Nós, brasileiros, somos hipersensíveis à piora do ambiente econômico e social. Na crise, ficamos irritados com o governo e pessimistas em relação ao país. Passamos a dar mais importância àquelas comparações simplistas, como a que nos diz que temos a maior desigualdade do mundo. Aceitamos que confundam baixa renda com indigência. Acreditamos que estamos à beira do colapso social.
Quem nos olha de fora fica achando que somos incapazes de ver as mudanças que ocorrem no país. Não significa fechar os olhos às nossas mazelas, achar que não há pobreza no Brasil ou que nossas desigualdades não incomodam. Incomodam, principalmente as duráveis, que, como tenho escrito aqui, vêm da discriminação de negros e mulheres. Mas ter uma perspectiva adequada do que é positivo e negativo nos permite agir de forma mais racional e combater essas visões emocionais, freqüentemente baseadas em metodologia tosca, que desenham um futuro trágico para o Brasil.
1- O Brasil só perde para a China por causa do tamanho do mercado consumidor. Mas o fato de que os chamados gigantes emergentes sejam o Brasil, um país com 173 milhões de habitantes, a China, com 1,3 bilhão, e a Índia, com 1 bilhão, já dá o que pensar. Primeiro, essas duas populações imensas têm mais pobres e mais barreiras sociais à expansão continuada de seus mercados que o Brasil.
2- Esses dois países têm estruturas institucionais mais instáveis e de maior risco que o Brasil. Condições regulatórias mais estáveis, maior segurança dos contratos e ambiente mais amigável aos investidores fazem do Brasil um país de risco médio. Os dois são de alto risco.
3- China e Índia enfrentam um risco claro e presente de convulsão social por causa de desigualdades crescentes e sérias contradições entre diferentes setores de sua sociedade. Na China, forma-se um abismo entre os habitantes das ilhas afluentes de capitalismo, como Xangai, e os do continente socialista e pobre, como Xanxi. Os moradores de Xangai podem ficar milionários em poucos anos. Os de Xanxi vivem em condições quase medievais. Na Índia, o sistema de castas impede que os miseráveis das camadas sociais inferiores se movam livremente em busca de emprego ou se casem com alguém de casta mais elevada. Há alguns dias, a imprensa contou a história de dois jovens namorados, de castas distintas, enforcados e queimados por seus pais, porque se encontravam às escondidas, apesar de alertados da proibição. Ninguém foi preso. O sistema é uma das expressões contemporâneas da barbárie institucionalizada.
Mas é certo que o Brasil mudou para melhor, seja em comparação com ele mesmo, há dez e há vinte anos, seja em comparação com outras nações emergentes do mundo.
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