Adepto do ‘Bolsa Juros’, Lula ri do que pede choro

Lula amanheceu nesta quinta-feira (17) com torcicolo. Coisa chata. Capaz de azedar o humor de qualquer um. Mas o presidente ostentou, durante todo o dia, um sorriso fácil nos lábios. Mesmo quando teve de imobilizar o pescoço, num pa©mício, em Belo Horizonte.

Para explicar à platéia o artefato que trazia abaixo do queixo, Lula fez pilhéria com o Corinthians e com o Banco Central. Disse que não sabia se atribuía o torcicolo ao “massacre” que o Goiás infligira ao seu time ou à subida dos juros, decretada na véspera.

Quanto ao Corinthians, nada a opor. Virou mesmo uma piada. Em relação aos juros, o caso não é de riso, mas de choro. Ao elevar a taxa selic para 11,75%, o Banco Central jogou água fria na fervura de PIB que vinha de um aquecimento de 5,3%. A choradeira foi generalizada –da Fiesp às centrais sindicais.

Só um tipo de brasileiro tem razões para sorrir: o “rentista.” O que talvez explique o bom humor de Lula. O presidente é um dos beneficiários do “Bolsa Juros.” A maior parte do seu patrimônio está protegido sob os juros da dívida pública. Uma dívida que, agora, é feita pelo governo dele.

Visto sob a ótica das declarações de rendimentos entregues à Justiça Eleitoral, Lula é um homem bem-posto, muito bem-posto, põe bem-posto nisso. Em 2002, ano em que o eleitor lhe entregou o primeiro mandato, o ex-torneiro mecânico acumulava patrimônio de R$ 423 mil. Desse total, R$ 117,5 mil (28%) encontravam-se sob a sombra do guarda-chuva dos títulos públicos.

Em 2006, ao ser eleito para o segundo reinado, Lula levou aos arquivos do TSE uma declaração de rendimentos 98% mais gorda: R$ 839 mil. A essa altura, suas aplicações penduradas na taxa de juros provida pelo Banco Central já somavam R$ 474,6 mil –ou 56% de todo o patrimônio. Tornara-se, já então, um “rentista” clássico.

Há exatos cinco anos, três meses e 18 dias, Lula manda à conta bancária o grosso de sua renda mensal, composta de uma aposentadoria especial e do salário de presidente: R$ 15.928, em valores atuais, noves fora os descontos de praxe. O contracheque do Planalto é de R$ 11.420. A aposentadoria, arrancada da viúva graças à poda de um mandato sindical e a 51 dias de cana macia, sem pancadaria, amargada em 1980, rende R$ 4.508.

Mercê de todas as regalias que o cercam –cartão corporativo, carro na porta, avião no hangar, ternos no armário e geladeira sempre cheia—é de supor que, a essa altura, o patrimônio de Lula, adensado pelos juros de Henrique Meirelles, já tenha ultrapassado a casa do milhão de reais. Assim, não há torcicolo que lhe conspurque o humor.

Escrito por Josias de Souza

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