Enviado por Ricardo Noblat -
9.5.2008
Quer um notável exemplo do que é torcer um fato, torcê-lo para valer até que ele fique parecendo outro?
Luiz Sérgio (PT-RJ) é deputado federal e relator da CPI do Cartão Corporativo.
Perguntaram-lhe, hoje, se a CPI deveria convocar para depor o secretário de Controle Interno da Casa Civil da presidência da República, José Aparecido Nunes Pires, que remeteu cópia do dossiê sobre despesas sigilosas do governo Fernando Henrique Cardoso para seu amigo Eduardo Fernandes da Silva, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
A princípio, Luiz Sérgio admitiu que José Aparecido poderia ser convocado, sim. Em seguida emendou:
- Um dado a meu ver mais importante é saber se esse assessor do senador (assessor de Álvaro Dias), se ele publicou o material que recebeu na íntegra ou se manipulou esses dados, porque se manipulou foi ele que fez entre aspas o dossiê.
Que tal?
O que se pode pensar que um cidadão desses pensa de nós? Que somos um bando de idiotas?
Recapitulemos.
A VEJA informou que havia um dossiê montado para constranger a oposição e evitar que a CPI investigasse a fundo despesas pagas com cartão corporativo durante o governo Lula. E saques em dinheiro vivo feitos com cartão na boca do caixa.
O governo negou a existência do dossiê. Disse que há um banco de dados. Apenas isso. E que do banco de dados não se extraiu dossiê algum.
A Folha de S. Paulo informou que Erenice Guerra, o braço direito da ministra Dilma Rousseff, foi a responsável pela confecção do dossiê. E o jornal publicou parte dele.
Aí Dilma defendeu Erenice. Voltou a negar a existência de dossiê. E lançou dúvidas sobre parte do dossiê publicado pela Folha. Sugeriu que poderia se tratar de um documento falsificado.
Então... Então a Polícia Federal descobriu que cópia do dossiê foi enviada por José Aparecido para Eduardo Fernandes.
Mas como se o dossiê jamais existiu?
Terá José Aparecido usado o banco de dados para montar o dossiê por sua conta e risco?
Terá apenas repassado para Eduardo Fernandes o dossiê montado por funcionários da Casa Civil?
E agora vem o relator da CPI dizer que Eduardo Fernandes pode ter distorcido o que recebeu de José Aparecido... E se assim procedeu, ele, Eduardo Fernandes, "fez entre aspas o dossiê".
Quer dizer: Eduardo Fernandes teria recebido um extrato do banco de dados da Casa Civil. E pinçado ali informações para confeccionar o dossiê...
Brincadeira!
O que de fato importa: o dossiê existe; foi montado na Casa Civil e cópia dele foi parar nas mãos de um assessor do senador Álvaro Dias.
Quem mandou produzir o dossiê? Com que objetivo? Quem se encarregou da tarefa? Por que um funcionário do governo (José Aparecido), apontado como petista histórico, vazou o dossiê para um amigo dele que assessora um senador da oposição?
Por último: Dilma jamais soube que subordinados dela se ocupavam em confeccionar um dossiê? Quando foi depor no Senado não sabia que a Polícia Federal já sabia que José Aparecido vazara o dossiê?
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