O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) tem uma grande qualidade: sua força política pessoal. Ela faz dele um aliado sempre desejado, ou então um candidato possível a qualquer cargo de relevo na República. Ciro disputou duas eleições presidenciais (1998 e 2002), e nas duas obteve votação expressiva. E mesmo sem entrar na última corrida pelo Palácio do Planalto aparece em todas as pesquisas com números de dar inveja.
Mas Ciro tem também fragilidades. Não conta até o momento com nenhuma corrente partidária expressiva disposta a correr grandes riscos para ajudá-lo num projeto nacional. É um general ainda sem exército. E no estado dele, o Ceará, o grupo político que o projetou e ele ajudou a consolidar dá sinais de fraqueza preocupante. Um sintoma da debilidade é o senador Tasso Jereissati (PSDB) estar em perigo eleitoral.
Nacionalmente, Ciro transita bem, pode ser a segunda opção de muita gente, mas no momento corre o risco de não ser a primeira de ninguém. Nem mesmo em seu partido.
O PSB é controlado com mão de ferro pelo governador Eduardo Campos (PE), que vai dormir e acorda pensando na reeleição ano que vem. Campos está bem avaliado, é favorito mas não pode vacilar. Deve enfrentar em 2010 uma coalizão de políticos com história, no estado e fora dele. As duas vagas pernambucanas em jogo no Senado são hoje do duas vezes vice-presidente da República Marco Maciel (DEM) e do presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra.
E sempre existe a ameaça de o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) desejar voltar à cadeira que ocupou por dois mandatos. PSDB e DEM pressionam-no dia e noite para isso, ainda que ele por ora resista a bater de frente com a aliança PT-PSB num Pernambuco em que Luis Inácio Lula da Silva tem mais de 85% de aprovação.
Ciro candidato a presidente só seria um trunfo para Campos caso o PT decidisse lançar o ex-prefeito do Recife João Paulo na luta pelo governo estadual. João Paulo não controla a máquina partidária no estado, mas tem grande prestígio pessoal. Seria uma pedra no sapato do governador. E o PT joga com essa carta para convencer Campos a arquivar o projeto Ciro e engatar desde já o vagão do PSB no trem da ministra Dilma Rousseff.
O esforço tem dado resultado. Se fosse organizado um grid nacional de políticos entusiasmados com Dilma, o governador pernambucano seria forte candidato à pole position. Até porque a última coisa que o neto de Miguel Arraes deseja é Lula subindo em outro palanque local.
O cenário do PSB não é diferente nos demais lugares em que a legenda tem chances. E o fenômeno se estende ao PCdoB. O partido já esteve bem mais inclinado a levar adiante, como alternativa de poder, o bloco com o PSB em torno de Ciro, ou mesmo de Campos. Com a aproximação de 2010, começa a falar mais alto entre os comunistas o pragmatismo, que é diretamente proporcional aos incrementos na musculatura de Dilma.
E também porque a terceira perna do possível bloco, o PDT, bem instalado no Ministério do Trabalho, já está faz muito tempo com a chefe da Casa Civil para o que der e vier. Até porque a própria Dilma vem do partido de Leonel Brizola.
Uma solução para ajeitar Ciro seria a vice na chapa do PT. Mas tal saída dependeria de 1) o PMDB abrir mão de vaga que considera naturalmente sua ou 2) o PMDB conflagrar-se e não chegar a uma maioria pela aliança com o PT ou 3) o PMDB não alcançar acordo sobre o nome para a vice. Pode acontecer, há no governo inclusive quem torça por isso, mas sempre que a coisa depende mais dos outros do que de você mesmo é bom colocar as barbas de molho. Ainda mais na política, onde ninguém dá colher de chá para ninguém.
E São Paulo? Um pedaço do PT e o próprio PSB paulista gostam da ideia de ver Ciro candidato a governador, mas há problemas. O primeiro é a proximidade local da sigla com o governador José Serra (PSDB). O segundo é a resistência interna no PT, especialmente no grupo da ex-prefeita Marta Suplicy, a não ter candidato próprio. E o terceiro é o medo no PSB de abrir mão de um trunfo nacional em troca de um espaço em São Paulo que muito provavelmente seria apenas virtual, dado o favoritismo tucano. Como me disse um deputado paulista do PSB, “seria um pastel de vento, e sem o pastel”.
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