Dilma é quem tem motivos para reclamar de tratamento desigual, por Paulo Moreira Leite

Queixas da oposição não resistem ao Manchetômetro

Na medida em que Dilma recupera os pontos perdidos após o acidente que matou Eduardo Campos e abriu caminho para Marina Silva, a oposição começa a dizer-se preocupada com a agressividade da campanha eleitoral do PT.
Empresários reclamam — em depoimentos anônimos — contra o tom da campanha.
“Ai, que medo!,” escreve uma colunista, hoje.
Será mesmo?
É certo que cada cidadão reage à publicidade eleitoral conforme sua visão de mundo e sua sensibilidade.
Mas também é certo que, de janeiro para cá, o governo Dilma se encontra sob ataque permanente. Uma situação nunca vista depois de 1989, quando o eleitor brasileiro recuperou o direito de escolher o presidente pelo voto direto. Se alguém pode queixar-se de agressividade, tratamento desigual, de massacre, é o governo.
Nos meses que antecederam o início oficial da campanha, quando o eleitorado começava a prestar atenção nos possíveis candidatos, a presidente apanhou porque a inflação iria explodir, o que não aconteceu.
Apanhou porque não ia ter Copa, mas teve.
Ontem, o governo divulgou que foram criados 109 000 empregos com carteira assinada em agosto de 2014. Empregos novos, a mais. Lembrando que há 12 meses foram criados 127 000 empregos, a notícia foi divulgada de forma capciosa. Afirmou-se que a criação de empregos recuou 20%. Deu para entender: ressalta-se o aspecto negativo sem reconhecer que, apesar de tudo, há mais vagas sendo criadas do que suprimidas — o que é um dado positivo, como sabe qualquer cidadão que saiu de casa para procurar trabalho.

Chega a ser escandaloso ouvir queixas de que Dilma tem 11 minutos e alguns de propaganda da TV, mais que o dobro do que Aécio, que tem direito a 4min35s, e que isso configura uma disputa injusta. Na verdade, cada um recebe o tempo que o eleitor lhe deu na eleição anterior. Pode não ser um critério perfeito e deve ser aperfeiçoado — desde que se respeite princípios democráticos.

Na disputa real pelo voto de mais de 100 milhões de eleitores, é preciso contabilizar o tempo de exposição de cada candidato no conjunto dos meios de comunicação do país e avaliar o tratamento oferecido a cada um.
O horário político é só uma pequena fração do tempo — 60 minutos por dia — que o rádio e a TV dedicam às eleições. É uma forma de comunicação muito importante. Para muitas candidaturas, é a única possibilidade de furar o cerco. Mas o alcance é limitado.
O eleitor sabe que está vendo anúncio, o que diminui sua credibilidade.
O Manchetômetro, pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, fez um levantamento junto aos três maiores jornais do país e ao Jornal Nacional. O saldo é o seguinte: para cada notícia positiva, Dilma encara 25 notícias negativas. Essa é a proporção: 25 contra 1.
Você poderia ser bem intencionado e pensar que a mídia não faz mais do que sua obrigação, pois tem o dever de examinar a atuação do governo com espírito crítico elevado e muita isenção. Concordo com a teoria. Mas a prática mostra que a regra não vale para todos. O O volume de notícias negativas de Aécio Neves é só um pouco superior ao das positivas, numa relação que não chega a 2 negativas para 1 positiva, contra 25 a 1, informa o Manchetômetro.
O mesmo acontece com Marina Silva. Não é só.
A mesma pesquisa fez um balanço sobre a cobertura da economia: por baixo, 400 notícias negativas contra 10 positivas. Claro que a economia já esteve melhor e tivemos um ano de crescimento fraco. Mas o emprego continua crescendo. A inflação chegou a cair por quatro meses em seguida. Será o mundo de 400 a 10?
É uma distorção tão grande que não é difícil considerar que uma parte do pessimismo que se manifesta hoje no país tem sido induzido por essa visão enganosa da realidade.



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