Um (novo) dia na vida do *PIB

por Paulo Nogueira - Diário do Centro do Mundo

Algum tempo atrás escrevi sobre o PIB. O Perfeito Idiota Brasileiro.
Ele ia para o trabalho ouvindo a CBN e antes de dormir via o Jornal da Globo. Nos intervalos, lia Merval, Reinaldo Azevedo e Villa. Tinha por ídolo Joaquim Barbosa.
E agora, nestes trepidantes dias de 2015, o que faz o nosso PIB?
Bem, as leituras se ampliaram, dada a oferta de colunistas dedicados a pessoas como ele.
Agora, pela manhã, a caminho do serviço, ele alterna a CBN com a Jovem Pan. Gosta de ouvir Sheherazade. Que sua mulher jamais saiba, mas às vezes tem sonhos eróticos com Sheherazade.
Aquela voz, aqueles cabelos. Será que ela faria um daqueles comentários durante o sexo? …
Na Jovem Pan o PIB também aprecia os comentários de Marco Antônio Villa.
Um cabeça.
Numa entrevista com Haddad, Villa massacrou-o. Provou que o futuro pertence aos carros, e não às bicicletas.
Londres, Paris, Nova York, Copenhague, Amsterdã, todas elas estão na contramão da história. Investem em ciclovias.
“Villa poderia dar consultoria a elas”, pensou PIB depois de ouvir Villa enquadrar Haddad.
Também aumentou o número de gênios que ajudam PIB a formar sua opinião. Ele agora sempre passa os olhos pelo blog de Constantino, da Veja.
A expressão “esquerda caviar” é uma inspiração divina, pensa PIB. Para ele, um sinal dos problemas atuais da humanidade é que o mundo dá atenção a economistas como Piketty e ignora sábios como Constantino.
PIB leu que Constantino, a bordo de uma bolsa-esposa, foi para Miami. “É a chance de os americanos descobrirem seu talento”, deduz PIB.
Rapidamente, prevê PIB, o livro de Constantino sobre a esquerda caviar será traduzido em inglês. Piketty será reduzido a nada, na comparação.
Caviar Left.
Com a publicação do livro, Constantino chamará a atenção da presidência americana. Poderá ser um conselheiro econômico da Casa Branca.
Por que não um Nobel?
Na verdade o Brasil já merecia um Nobel faz tempo por realizações literárias. Como os suecos puderam ignorar o livro de Ali Kamel que diz que não somos racistas?
E além do mais é um livro fininho …
O debate sobre o racismo contemporâneo foi reescrito ali. Os brancos é que são vítimas de preconceito no Brasil. Os brancos e os héteros.
Até quando vamos ter que suportar a ditadura gayzista?
Nas noites de segunda, Roda Viva é obrigatório. Augusto Nunes, o Brad Pitt de Taquaritinga, é maravilhoso.
Faz perguntas sensacionais. Perguntou a Lobão, por exemplo, o que ele achava da Dilma. Como alguém pode fazer uma pergunta tão profunda e tão surpreendente?
PIB ri também com os artigos de Augusto Nunes da Veja. Compartilha todos. Finalmente alguém para falar das bebedeiras de Lula, pensou PIB.
Claro que, para falar naquele tom, Augusto Nunes tem que ser um homem que jamais passou do primeiro copo de cerveja.
Em Taquaritinga os pais devem ser muito rigorosos ao ensinar a seus filhos os males da bebida …
PIB ouviu falar também de um novo site, o Antagonista. O editor é tão modesto que, quando trabalhava na Veja, transformou uma edição especial sobre seu romance numa simples reportagem de meia dúzia de páginas.
Poderia ter colocado seu livro na primeira posição dos mais vendidos, mas preferiu pô-lo, singelamente, apenas entre os dez mais.
Tenho que ler … O nome é brilhante. Antagonistas por causa de antas. O outro editor escreveu um livro sobre antas, e então uma coisa puxou a outra. Não ficou nenhuma ponta solta.
Todas as noites, uma passagem por Gentilli é obrigatória.
Nasceu para fazer rir.
PIB gostava, particularmente, da maneira como Gentilli lidou com um negro que reclamou de piadas racistas. Ofereceu bananas.
Como ele pode ter tanta inspiração?
O respeito de PIB pela Justiça brasileira cresceu ainda mais depois que um juiz considerou que não havia racismo nas bananas oferecidas por Gentilli.
Temos que acabar com a ditadura do politicamente correto.
Nas últimas semanas, a vida de PIB tem sido particularmente agitada. No dia 15 de março, vestiu a camisa da seleção e foi para a Paulista.
Um pouco de vaidade não faz mal a ninguém, e então PIB pintou o rosto de verde e amarelo.
Boas chances de chamar a atenção da imprensa. Só que não havia imprensa. Alguém falou que os jornalistas estavam com medo de apanhar, mas PIB não acreditou.
Viu vários filmes em que jornalistas cobriam guerra como se cobrissem concursos de receitas de pudim.
Herois.
Quis ser original na placa que carregaria. E então escreveu: “Fora Foro de São Paulo.” Não tinha a menor ideia sobre o que era o Foro de São Paulo, mas Constantino falava disso o tempo todo, e então sua frase era oportuna.
PIB cantou o hino na Paulista. Quer dizer, fez que cantou. Ninguém é perfeito, e PIB fazia tempo que esquecera a letra.
Voltou para casa cheio de amor pelo Brasil e pelos colunistas que o faziam ser quem era, um PIB.
Estava cansado à noite, mas ainda tinha pela frente as panelas. Jamais imaginara que bater panelas pudesse ser tão excitante.
Hmmm … o que é isso?
Isso era uma ereção cívica.
PIB, depois de muito tempo, solicitou a mulher à noite para algo além de um prato de comida.
Na cama, consumado o sexo, PIB se sentiu o rei do mundo. E gritou isso, não em português, que seria muito clichê, mas em inglês, como em Titanic.
Sua mulher não entendeu nada, mas fazia tempo que ela desistira de compreender o marido.
Nem banho ele foi tomar.
Dormiu direto, aquele sono límpido, majestoso, inviolável típico do Perfeito Idiota Brasileiro.



*Perfeito Idiota Brasileiro

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