E aconteceu antes do Carnaval

Diz o ditado que nada acontece no Brasil entre o Natal e o Carnaval. Mas este ano vem sendo diferente. A corrida presidencial acelerou e a temperatura do ambiente político sofreu elevação sensível, mesmo antes da instalação da festa. Em plena preparação carnavalesca, os políticos começaram prematuramente a falar mal uns dos outros, a se acusarem dos piores defeitos.

Nesta altura, entre as pessoas comuns, até quem ainda não parou de trabalhar já ensaia a contagem regressiva. Com um olho no peixe e outro no gato, é claro. As nuvens da crise preocupam, ainda que os Estados Unidos pareçam ter encontrado um caminho de saída, por meio da intervenção maciça e sem limites do Estado na economia. E ainda que a China, com suas gigantescas gorduras, esteja a dizer ao mundo que melhores dias virão.

Deus ajude os nossos amigos americanos e chineses, e assim estará ajudando a todos nós. É a minha reverência ao sagrado, na véspera dos dias profanos. Mas esta coluna não é sobre o carnaval e a relação entre religião e prazer, é sobre a inesperada agitação entre os políticos na véspera do feriado, época em que eles já deveriam estar longe de Brasília, com seus assessores informando aos jornalistas que infelizmente o deputado, o senador, o ministro fulano de tal não está, que viajou e só volta depois da quarta-feira de cinzas. Ou então só na outra segunda. Pois ninguém é de ferro.

Mas em 2009 está sendo diferente. Porque 2009 foi transformado em ano eleitoral. Com cada político, como de hábito, acusando o adversário pela anomalia, pela antecipação do calendário. Na verdade, estamos diante de uma rara situação em que oposição e governo estão certos ambos. A campanha prematura é obra a quatro mãos. É criação coletiva.

A oposição gostaria que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff passassem 2009 encerrados em palácio, de preferência quebrando a cabeça sobre como responder aos jornalistas sobre o mais recente escândalo, real ou fabricado pela oposição. Já o governo gostaria que a oposição assistisse passivamente ao desabrochar, Brasil afora, da candidatura do PT. Como em política tem de tudo, menos gente ingênua ocupando posições de poder, cada lado trata de queimar a largada enquanto acusa o outro de não esperar pelo apito do juiz.

Era ingenuidade achar que Dilma e Lula assistiriam de braços cruzados enquanto Aécio Neves e José Serra ocupariam o espaço ao longo de 2009, montados em números de pesquisas e na visibilidade proporcionada pelas máquinas que comandam. E vitaminados por uma disputa interna que lhes garantirá cadeira cativa no noticiário por um longo tempo. Era igualmente ingênuo imaginar que tucanos e democratas não iriam espremer os miolos para dar um jeito de atrasar a construção da alternativa governista. Qual é a novidade então?

A novidade é que uns e outros nem esperaram o Carnaval para colocar o bloco na rua. O motivo da pressa? O governo não aceita virar refém político da crise. E levantamentos recentes frustraram o desejo de quem sonhava com a corrosão da popularidade de Lula por causa das dificuldades econômicas. E o desdém diante da possível candidatura da caloura Dilma deu lugar a um certo temor. Tucano escaldado por duas derrotas tem medo de água fria.

Daí que os políticos tenham começado a brigar enquanto o resto do Brasil só pensa em brincar, ou descansar. Que briguem à vontade enquanto o povo brinca, ou descansa. E que tomem as providências para neutralizar o discurso dos adversários. O governo federal, por exemplo, precisará dar um jeito de o PAC emplacar 2010 podendo ser mostrado em fotos e vídeos, e não apenas em números. Já os dois candidatos a ocupar a vaga da oposição na corrida também precisarão cuidar, em seus respectivos estados, das garrafas que pretendem começar a entregar daqui a um ano. Quem sairá ganhando? O cidadão. Que aliás sempre se dá bem quando os políticos precisam se esfalfar pelo voto.

Este ano, o Carnaval dos políticos, especialmente dos mais graúdos, vai ser de tensão e atividade. Nem que seja ao celular. E depois ainda tem gente que diz que político não trabalha. Injustiça. Nem no carnaval eles param.

Nenhum comentário:

Postar um comentário