Desemprego, protecionismo e guerra

O primeiro impulso dos países ricos em relação à crise econômica, ainda que tenham demorado a agir coordenadamente, foi buscar uma resposta conjunta para acalmar o mercado financeiro. O impacto da crise na economia real só agora começa a se disseminar. Ninguém tem a menor noção, ainda, de qual é o tamanho do rombo, ou seja, quanto vale a montanha de papéis que foram vendidos sem lastro. Essa incerteza sobre a saúde financeira de bancos e empresas é que levou ao pânico: ninguém confia nem mesmo no vizinho.

No plano político vimos o que aconteceu com a Islândia, que literalmente faliu. O fato de que o país não deu garantias aos 300 mil correntistas britânicos que tinham dinheiro em bancos islandeses gerou um sério incidente diplomático. Não sei como evoluiu o pedido de empréstimo que a Islândia fez à Rússia e se a contrapartida seria o uso, pelos russos, de uma base militar em território islandês. Meu ponto é que pouca gente tentou entender, até agora, qual será o impacto político da crise econômica.

Mas se, de fato, houver uma recessão profunda, é certo que o desemprego aumentará muito nos países ricos. Um quadro de altas taxas de desemprego é alimentador em potencial do fascismo e das guerras. O impacto será muito maior, no entanto, nos países pobres. O que vai acontecer no Haiti? Em El Salvador? Na Venezuela? Já imaginaram a instabilidade no Paquistão, um país que tem a bomba atômica, foi seriamente afetado pela crise e onde os fundamentalistas islâmicos estão em campanha contra o governo?

Países que cresciam às custas da exportação de matéria prima serão duramente afetados. Países que dependiam de remessas de dinheiro de imigrantes legais e ilegais serão duramente afetados. Internamente, como advertiu o sociólogo Immanuel Wallerstein, haverá crescentes disputas na divisão do bolo e por acesso aos recursos naturais. É previsível um quadro internacional de protecionismo, de instabilidade política e de conflitos localizados.

Não deixa de ter razão o senador Aloizio Mercadante, que entrevistei recentemente a respeito: nesse quadro, se o Brasil de fato mantiver o crescimento econômico -- qualquer que seja a taxa -- poderá tirar vantagens políticas e estratégicas muito importantes a médio e longo prazos. Mas isso requer que o país não se perca no caminho, envolvido numa luta sanguinária pelo controle do Planalto.

Azenha

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