Recriminar os outros

Tem gente, a propósito, que recrimina com veemência os que não resistiram à tortura, e meio século depois, garantem que seriam heróis da resistência, mesmo amordaçados, no silêncio e no escuro dos cárceres, entregues à bestialidade dos carrascos. 

É muito fácil ser bravo e ser resistente hoje em dia quando já não há o menor risco de ser empalado pelo carcereiro ou sofrer choques elétricos, até morrer como o jornalista Wladimir Herzog. 

Uma vez, depondo para o Nudoc, para livro que o Sindicato dos Jornalistas editou, registrei o quanto de medo senti naqueles tempos sómbrios. 

Medo, pavor de ser alvo da tortura e de humilhações menores, nem por isso menos doloridas, nas enxovias do Estado. 

Por isso, tenho respeito aos que, de armas na mão, exerceram o legítimo direito de reação à violência e ao arbítrio.

Tenho vergonha dos que, hoje em dia, passado o perigo, posam de heróis. De combatentes a posteriori. São destemidos, muito destemidos na reescritura do passado. Reveem a história, a seu favor. Assim é facil.
Lustosa da Costa

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