignos, bem como perceberam que o direito de comprar, de frequentar restaurantes e shoppings, além de ocupar os saguões dos aeroportos, espaços historicamente ocupados pela burguesia, transformou-se em parte de sua rotina. Os burgueses e os pequenos burgueses que se revoltam, babam de ódio e demonstram desavergonhadamente todo o preconceito e o desprezo adquiridos durante a vida e herdados de seus ancestrais, como nos casos de Sheherazade e Cantanhêde, a primeira imbecilmente a clamar pela volta dos militares e a apoiar a Marcha da Família, prevista para ser realizada em março em São Paulo (sempre São Paulo); e a segunda, depois de fazer um passeio de madame coxinha no exterior, desembarca em aeroporto e lamenta, mais do que as obras e as reformas, a aglomeração de pessoas, a maioria de classe média e média baixa, fato este que, certamente, causa urticária, danos psicológicos e muita raiva até se transformar em ira à madame, pessoa que se acha fidalga e com trejeitos nobiliárquicos. Durma-se com um barulho desses. Cantanhêde é a Danuza Leão que não suporta ver porteiro em Nova Iorque. E a Sheherazade é a perversa elite branca do Nordeste e que vem para o “Sul Maravilha”, a convite do magnata bilionário Sílvio Santos, dar uma de paladina da moral e dos bons costumes, só que, sem entrar no mérito, comporta-se como uma cangaceira, a fomentar discórdia e a aplaudir até linchamento de ladrãozinho como ocorreu no episódio do garoto que foi preso a um poste por uma trava de segurança de automóvel. São, realmente, duas pessoas sem discernimento sobre o que acontece e o que já aconteceu no Brasil, a exemplo do golpe de 1964 e até mesmo da escravidão, como lembrou o triste e lúgubre episódio do rapaz preso ao poste. É incrível e por isso surreal que duas pessoas que tiveram todas as oportunidades para vencer na vida tenham mentalidades tão obtusas, baseadas em pseudos teorias de uma pretensa superioridade de classe, como se o mundo pertencesse apenas a algumas pessoas que se autoproclamam donos das razões e de todo dinheiro que se tem para ganhar em qualquer mercado, atividade, segmento e profissão. Em contraponto a essa farsa ou fraude que são os valores e princípios preconcebidos por gente perversa e dada à estratificação da sociedade em castas sociais, surge com força um Brasil disposto a valorizar o trabalho e a distribuir renda e riqueza ao rejeitar a antiga trapaça de que é preciso fazer crescer o bolo para depois dividi-lo. Nada disso. O Brasil cresceu economicamente e socialmente, de forma exponencial, e essa realidade foi como um soco na ponta do queixo da direita brasileira herdeira da escravidão e acostumada a dominar o poder e a ter a imprensa alienígena como porta-voz de seus interesses, que geralmente não coadunam com os do País de ser totalmente independente e com um povo definitivamente emancipado. Eliane Cantanhêde e Rachel Sheherazade são apenas marionetes replicantes de uma “elite” decadente e que quer a volta de um sistema econômico neoliberal e voltado a apenas a atender os ricos deste País e do exterior. Lutam para que o Brasil volte a ser de poucos, como se fosse um clube VIP para a burguesia se locupletar e se divertir enquanto o restante maior da população fique a ver navios e a mendigar para ter um simples emprego, como ocorreu no (des)governo de FHC — o Neoliberal I —, aquele que foi ao FMI três vezes, de joelhos e com o pires nas mãos, porque o Brasil quebrou três vezes. Quando resolvo ler alguma coisa, geralmente não muito realista e inteligente de Cantanhêde, ou ouvir, o que é muito raro, o palavreado desconexo e desconcatenado de Sheherazade, custo acreditar que essas pessoas utilizem meios de comunicação de concessão pública e fiquem a propagar a desestabilização do sistema democrático, a convocar marchas golpistas e a aprovar, por exemplo, os quebra-quebras ocorridos neste País e que culminaram com a morte do cinegrafista da Rede Band. Eliane Cantanhêde e Rachel Sheherazade são o verso e o reverso da insensatez, do preconceito e da fanfarronice.  A importância jornalística e a influência política das jornalistas é nenhuma. Apenas são provocadoras e contam com as controvérsias e os antagonismos para criarem crises e confusões artificiais, em nome do establishment e de seus patrões. É isso aí.  

Davis Sena Filho

 http://davissenafilho.blogspot.com.br/2014/03/cantanhede-e-sheherazade-verso-e.html

Cantanhêde e Sheherazade: verso e reverso da insensatez, do preconceito e da fanfarronice

Quando vejo e leio informações sobre o que pensaram(?) e disseram as senhoras jornalistas Eliane Cantanhêde e Rachel Sheherazade não fico abismado e muito menos surpreso. Apenas me pergunto o porquê de um site de política tão importante como o Brasil 247 dá tanta atenção ao que afirmam duas jornalistas sem qualquer noção de civilidade e solidariedade, que vomitam seus preconceitos e perversidades, porque são simplesmente favoráveis ao fim do projeto de País do PT, partido trabalhista que apostou no crescimento do Brasil, por intermédio de pesados investimentos em programas sociais e infraestrutura. Porque, se alguém parar e pensar com clareza e de forma pontual vai perceber, quase que instantaneamente, que pessoas elitistas, preconceituosas e intolerantes como essas duas meninas já com certa idade não têm a importância política e jornalística que pensam ter e muito menos influenciam no que é relativo ao caminho que a maioria do povo brasileiro escolheu para trilhar, que se resume na busca, intermitente, do seu desenvolvimento social e econômico e da continuação de um programa de Governo apresentado há quase 12 anos à população brasileira, que hoje parte dela se mostra insatisfeita, porque teve acesso a muitas coisas até então “proibidas” e, como gostou das novas experiências, agora quer ter mais. Querer mais e reivindicar pacificamente ou violentamente, como ocorreram com as manifestações “pacíficas”, “apartidárias” e “apolíticas”, que somente a imprensa mentirosa e de negócios privados viu e ainda vê por conveniência política, ao tempo que teve que cobrir os protestos de helicóptero, porque, do contrário, apanhava nas ruas, não significa que a maioria dos brasileiros quer mudanças políticas e partidárias, como, por exemplo, colocar novamente na cadeira da Presidência da República um tucano neoliberal e que, conforme os anteriores, não tem compromisso com o povo brasileiro e, sim, com os privilegiados inquilinos da escravagista casa grande.  A verdade é que o povo pobre, os trabalhadores, a classe média que recentemente melhorou de vida sabe o que quer. Esses grupos ascenderam socialmente e passaram a ter acesso ao consumo, sendo que muitos de seus filhos ingressaram nas escolas técnicas, nas universidades públicas e, consequentemente, conquistaram melhores empregos e passaram a receber salários mais dignos, bem como perceberam que o direito de comprar, de frequentar restaurantes e shoppings, além de ocupar os saguões dos aeroportos, espaços historicamente ocupados pela burguesia, transformou-se em parte de sua rotina. Os burgueses e os pequenos burgueses que se revoltam, babam de ódio e demonstram desavergonhadamente todo o preconceito e o desprezo adquiridos durante a vida e herdados de seus ancestrais, como nos casos de Sheherazade e Cantanhêde, a primeira imbecilmente a clamar pela volta dos militares e a apoiar a Marcha da Família, prevista para ser realizada em março em São Paulo (sempre São Paulo); e a segunda, depois de fazer um passeio de madame coxinha no exterior, desembarca em aeroporto e lamenta, mais do que as obras e as reformas, a aglomeração de pessoas, a maioria de classe média e média baixa, fato este que, certamente, causa urticária, danos psicológicos e muita raiva até se transformar em ira à madame, pessoa que se acha fidalga e com trejeitos nobiliárquicos. Durma-se com um barulho desses. Cantanhêde é a Danuza Leão que não suporta ver porteiro em Nova Iorque. E a Sheherazade é a perversa elite branca do Nordeste e que vem para o “Sul Maravilha”, a convite do magnata bilionário Sílvio Santos, dar uma de paladina da moral e dos bons costumes, só que, sem entrar no mérito, comporta-se como uma cangaceira, a fomentar discórdia e a aplaudir até linchamento de ladrãozinho como ocorreu no episódio do garoto que foi preso a um poste por uma trava de segurança de automóvel. São, realmente, duas pessoas sem discernimento sobre o que acontece e o que já aconteceu no Brasil, a exemplo do golpe de 1964 e até mesmo da escravidão, como lembrou o triste e lúgubre episódio do rapaz preso ao poste. É incrível e por isso surreal que duas pessoas que tiveram todas as oportunidades para vencer na vida tenham mentalidades tão obtusas, baseadas em pseudos teorias de uma pretensa superioridade de classe, como se o mundo pertencesse apenas a algumas pessoas que se autoproclamam donos das razões e de todo dinheiro que se tem para ganhar em qualquer mercado, atividade, segmento e profissão. Em contraponto a essa farsa ou fraude que são os valores e princípios preconcebidos por gente perversa e dada à estratificação da sociedade em castas sociais, surge com força um Brasil disposto a valorizar o trabalho e a distribuir renda e riqueza ao rejeitar a antiga trapaça de que é preciso fazer crescer o bolo para depois dividi-lo. Nada disso. O Brasil cresceu economicamente e socialmente, de forma exponencial, e essa realidade foi como um soco na ponta do queixo da direita brasileira herdeira da escravidão e acostumada a dominar o poder e a ter a imprensa alienígena como porta-voz de seus interesses, que geralmente não coadunam com os do País de ser totalmente independente e com um povo definitivamente emancipado. Eliane Cantanhêde e Rachel Sheherazade são apenas marionetes replicantes de uma “elite” decadente e que quer a volta de um sistema econômico neoliberal e voltado a apenas a atender os ricos deste País e do exterior. Lutam para que o Brasil volte a ser de poucos, como se fosse um clube VIP para a burguesia se locupletar e se divertir enquanto o restante maior da população fique a ver navios e a mendigar para ter um simples emprego, como ocorreu no (des)governo de FHC — o Neoliberal I —, aquele que foi ao FMI três vezes, de joelhos e com o pires nas mãos, porque o Brasil quebrou três vezes. Quando resolvo ler alguma coisa, geralmente não muito realista e inteligente de Cantanhêde, ou ouvir, o que é muito raro, o palavreado desconexo e desconcatenado de Sheherazade, custo acreditar que essas pessoas utilizem meios de comunicação de concessão pública e fiquem a propagar a desestabilização do sistema democrático, a convocar marchas golpistas e a aprovar, por exemplo, os quebra-quebras ocorridos neste País e que culminaram com a morte do cinegrafista da Rede Band. Eliane Cantanhêde e Rachel Sheherazade são o verso e o reverso da insensatez, do preconceito e da fanfarronice.  A importância jornalística e a influência política das jornalistas é nenhuma. Apenas são provocadoras e contam com as controvérsias e os antagonismos para criarem crises e confusões artificiais, em nome do establishment e de seus patrões. É isso aí.  

Davis Sena Filho

 http://davissenafilho.blogspot.com.br/2014/03/cantanhede-e-sheherazade-verso-e.html