É dinheiro público, ninguém é dono

Para o governo, a imprensa vem tratando o caso dos cartões com certo extremismo. De fato, é preciso reconhecer. Repórteres são, por vezes, extremistas. Agora, então, decidiram levar o extremismo a extremos inaceitáveis. Tornaram-se extremamente observadores. Repórter já reporta até, veja você, as despesas do governo com a segurança de Lurian, a filha do Lula. Coisa de R$ 55 mil em nove meses, segundo a informa Leila Suwwan.

Contra o extremismo da imprensa, o melhor remédio é o eufemismo. O professor Aurélio ensina que eufemismo é o “ato de suavizar a expressão duma idéia substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável.” Em suma: é quando você substitui o preto no branco pelo cinza. É quando você troca o nu e cru pelo malpassado. É quando você prefere o rodeio a ir direito ao ponto.

Por ora, conhece-se apenas a versão dos extremistas: os cartões foram manuseados, dessa vez, por agentes do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da presidência da República. Pagaram de autopeças a livros. Aguarda-se pelo próximo eufemismo.

Ouvido, o GSI pediu calma. Disse que explicará tudo depois do Carnaval. A secretaria de Imprensa do Planalto decidiu que não vai se manifestar sobre "temas relacionados à segurança do presidente ou seus familiares". Ora, ninguém está interessado em discutir sobre segurança. O que se deseja é um bom feixe de explicações acerca de outro assunto: os gastos públicos.
Espanta a forma corriqueira como o dinheiro da Viúva –que é público, mas não é gratuito— goteja da torneira dos cartões. A essa altura, a velha e boa tomada de preços, a antiquada licitação, há de estar sentindo-se rejeitada. Vem sendo reiteradamente trocada pela “emergência” dos cartões. No início, eram puladas de cerca esporádicas. Agora, a perversão já não encontra refúgio nem no eufemismo.

Escrito por Josias de Souza às 12h24

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