Lula, a mídia e como evitar azia

Está causando grande repercussão na imprensa a informação de que o presidente Lula não lê a imprensa. A informação foi fornecida pelo próprio Lula, em entrevista ao jornalista Mario Sergio Conti, diretor da revista Piauí. Lula revelou evitar ler notícias em jornais, sites e revistas porque tem “problema de azia”.
 

É mais do que óbvio que fechar os olhos aos que é publicado pela imprensa não é o melhor método de aliviar crises de azia. Mais adequado seria um bicarbonato na queimação aguda e, antes disso, um esforço para manter hábitos alimentares saudáveis.

Lamentável mesmo que o presidente se recuse a ler as notícias publicadas por veículos de comunicação - ele confessa nem se interessar pelo clipping oficial, distribuído, todas as manhãs, aos escalões superiores do governo. Mesmo sabendo que a visão transmitida é sintonizada, como não poderia deixar de ser, com interesses e anseios de parcelas bem definidas da população, um presidente não deveria dispensar o contato com a visão, ainda que parcial, com a qual se identifica parte politicamente influente de seus governados.

Daí a concluir, como fizeram alguns analistas, que, ao não ler os jornais, Lula se mantém desinformado, vai uma distância. O exemplo usado para afirmar o argumento não foi dos mais felizes. Para esses analistas, por  não ler os jornais, Lula demorou a perceber que a encarnação no Brasil da crise econômica global não se daria sob a forma de uma marolinha.

Beleza. Mas, diante do pensamento único neoliberal que domina as páginas de economia dos jornais e revistas que Lula não lê, é possível encontrar vantagens no, com todo o respeito, deslize do presidente. Como não lê a imprensa, Lula, por exemplo, não ficou sabendo, do mesmo modo que não soube a tempo da gravidade da crise, que dar aumentos reais ao salário mínimo quebraria, inapelavelmente, as finanças federais, estaduais e, principalmente, municipais.

Se tivesse lido os jornais, não teria insistindo nos aumentos reais de mais de 50% para o mínimo. Sem falar que, diante dos ataques incessantes, teria abandonado o bolsa-família no nascedouro e detonado a Previdência Social, evitando elevar os gastos públicos, para garantir o maior superávit primário possível.

Mas, como não leu, sem quebrar finança pública alguma, ajudou a reduzir o contingente de pobres, distendeu um tanto da concentração de renda e reforçou o mercado interno que, agora, é o pilar de sustentação da economia em meio à crise. 

José Paulo Kupfer

Um comentário:

  1. José Paulo acaba de dizer que Lula é um Maria vai com as outras e não tem capacidade de não ser influenciado pelo que lê.

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