A Câmara Federal é comandada por uma "quadrilha legislativa

Ex-presidente Lula durante seminário - Pedro Kirilos / Agência O Globo

SÃO PAULO - Em sua primeira fala pública depois da aprovação do impeachment pela Câmara, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira que a Casa é comandada por uma "quadrilha legislativa". O petista ainda reconheceu falhas do governo e afirmou que o Brasil viverá um "período de muita luta". Com problemas na voz, Lula preparou um discurso que foi lido pelo diretor de seu instituto e ex-ministro Luiz Dulci durante seminário realizado, em São Paulo, pela Aliança Progressista, uma rede de partidos de vários países. A organização informou que o ato reuniu representantes de 20 legendas de 17 países.

- É fato que, além dos impactos da crise internacional sobre a nossa economia, a população do Brasil sofre com falhas do governo, que precisam ser corrigidas - disse.

Apesar do mea culpa, o ex-presidente acusou a oposição de ter trabalhado para aprofundar a crise por não aceitar o resultado da eleição de 2014 e novamente fez críticas à imprensa.

- Uma aliança oportunista, entre as grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa, implantou a agenda do caos no país. O petista atacou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMD-RJ), que, segundo ele, deflagrou o impeachment, porque o PT não aceitou ajudá-lo no conselho de ética da Casa.

- Foi um gesto claro de vingança.

Para Lula, a votação do processo de impeachment na Câmara foi um "espetáculo deprimente".

- Corruptos notórios clamando contra a corrupção, oportunistas exercitando o cinismo e a hipocrisia e alguns até defendendo a tortura e e a ditadura.

O ex-presidente se queixou que Dilma não teve direito de se defender e destacou que poucos parlamentares citaram o crime de responsabilidade, do qual a presidente é acusada.

- Houve um pelotão de fuzilamento comandando pelo que há de mais repugnante no universo da política.

PROTESTO NA PORTA DO HOTEL

Enquanto Dulci lia o discurso, manifestantes pró e contra o impeachment protestaram em frente ao hotel onde acontecia o seminário. Os manifestantes favoráveis ao governo estenderam uma faixa no chão com a frase "Não vai ter golpe". Do outro lado, as pessoas portavam cartazes de apoio ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato. A Polícia Militar esteve presente no local para separar os dois grupos.

Grupos contra e a favor do impeachment da presidente Dilma realizam ato em frente ao Hotel Maksoud Plaza, onde o ex-presidente Lula participa de um debate - Pedro Kirilos / Agência O Globo

Em seguida, Lula, mesmo com o problema na voz, resolveu discursar. Aos representantes de partidos estrangeiros, prometeu resistência:

- Aqui no Brasil vai ter muita luta. Esperem que viveremos momentos de muito combate democrático.

Na avaliação do petista, o impeachment em curso é mais grave do que a derrubada do presidente João Goulart pelos militares, em 1964.

- Tirar a Dilma do que jeito que eles querem é o maior ato de ilegalidade feito desde a revolução de 1964, do golpe militar. No golpe militar, eles tinham alguns argumentos: que o presidente era comunista, que o presidente tinha proposto a reforma agrária e que o comunismo estava avançando no Brasil.

Ainda para Lula, a bandeira de combate a corrupção já foi usada por Hitler e Mussolini.

- O argumento é sempre o mesmo: acabar com a corrupção. Numa crítica indireta à Lava-Jato, o petista citou a Operação Mãos Limpas, dos anos 1990 na Itália.

- O resultado da moralização na Itália foi a eleição de (Silvio) Berlusconi.

Em outra referência indireta, o ex-presidente falou de políticos que foram exilados e hoje defendem o impeachment. Fazem parte desse grupo os tucanos Fernando Henrique Cardoso e José Serra.

- Alguns que querem dar o golpe foram vítimas, foram exilados. Foram morar no exterior e quando voltaram, eu pensava que tinham consolidado a alma democrática. Sou frustrado que eles estão pensando exatamente aquilo que os seu algozes pensavam há 30 ou 40 anos.

SEM TRÉGUA

Também presente no seminário, o presidente do PT, Rui Falcão, focou sua fala nos ataques ao vice-presidente Michel Temer. Ele voltou a afirmar que um eventual governo do peemedebista "não terá trégua". O dirigente petista espera contar com "a solidariedade dos democratas de todos os países" para o que ele chama de "atentado à democracia" não se consume.

- Se a oposição de direita insistir na deposição da presidente, reafirmamos que não haverá trégua nem respeito a um governo usurpador, sem o referendo do voto popular e, portanto, ilegítimo e ilegal - disse Falcão.

Ele reforçou a discurso do partido, que entende o impeachment como "golpe" por, segundo ele, não haver crime de responsabilidade contra a presidente:

- Traidor de sua colega de chapa, contra a qual conspira abertamente, Temer já anunciou um programa antipopular, de supressão de direitos civis e sociais, de privatizações e de entrega do patrimônio nacional a grupos estrangeiros.

Mais cedo, Rui Falcão usou sua página em uma rede social para dizer que a militância petista está convocada "para deter o golpe". "A partir de hoje, o processo farsesco chega ao Senado, a quem cabe decidir, por maioria simples, sobre o afastamento da presidenta – sem crime e sem base legal, a não ser a vingança e o desejo de poder a qualquer custo dos conspiradores", escreveu Rui Falcão.

O presidente do PT escreveu ainda que "reação ao golpe precisa ser intensificada, ampliar-se até os locais de trabalho, às escolas, às periferias, às favelas, com atos e manifestações em todas as cidades. A abordagem aos senadores, em seus Estados e no Congresso, é fundamental, mesmo diante da contagem antecipada pela mídia monopolizada. Mais que nunca, é urgente o diálogo da presidenta com os movimentos sociais, com os partidos populares, com a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem medo".

Aparece o Ibope fantasma e os números são muito ruins para direita Golpista

Na coluna de José Roberto de Toledo, do Estadão, os números da pesquisa Ibope que vem sendo cuidadosamente escondida da população.

E que são a prova da inviabilidade política de Michel Temer.

"A pressão popular por uma chegada antecipada é grande: 62% querem eleger um novo presidente já. Pouca gente aprecia as alternativas. Só 25% defendem a permanência de Dilma e meros 8% preferem um governo do vice Michel Temer. O problema para a imensa maioria dos eleitores é que esses 8% concentram-se em Brasília – em especial no Congresso, no Palácio do Jaburu, no Supremo e – a ver – no Tribunal Superior Eleitoral."

Entre quem diz ter votado em Dilma em 2014, as opiniões estão divididas: 45% são pró-continuidade, e 44%, pró-eleição. Entre os que votaram em Aécio Neves (PSDB), três em cada quatro gostariam que Dilma e Temer saíssem, e um novo eleito entrasse: 77%, contra 13% pró-Temer. 

Colocado em ordem direta: embora a maioria não queira nenhum dos dois, há três brasileiros que preferem ter Dilma presidente do que Temer lá.

Não consta da análise de Toledo, mas ontem o jornal O Globo informa que a pesquisa foi parcialmente feita antes do show de horrores do impeachment na Câmara.

O restante da pesquisa, embora na minha opinião irrelevante no momento, mostra, do lado tucano,  Aécio com 11% de intenção de voto; Alckmin com 6% e Serra com 7%.  Considerados os que "só votariam neles", as taxas são de 5%, 1% e 2%, respectivamente.

Não há pesquisa sobre Temer. Generosamente, fica-se com o Datafolha, que lhe dá 2% de intenção de voto.

No Ibope-fantasma, Marina tem 12% e 6%, segundo os mesmos critérios. Já Bolsonaro, 5% e 4%, o que denota solidez que dificilmente perderia. Ciro Gomes fica com 4% e 1%.

E Lula, o maldito?

19% votariam nele com certeza e 14% só mesmo nele.

A pesquisa mostra todos com altos índices de rejeição: entre os 46% de Marina e os 65% de Lula, todos estão no mesmo patamar que diziam, antes, ser o dos candidatos inviáveis, o de 40%.

Só quem fica de fora dele, com 34%, é Bolsonaro.

O que serve, apenas, para mostrar que não dá para considerar mecãnicamente os índices de rejeição, porque hoje ela é a tudo e a todos.

Mas fica claro que quem tem garrafas para vender – como candidato e como articulador – é justamente o cidadão que se dedicam a destruir há quase dois anos.

Lula é o fantasma que os assusta e os faz fugir de eleições.

por Fernando Brito - Tijolaco

Desobediência civil e Legítima defesa

Eu só quero vê a polícia civil, militar, federal ou as forças armadas fazer eu obedecer ou cumprir uma lei ou ordem dada pelos gângsteres:

Eduardo trombadinha Cunha, Michel traíra Temer e Gilmar tucano Mendes.

Tô pagando pra ver.

Dilma venceu

Apenas as antas sem olfato tem certeza que venceram.

Coitados..

Além de tudo vêem o que NBA existe  

O mundo inteiro denuncia o golpe, por Jéferson Miola

A democracia brasileira está ameaçada de um golpe de Estado. O impeachment da Presidente Dilma Rousseff, segundo a imprensa internacional, foi aprovado por "uma assembléia de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha fazendo a destituição de uma Presidente sem qualquer base jurídica nem constitucional".

O impeachment está numa etapa avançada: o Senado Federal deverá decidir, dentro de poucas semanas, se continua ou se arquiva o processo aprovado na "assembléia de bandidos". Caso o Senado prossiga o processo, a Presidente Dilma, que foi eleita para governar o Brasil até 31 de dezembro de 2018, será afastada por até 180 dias até a decisão final. Na prática, porém, praticamente equivale à sua destituição.

Se isso acontecer, em lugar da Presidente eleita com os votos de 54.501.118 brasileiros/as, assume o cargo Michel Temer, um vice-presidente ilegítimo e conspirador, um político sem nenhum voto popular que chefiou a concepção, a preparação e a execução do golpe.

Hoje, concatenando-se os acontecimentos dos últimos 16 meses, é possível reconhecer o papel ativo de Temer na trama golpista. Como presidente do PMDB, ele sempre estimulou a dubiedade do Partido, dividindo-o no apoio ao governo.

Temer traiu a confiança da Presidente Dilma no governo. Ao invés de fazer de verdade a articulação política, sabotou e enfraqueceu o governo, minou a estrutura e os postos-chave com conspiradores e, terminado o serviço que lhe interessava, jogou tudo às favas e saiu dizendo que "o Brasil precisa de alguém [ou seja, ele mesmo] que tenha a capacidade de reunificar a todos" [em 4 de agosto de 2015].

Temer nunca enfrentou o "bandido chamado Eduardo Cunha", como se esperaria de alguém comprometido com a defesa dos interesses do governo e do país ameaçados pelas pautas-bomba do presidente da Câmara. Ao contrário disso, hoje as evidências permitem concluir que ele e Cunha são sócios da empreitada golpista desde o início.

O espetáculo deplorável da "assembléia de bandidos" de 17 de abril de 2016 impactou o mundo, e cristalizou a percepção de que o impeachment aprovado por 367 "bandidos" é uma violência contra a Constituição e o Estado Democrático de Direito.

Como o Brasil ofereceu este espetáculo deplorável ao mundo? Essa pergunta só pode ser respondida se anotado o papel determinante e fundamental da Rede Globo – secundada por outras empresas da mídia – e de setores do Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal.

O mundo inteiro está convencido de que há um golpe em curso no Brasil. Nessa guerra pela verdade, como não contam com uma Rede Globo mundial, os golpistas estão perdendo.

E estão perdendo de goleada: The Economist, Guardian, El país, Le monde, Financial Times, Reuters dizem que é golpe; Wall Street Journal, Washington Post, El País, Le Parisien, Irish Times, New York Times, Pravda, Granma também dizem que é golpe; La Nación, Ladiaria, El observador, Clarín dizem o mesmo; Al Jazeera, Fox News Latina, CNN etc etc dizem o mesmo: é um golpe de Estado.

Apesar da percepção do mundo inteiro de que está em andamento um golpe de Estado, só no Brasil tem um punhado de gente que insiste no contrário: Temer, Cunha, Bolsonaro, Aécio, FHC, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Dias Toffoli, FIESP, Globo e os sócios golpistas.

O sofisma mais recente dos golpistas para sustentar a aparência de "normalidade institucional" é que Temer está substituindo normalmente a Presidente Dilma, que retornará ao cargo depois do retorno da viagem a Nova York para a reunião da ONU sobre clima.

Os golpistas aproveitam esta substituição eventual como fachada para a propaganda e o discurso mentiroso da "normalidade institucional". O epílogo do golpe, todavia, se dará com o seqüestro da cadeira da Dilma ao fim do julgamento de exceção no Senado – que, tudo indica, a Casa será uma sucursal golpista, um puxadinho da "assembléia de bandidos".

impeachment jurídico-midiático-parlamentar é o golpe de novo tipo do século 21, é um golpe diferente daquele clássico que a Globo e a UDN de então – hoje PMDB, PSDB, DEM, PPS, PTB, PP – desferiram em 1964, com a deposição e exílio do Presidente Jango.

No golpe de Estado do século 21 quem executa não são os militares, mas um condomínio integrado pela mídia, judiciário, ministério público e sacramentado por uma "assembléia de bandidos". Nesta nova modalidade golpista, o rito é parte essencial das aparências – mas o mundo inteiro não acredita nesta farsa.

(Também publicado na Carta Maior)

Chocou-se com a cara da Câmara? Culpa sua!

por Josias de Souza

Há uma semana, na votação do impeachment, o pedaço do Brasil que ainda tem noção do ridículo se chocou com o que assistiu. Então a Câmara é isso?!? Foi difícil ouvir as manifestações de voto sem sentir uma espécie de vergonha interior. O desconforto aumentava cada vez que um deputado esbravejava em nome deste ou daquele familiar, de uma cidade ou de um Estado, de uma moral rota ou de uma ética insuspeitada, do torturador morto ou do prefeito que seria preso horas depois… No fundo da consciência da plateia uma voz bradava: "Hipócritas!".

Foi um espetáculo inusual. Só de raro em raro a Casa está tão cheia. Normalmente, as votações são simbólicas, aquelas em que os deputados apenas levantam a mão. Quando é preciso votar nominalmente, usa-se o painel eletrônico. Na sessão do impeachment, todos tiveram seus segundos de microfone. E a coisa degenerou. Tomado pelo número de vezes que foi mencionado, Deus deixou de ser full time. Se o Todo-Poderoso desse mesmo expediente integral certamente teria feito ecoar no plenário, com voz de trovão, o epíteto do Evangelho: "Raça de víboras."

Na visão da megabancada cristã, a Câmara virou um campo escolhido pelo Senhor para manifestar seus desígnios. Os deputados seriam apenas peças movidas por Ele. Mas seria sobrecarregar Deus além da conta forçá-lo a decidir entre a infantaria de Eduardo Cunha e a tropa de Dilma Rousseff? Mais fácil supor que, depois de criar o universo, Ele terceirizou a política ao Diabo.

Muito já se disse e escreveu sobre assunto nos útimos sete dias. Mas você deveria gastar um pedaço deste domingo para fazer uma introspecção. Pode ser após o despertar, barriga colada à pia do banheiro, enquanto espalha o dentifrício pelas cerdas da escova. Levando a experiência a sério, depois de bochechar e lavar o rosto, você enxergará no espelho, no instante em que erguer os olhos para pentear os cabelos, o reflexo de um culpado.

Indo mais fundo no processo de autoexame, você verá materializar-se diante de seus olhos o óbvio: parlamentares não surgem por geração espontânea. Eles nascem do voto. E talvez você levante da mesa do café da manhã convencido de que a crise no sistema representativo exige uma atitude. Um gesto individual e consciente. A crise não admite mais que o eleitor se mantenha exilado no conforto de sua omissão política. Intima-o a retornar à história, para moralizá-la.

O primeiro passo é o abandono da cômoda retórica de que os políticos "são todos iguais''. Não são. A igualdade absoluta é uma impossibilidade genética. Bem verdade que o excesso de roubalheira faz todos os gatunos parecerem pardos. Mas a magia de momentos como esse é a possibilidade de redescobrir uma verdade que dá sentido à democracia: para os eleitos inconscientes, o eleitor impaciente é um santo remédio. Lembre-se: 2018 em aí. Você tem duas opções: ou vota direito ou continua se comportando como um deputado.