da Coluna de Paulo Coelho

Sem piscar os olhos
Durante uma guerra civil na Coreia, certo general avançava implacavelmente com suas tropas, tomando província atrás de província, e destruindo tudo o que encontrava a sua frente. O povo de uma cidade, ao saber que o general se aproximava - e tendo ouvido histórias de sua crueldade - fugiu para uma montanha nas cercanias.
As tropas encontraram as casas vazias. Depois de muito vasculhar, descobriram um monge Zen, que havia permanecido no local. O general mandou que ele viesse a sua presença, mas o monge não obedeceu.
Furioso, o general foi até ele:

- Você não deve saber quem eu sou! - esbravejou. - Eu sou aquele capaz de perfurar o seu peito com a minha espada, sem piscar os olhos!
O mestre Zen virou-se e respondeu serenamente:
- O senhor tampouco deve saber quem eu sou. Eu sou aquele capaz de ser perfurado por uma espada, sem piscar os olhos.
Ouvindo isso, o general curvou-se, fez uma reverência, e se retirou.