Jornalismo de crise - Cesar Maia


1. Ontem jornal publicou com destaque a foto de uma poça de água numa obra parada no Rio-Capital, onde poderia ocorrer larva de dengue. A questão que se coloca é se o fotógrafo deveria ter se comportado como repórter ou como cidadão.

2. Uma poça de água como aquela num quadro de crise de dengue, especialmente naquela região, é um perigoso criadouro potencial, que pode levar a infestação e até o óbito. Para evitar riscos, o cidadão deveria ter pedido ajuda e acabado com aquela poça, para o que bastaria uma simples vassoura. Ou telefonado para a empresa de limpeza urbana e pedido que limpasse a poça pelos riscos que incorporava.

3. Se não incorporasse riscos, não merecia a foto em destaque. Se incorporasse o cidadão deveria prevalecer sobre o fotografo e ajudar os moradores daquela região, evitando o risco de dengue?
4. Outro dia uma equipe de TV acompanhava a via sacrificada de uma mãe com seu filho procurando hospital. Provavelmente aquela equipe com um simples telefonema alcançaria a autoridade responsável para resolver o problema e a angustia daquela mãe. Mas a decisão que prevaleceu foi acompanhar o sofrimento e fazer imagens fortes para a emoção dos expectadores e a cobrança das autoridades.

5. Outra vez, uma decisão em época de crise, que confronta o cidadão e o repórter, e o coloca frente à ética pessoal e a jornalística. Ou não há diferença? Mas se não há, qual a decisão adequada?

6. Imagine-se numa guerra de fato, um repórter com uma câmera de TV na mão. Surge um soldado inimigo por trás e o soldado da força que permitiu a cobertura, não o vê. O câmera deve filmar a morte do soldado e ganhar o premio Pulitzer ou largar a câmera e gritar para o soldado, salvar a sua vida e deixar de ganhar o premio Pulitzer?

7. Não se trata de um caso hipotético, mas de um debate que se seguiu à guerra do Vietnam em muitas situações. Ou o caso de uma das fotos vencedores do Prêmio Pulitzer em 1994 -da criança africana com abutre próximo- do fotografo Kevin Carter.

8. Claro, os graus são muito diferentes entre a guerra à dengue e a guerra militar. Graus diferentes, mas gêneros semelhantes.

Um comentário:

  1. Você tem razão Briguilino. Está faltando humanidade.

    Acho que o registro tem que ser feito sim, mas todos têm que ajudar. Se uma equipe de reportagem vê alguém morrendo em frente a um hospital público sem atendimento, além de registrar o fato tem obrigação de socorrer quem precisa.

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