Poeta de latrina

Não sou pessimista, não sou negativista, não sou religioso, não sou covarde, não sou ladrão, não sou proxeneta do sistema.

Não sou malandro, não sou vagabundo, não sou violento, não sou alcagüete, não sou contaminado com o vírus do desvio burguês, não sou o chicote do carrasco do regime ditatorial elitiano, não sou cachorro sarnento que vive deitado nos carpetes dos palácios do Brasil, não sou corrupto. 

Sou concreto, sou ATEU graças ao Universo, sou corajoso, sou honesto, sou durão e não me permito ser bobão dos políticos. 

Sou trabalhador, sou tranqüilo e calmo, guardo segredo igual ao homem que já Kata-Kumba, sou o lombo que leva chicotada do carrasco em atividade, sou um cachorro vira-latas que vive de migalhas das latas de lixo do mundo. 

Sou povão que procura defender os mais fracos e excluídos do neoliberalismo, sou um esquerdista consciente da minha missão na superfície da terra. 

Sou amor, paz, ódio, desamor, sinto pena das pessoas, denho dó da minha loucura adquirida no meio da multidão, sou uma mistura de natureza e o demônio que dá um ser bom e vingativo ao mesmo tempo. 

Penso que sou, mas nada sou, apenas sou um poeta de latrina que come bosta e bebe urina! 
Marco Antonio Leite

Um comentário:

  1. Em análise ao texto do poeta, percebo q ele retrata uma crise existencial, submetido a ritmo alucinante, conjunto de contradições, de ordem econômica, social, cultural...
    De um lado o desespero de ver a sociedade sendo destruída, pelos os corruptos, e, do outro, o otimismo de quem adquire a conciência do quanto é injusto o mundo e constrói o desejo de solidarizar-se com o "povão" na construção de uma sociedade melhor.

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