Jânio de Freitas, até que se salva

do Folha de São Paulo

Pensões são presenteadas ou vendidas sem que a Previdência possa defender os seus cofres




O pacotinho que tirou lascas de assalariados e aposentados, e que os novos do poder fizeram sair como coisa dos antigos, está apanhando muito mas tem partes corretas e necessárias.
O bom humor de Delfim Netto ilustra uma delas: "Nesta idade em que eu estou, o que não falta é moça me querendo. Sou um ótimo partido". Verdade. Sob a pressão gay, o governo e o Congresso acabaram fazendo mais uma lei incompetente, que permite a transferência, como herança, de pensão previdenciária até sem haver união e dependência verdadeiras. Basta um documento cartorial.
Pensões de aposentados são presenteadas ou vendidas, por doentes e velhos, sem que a Previdência possa defender os seus cofres. A solução proposta pela medida provisória, fixando prazo de união para haver a transferência, não impede golpes, mas diminuiria o seu número.
O seguro-desemprego é outra lei incompetente, fonte de trapaças. Condicionar seguros sucessivos a períodos crescentes de registro de trabalho, segundo a persistência com que o registrado se declara demitido, também não resolveria de todo, mas diminuiria as fraudes.
Medidas assim eram cobradas pela oposição e pela imprensa, mas foram malhadas porque o mais importante é se prestarem a atacar o governo em sua reviravolta econômica, como se faltassem outros e melhores motivos.
OS PENSADORES
Governo novo, novas ideias. Ministro da Defesa, por "pedido [dele] à presidenta", Jaques Wagner já apresenta a sua: a respeito dos crimes da ditadura, "o melhor caminho é o da conciliação nacional". Ideia com mais de 30 anos, sumida em um desvão qualquer por cansaço de sua própria insignificância.
Onde está ou qual é o confronto nacional a precisar de conciliação idem? No Estado de Direito brasileiro, pretender o julgamento de criminosos, recomendado ao Brasil também pela ONU, é uma rebeldia que justifique reconciliação? Com quem, com os criminosos?
Jaques Wagner concluiu haver quem quisesse "bulir nas feridas", com propósitos perversos: para "esquentar esse debate" de julgamentos/anistia ou para "esquentar o passado".
Quem precisou voltar às feridas foi a Comissão Nacional da Verdade. Criada pela presidente nomeadora ["a pedido"] de Jaques Wagner. A qual recebeu com honras e com lágrimas o relatório em que a Comissão reuniu a descrição das feridas criminosas aos nomes dos criminosos identificados. Dilma Rousseff quis "bulir nas feridas".
Joaquim Levy, o único a saber o que vem por aí, pesa o que sabe: "É preciso ter coragem para fazer o que é preciso". Mas o que exige coragem no Brasil é encarar as resistências à distribuição de renda e à redução das tantas desigualdades. Não é por outro motivo que o segundo governo Dilma vira as costas ao primeiro e ruma, sob orientação de Joaquim Levy, para as prioridades históricas no Brasil desigual.
MAIS DOMÍNIOS
Se o pastor George Hilton não foi parar no Ministério dos Esportes por habilitação para o cargo, muito menos o foi por acaso ou descuido. Em Minas, o governador Fernando Pimentel entregou a Secretaria de Esportes a um pastor. Geraldo Alckmin nomeou um pastor para sua Secretaria de Esportes.
Os três são pastores da igreja Universal. São partes de uma nova extensão do plano político-religioso comandado pelo bispo Macedo, que reformula e amplia os seus objetivos no Brasil.
Só na aparência o Estado do Rio ficou fora dos domínios da Universal. A Secretaria de Esportes do governo Pezão foi dada a um jovem filho de Sérgio Cabral, o que significa entendimento com a igreja de Macedo.
GOVERNOS SECOS
Cinquenta anos de governos em São Paulo. É o que retrata, nestes tempos de "crise hídrica" paulista, o recente registro no "Globo há 50 anos". São Paulo regozijava-se com as chuvas na represa Billings, que "chegou a ficar praticamente vazia" no "estio de mais de um ano", "ameaçando o abastecimento de água e provocando o racionamento de energia elétrica".
Com o tempo e a invasão tecnocrata da linguagem, seca e estio passaram a ser "crise hídrica". Mas 50 anos e a dominação tecnocrata não foram bastantes para levar nem um só dos governadores à obra que protegesse São Paulo, capital e Estado, dos problemas atuais e dos riscos que o novo governo de Geraldo Alckmin vê para a água dos paulistas. Explica-se: como obras preventivas, represamentos e adutoras consomem recursos altos sem, no entanto, tocar interesses imediatos dos eleitores.
Em uma nota pequena, de "há 50 anos", cabe meio século de história administrativa.



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