PSDB/DEMO/PPS/PSOL e cia cadê a CPI do DVD


Quando eu era um jovem editor do Jornal da Cidade, faz tempo, banquei com o repórter Eduardo Nasralla a investigação de um crime cometido por um policial civil de Bauru.

Batizamos de "crime da igreja".

Ao descer de um andaime usado para pintar as paredes externas de uma igreja, um homem foi morto por um policial que dizia investigá-lo.

Nasralla descobriu, no entanto, que os dois já se conheciam. Mais: que faziam negócios juntos. De acordo com a viúva, os negócios envolviam o tráfico de drogas.

Bauru era uma cidade pequena. Recebemos ameaças e muita pressão para abandonar o assunto.

Nasralla persistiu.

No dia em que o crime foi reconstituído fui assistir junto com o repórter.

De repente, a polícia passou a simular uma suposta agressão do morto, que teria causado a reação do investigador - legítima defesa.

Buscamos saber o motivo daquela reconstituição inesperada.

Ela se baseava em uma nova testemunha, que dizia ter visto a cena.

Mais tarde descobrimos que a "testemunha" havia sido plantada pelo investigador para confundir o processo.

Uma forma nem um pouco sutil de "sujar a água".

É o que sinto que está acontecendo, agora, no caso envolvendo o banqueiro Daniel Dantas.

Onde é que estão os nossos congressistas, sempre ávidos por uma CPI?

Sumiram.

De Brasília, nem um pio, além do óbvio favorecimento àqueles que foram acusados de cometer crimes gravíssimos.

Durante o escândalo do mensalão, que acompanhei de perto como repórter, não me lembro de ter lido na mídia brasileira nenhuma preocupação com vazamentos da Polícia Federal, nem com o uso de algemas, nem com a possibilidade de que pessoas inocentes fossem acusadas.

Agora, curiosamente, sim.

Vozes se levantam contra a polícia, contra o poder dos juízes, contra o Ministério Público, contra os grampos, contra os vazamentos...

Quando um delegado federal se reuniu com repórteres, entregou a eles um CD com fotos do dinheiro dos aloprados e combinou uma mentira coletiva, em 2006, na véspera do segundo turno das eleições presidenciais, toda a mídia brasileira dançou conforme a música.

Todas as emissoras de televisão, os jornais e os portais da internet reproduziram as fotos e as informações e OMITIRAM do público o fato de que profissionais da imprensa tinham obtido o material depois de combinar uma mentira com o delegado. Alguns fizeram isso apesar da posse de uma gravação em que a combinação estava registrada.

Na gravação, o delegado Edmilson Bruno disse aos jornalistas que mentiria ao superior, simulando um furto para justificar o vazamento das imagens.

Os repórteres protestaram? Não. Os jornais divulgaram o teor da gravação? Não. As emissoras de TV reproduziram a gravação? Não. Quando a gravação se tornou pública, a mídia brasileira tratou de reproduzí-la? Não. O comportamento dos jornalistas virou tema de debate da categoria? Não.

Era o caso de divulgar as fotos do dinheiro? Claro que sim.

Mas era uma obrigação jornalística divulgar também as circunstâncias em que aquele vazamento havia acontecido.

A mídia preferiu, no entanto, se calar sobre o assunto, mesmo depois que o delegado Edmilson Bruno assumiu o vazamento - e, portanto, abriu mão do sigilo de fonte.

Fez isso por um motivo muito simples: a mídia não expõe os seus métodos de atuação.

Não cumpre nem mesmo as regras de transparência que cobra de autoridades e governos.

E, ao contrário do que propaga, mistura jornalismo com seus interesses políticos e econômicos.

Isso ficará claro se o esquema de Daniel Dantas com jornalistas e empresas de comunicação vier a tona.

Porém, antes disso, é provável que se encontre uma forma de condenar o pintor de paredes por homicídio qualificado.

Luiz Azenha

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