Que mãe manda na Casa Civil, a Dilma ou a Joana?

Lula vende a chefe de sua Casa Civil como quinta-essência da correção, supra-sumo da competência administrativa. Os últimos fatos dão ao presidente uma aparência de hóspede do mundo de Alice. Os acontecimentos como que desmentem a personagem que ele tenta criar.

O episódio do dossiê FHC demonstra que, se há no Brasil uma casa-da-mãe-joana, ela fica no ministério supostamente gerido por mãe Dilma. Senão vejamos:

1. Descobriu-se que a tropa da Casa Civil organizara um dossiê. Empilharam-se, em 27 planilhas eletrônicas, despesas sigilosas e exóticas. Gastos atribuídos ao casal FHC-Ruth e a ex-ministros tucanos;

2. Mãe Dilma saiu-se com um sem número de versões. Desmentidos que, por inconvincentes, não lograram estancar a gosma que escorria pelas páginas de jornais e revistas;

3. Em 4 de abril, a Folha revelou que as planilhas haviam saltado dos computadores do terceiro andar do Planalto. Dera-se em 11 de fevereiro. Sob holofotes, Dilma recorreu a duas armas traiçoeiras: a negaça e a ironia. Insinuou que o próprio jornal montara as planilhas. E trouxe à baila a figura do “espião com crachá”;

4. Na semana passada, Dilma foi espremida na comissão de Infra-Estrutura do Senado. Lero vai, lero vem disse que, havendo dossiê, ela seria a “grande vítima”. Eventuais vazamentos não visariam senão prejudicá-la. Curiosamente, afirmou que os dados relativos à gestão FHC não eram sigilosos. A ministra já sabia, àquela altura, o nome do “espião com crachá”. Sonegou-o, porém, aos inquiridores. Lula se disse “orgulhoso” do baile que a auxiliar dera nos senadores;

5. Menos de 24 horas depois da contradança, a ministra foi chamada, de novo, à pista. O “espião” foi pendurado nas manchetes: José Aparecido Nunes Pires. Não é um qualquer. Traz na biografia o carimbo de petista. Carrega no peito um “crachá” vistoso: secretário de Controle Interno da Casa Civil;

6. Funcionário de carreira do TCU, alçado à presidência por requisição de José Dirceu e mantido sob Dilma, Zé Aparecido tornou-se protagonista do inimaginável: remetera o dossiê ao amigo André Eduardo da Silva Fernandes, um assessor do gabinete do senador tucano Álvaro Dias (PSDB-PR). O quindim eletrônico foi à caverna da oposição por e-mail, em 20 de fevereiro;

7. Súbito, confirmou-se que o dossiê que a ministra dizia inexistir existia de fato. Em entrevista, Zé Aparecido negou a mensagem. Mas reconheceu que a Casa Civil colecionara dados. Apontou para o alto. Disse que, em 11 de fevereiro, o secretário de Administração da Casa Civil, Norberto Temóteo Queiroz, encomendara-lhe a cessão de dois funcionários. Para quê? Era preciso levantar as despesas de suprimentos de fundos de 98 pra frente. Em privado, disse que a ordem viera de cima: Erenice Guerra, a segunda da pasta de Dilma;

8. Em 20 de fevereiro, nove dias depois de Timóteo, por ordem de Erenice, ter encomendado mão-de-obra especializada a Zé Aparecido, Dilma participaria de um jantar com três dezenas de barões da indústria paulista. Deve-se ao repórter Elio Gaspari a recuperação dos ruídos do repasto: “Quem ouviu a ministra [...] não teve a menor dúvida –ela informou que o governo estava coletando dados para incriminar o governo de FFHH na farra dos cartões corporativos”;

9. Sabe-se, por ora: a) o levantamento de informações foi supervisionado por Erenice Guerra; b) em jantar com a nata do PIB, Dilma disse quais eram os objetivos do Planalto; c) Antes que a revista Veja informasse sobre a existência do dossiê, os jornais já salpicavam notinhas sobre despesas exóticas da era FHC;

10. Há ainda uma penca de mistérios a elucidar. Trabalho para a Polícia Federal. Mas há também uma constatação que dispensa investigações: quem comanda a Casa Civil não é mãe Dilma. Deve-se aos caprichos de mãe Joana a atmosfera de desordem que se instalou no terceiro andar do prédio da presidência. Um ambiente em que os métodos heterodoxos se misturam ao descontrole. Um desgoverno que, por acentuado, permitiu que o filé bem passado de um Planalto petista fosse à boca de um senador tucano;

11. Salve a incompetência de mãe Dilma. Viva as artimanhas de mãe Joana. Graças a uma e a outra, a platéia pode exigir agora a elucidação integral do episódio. Que se expliquem todos –do assessor palaciano ao auxiliar do Senado, do senador tucano à ministra petista... Todos!

Escrito por Josias de Souza

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