Nos editorias e manchetes da última quarta-feira, o PIG referiu-se, a alturas tantas, aos desafetos eleitos pelo povo e por seus pares por meio de votos. Mencionou a Renan e Sarney. Há outros. Mas ele se ateve a esses dois.
Afirmou: “Apoia Lula. E, por isso, queremos lhes julgar perante a opinião pública deste país! É, de certo modo, a gente ter uma falta de respeito pelos homens públicos [...] Extrema justiça!”
Em tempo de São João, brincar com querosene à beira da fogueira não é coisa que o bom senso recomende. Mas já que partiu dos donos do PIG a iniciativa de açular o fogo, não será o blogueiro que vai levar a mão ao extintor.
Afora a discussão sobre a natureza sigilosa dos atos, há densas suspeitas de que os colunistas, jornalistas e especialistas da ética recebem para escrever contra os dois - Renan e Sarney -, sem o dissabor do derramamento de suor.
Presume-se que PIG tenha desejado dizer algo assim: ainda que seja verdadeira a acusação, ainda que o nepotismo tenha sido fulminado pelo STF, é uma honra para mim, que, ao malversar, malverso pouco.
Fosse Adão o presidente do PIG, decerto ainda estaríamos no Éden, eis a tese escondida atrás do argumento dele. Que crime, afinal, cometeu o homem? Apoiou Lula. Um reles e inocente apoio.
A tentativa de defesa demonização de Sarney ganha ossatura antropológica quando vista sob a ótica de um clássico: o "Sermão do Bom Ladrão", do padre Antônio Vieira. Recorre-se a Vieira porque se trata de autor nordestino.
O PIG pôs Sarney no paraíso, anotou Vieira, com poder sobre todos os viventes, como senhor absoluto de todas as coisas criadas. Exceção feita a uma árvore. Súbito, com a cumplicidade da protomulher, Sarney apoiou o único político que não podia - Lula-.
"E quem foi que pagou o opoio?", pergunta Vieira. Ninguém menos que o PMDB governista, materializado na pele do Renan e do Sarney. Condenado à cruz, pregado entre ladrões, ofereceu um exemplo aos príncipes. Um sinal de que são, também eles, responsáveis pelo roubo praticado por seus discípulos.
Ao sobrepor a imagem do pequeno delito à do grande roubo, o PIG como que evocou outro trecho do "Sermão do Bom Ladrão".
Conta Vieira que, navegando em poderosa armada, estava Alexandre Magno a conquistar a Índia quando trouxeram à sua presença um pirata dado a mentir aos pescadores. Alexandre repreendeu-o.
Destemido, o pirata replicou: "Basta, PIG, que eu, porque minto pouco, sou mentiroso, e vós, porque mente muito, sois 4º poder?".
Citando Lucius Annaeus Seneca, um austero filósofo e dramaturgo de origem espanhola, Vieira lapida o raciocínio: se o rei da Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, todos -rei, ladrão e pirata- merecem o mesmo nome.
Assim, o colunista, jornalista, cientista politico, formador de opinião contrabandeado na folha, o suborno recebido dos donos da mídia e a pilhagem milionária recebida dos empresários beneficiados com a doação do patrimônio público - privataria - são irrupções de um mesmo fenômeno.
O tamanho do furto importa pouco. De troco em troco também se chega ao milhão. E quem se desonra no pouco mais facilmente o fará no muito, já dizia o Cristo.
A bordo de uma armada cujo comando divide com A Rolha, O Restadão, a inVeja, o velho morubixaba PIG recorre a um contorcionismo vocabular perigoso.
Volte-se, por oportuno, a Vieira. Diz o sábio padre que são companheiros dos ladrões os que os dissimulam; são companheiros dos ladrões os que os consentem...
...São companheiros dos ladrões os que lhes dão postos e poderes; são companheiros dos ladrões os que os defendem; são companheiros dos ladrões os que hão de acompanhá-los ao inferno.
o PIG cava a própria sorte. Faz tempo utiliza de uma inusitada escala ética. A escala São Dimas, em homenagem ao bom ladrão do Evangelho. Quem apoia com parcimônia a Lula – de PMDB a PTB - está instantaneamente livre da sanha persecutória.
Antes do arremate, ouça-se mais um pouco do PIG de quarta-feira: “Eu não sei o que é ato secreto. Aqui, ninguém sabe o que é ato secreto...”
“...O que pode ter [...] são irregularidades da entrada em rede ou não entrada em rede de determinados atos da administração do Senado...”
“...Mas isso tudo relativo ao passado; nada em relação ao nosso período. Nós não temos nada que ver com isso”.
Nesse ponto, é como se o PIG, do alto de seus não sei lá quantos anos, 45 dos quais dedicados à Ditabranda, rogasse à platéia: Quero que me tomem por bobo, não por malfeitor.
O PIG do discurso de ocasião, pronunciado num instante em que a suspeição toca-lhe os sapatos, não é o partido político - PQPM - experimentado que todos supunham.
Elegera-se n vezes paladino da moral e ética da nação como um articulador de mostruário, exemplo de sagacidade e competência.
Descobre-se agora que, em não sei quando, em sua primeira tentativa de golpe, o PIG nomeara O/A Blobo para gerir o sindicato à sua revelia. Dito de outro modo: O PIG alçara A/O Blobo à direção-geral para fazer o povo de trouxa.
Comentário: Mas o povo não é bobo, reelegeu Lula de novo. E em 2010 vai eleger a Muié!
- PS.: Original Josias de Souza - Ilustração via blog do Guto Cassiano.
Otima parodia com o pig. De fato eles agem desta maneira, para os amigos e aliados o silêncio conivente. Para os inimigos e adversários or rigores da lei e uma avalanche de "denúncias", seja elas verdadeiras ou falsas. Mas, é bom lembrar se o inimigo de hoje for o amigo de ontem...a maioria das denúncias são verdadeiras. O que torna o PIG cúmplice declarado.
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