Épocas eleitorais, como sabemos, são sempre propícias a denúncias bombásticas que possam mudar o rumo dos acontecimentos.
Estourou mais uma crise do fim do mundo, a dos grampos. O roteiro é sempre o mesmo: sai na “inVeja”, vai para o “Jornal Nacional” e depois ganha as manchetes de todos os jornais nos dias seguintes.
A denúncia: alguém grampeou os telefones dos presidentes do STF e do Senado. Fato gravíssimo, sem dúvida, mas ninguém até agora respondeu a esta singela questão: alguém quem?
Segundo a revista, que os demais órgãos de imprensa rapidamente incorporaram como verdade, sem apurar mais nada que confirmasse a tese, foram agentes da Abin, quer dizer, do governo. Daí para mais uma crise do fim do mundo é um pulo.
Só neste ano, já tivemos três: a pandemia de dengue que assolava o País, o iminente apagão energético e o estouro da inflação. Contrariando as previsões da imprensa, no entanto, como aconteceu com o furacão Gustav, o mundo não acabou, nenhuma dessas desgraças assolou o Brasil.
Na noite de segunda-feira, após passar o dia em tensas reuniões no Planalto com as maiores autoridades da República, o presidente Lula decidiu afastar a direção da Abin e determinou investigações da Polícia Federal, fez o que lhe cabia. Mas, até agora, não se avançou um milímetro naquilo que a “Veja” publicou no fim de semana baseada num informante anônimo, segundo ela, da própria Abin.
A “Folha” desta terça, que dedica manchete e várias páginas ao assunto, mobilizando repórteres e seus principais colunistas, elenca dez perguntas sem resposta sobre o caso. Abre a lista exatamente com esta: “Quem ordenou o grampo?”.
Deixo o jornal sobre a mesa do café, sem encontrar resposta, saio meio desanimado com o que acabei de ler, abro o computador na página do iG e parece que entrei em outro País.
Manchete da home do portal: “Produção industrial cresce 8,5% em julho”. Diz a nota que, “segundo o IBGE, a produção industrial completa uma seqüência de 25 meses de aumentos”.
Logo abaixo, a segunda notícia mais importante do dia: “Porto Alegre, Recife e Salvador têm deflação em agosto, mostra FGV”. Ou seja, não só a inflação não explodiu na crise do fim do mundo anunciada poucas semanas atrás pelos nossos mais badalados comentaristas econômicos, pois é, e ainda por cima, agora, temos deflação.
O leitor pode escolher com qual País ficar: o dos gabinetes oficiais, com sua interminável crise política, sempre esgueirando o fim do mundo, ou o do Brasil real, que a cada dia apresenta novos números de produção e consumo capazes de impressionar a imprensa do mundo todo, menos a daqui.
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