As pesquisas Sensus e Datafolha confirmam não apenas que estamos em plena campanha eleitoral para a Presidência da República. Mostram que ela, como já alertava o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), apresenta características de segundo turno, dada a tendência de polarização. Outra constatação: a oposição caminha para desperdiçar a janela de oportunidade aberta com a eclosão da crise econômica mundial, em setembro. E que janela!
Por que Luiz Inácio Lula da Silva vai bem, assim como a candidata dele à sucessão, Dilma Rousseff? Porque o eleitor avalia que o presidente da República está fazendo o melhor possível, nas circunstâncias. Daí que talvez valha a pena considerar a hipótese de mais um voto de confiança. Parece simples? E é. Lula vende bem o peixe dele, o que vem incomodando a oposição, que se queixa da “máquina de propaganda” do governo federal. Um queixume que só revela impotência. Propaganda sozinha não sustenta governos, precisa estar ancorada em fatos.
A abordagem é recorrente aqui. Não há novidade para quem lê esta coluna. Em 2009, a economia brasileira vai apresentar resultados pífios. Na melhor das hipóteses, pousamos no fundo do poço. O juro real empurra a produção para baixo, quebra as exportações e ameaça o emprego. O investimento privado afundou, sem que o investimento público possa compensar a queda. E de quem é a culpa? De qualquer um, menos do chefe do governo. Nem fomos o último país a entrar na crise, nem seremos o primeiro a sair dela. E daí? E daí nada.
Não que o cidadão comum esteja em busca de debates complexos, sobre o spread bancário ou sobre o desenho da nova ordem internacional. O que falta é uma contranarrativa para tentar neutralizar vetorialmente a narrativa que Lula, dia sim outro também, reforça com vigor. A política é jogo de forças, soma de vetores. Uma oposição competente culpa o governo por tudo, exige dele o impossível, descobre defeitos até no que parece não ter e promete o paraíso se chegar ao poder.
Mas dá trabalho e exige obstinação, além de método e vontade de correr riscos. Pressupõe agarrar-se a alguma utopia e não subestimar o oponente. Você enxerga traço disso nas atitudes e atividades da oposição brasileira nos últimos seis anos e meio? Eu não enxergo. No que um Brasil governado por tucanos e democratas seria melhor do que o Brasil do PT? Nem eles próprios parecem saber. Daí que há tempos Lula esteja a falar sozinho.
Culpa dele? Não, culpa de quem deseja retirá-lo e a seu partido do poder mas que espera isso acontecer como manifestação da vontade divina, como efeito das resistências do establishment a Lula, como consequência de uma suposta superioridade intelectual ou como produto da miraculosa descoberta daquele caso de corrupção que, agora sim, vai dar um jeito de colar no presidente. Ou como a soma de tudo isso.
O eleitor é pragmático. Adversários de Lula também estão bem avaliados na área de responsabilidade deles. E o eleitor é também desconfiado. Sabe que a política não se divide entre santos e demônios. Daí que tentativas de demonização tenham efeito apenas parcial. Só quem se ocupa de política 24 horas por dia são alguns jornalistas, os políticos e as pessoas cujo emprego ou cujo negócio dependem diretamente da política. É gente que trata o tema com paixão e gosto. Já a maioria tem com a política uma relação funcional. Quer saber o que vai ganhar ou perder. Quem é, entre as possibilidades, o melhor líder na situação.
2010 está perdido para a oposição? Óbvio que não. Eleição não se ganha de véspera. E a oposição tem um capital eleitoral respeitável, duas pernas bem fincadas nos dois maiores estados do país e boa capilaridade nacional. Por esse ângulo, talvez o choque trazido pelas últimas pesquisas tenha vindo em boa hora para os adversários de Lula. É a enésima oportunidade de tomarem contato com a realidade. E, diferente de 2006, o choque veio quando ainda falta um bom tempo para a eleição.
Até porque a travessia de 2009 para 2010 não será mesmo um mar de rosas. Enquanto as pesquisas mostram uma população mais otimista, o mercado anda cada vez mais pessimista, como mostrou ontem o boletim Focus. A esperança de Lula é que os profissionais da economia estejam errados. A da oposição, que estejam certos.
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