O que muda. E o que não

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), assumiu ontem o compromisso político de abrir a mais fechada caixa preta da Casa: a relação de funcionários e o rendimento de cada um. A crise parece mesmo grave. Entra escândalo, sai escândalo, e essa informação continua trancada a cadeado. O fato de Sarney ter se comprometido agora a divulgá-la é o melhor sintoma de que o desgaste político dele e da instituição alcançaram novo patamar.

Será uma mudança e tanto. Se for concretizada, vai representar um salto gigantesco na transparência. Se não for, a situação do presidente do Senado ficará muito difícil.
Vamos aguardar. E cobrar também as demais medidas administrativas para atacar o descalabro, a começar dos incríveis atos secretos. Quando Sarney venceu Tião Viana (PT-AC) em fevereiro e assumiu o comando da Câmara Alta, escrevi aqui que seria um erro subestimar a capacidade que tem o ex-presidente da República de interpretar sentimentos de mudança, e de a eles se adaptar.

Se quiser de fato agir, Sarney tem o essencial: as condições políticas. Porque no Senado há pelo menos uma coisa que não vem mudando, apesar dos terremotos: o grupo de Sarney e Renan Calheiros (PMDB-AL) continua tendo a maioria dos votos em plenário. Nesse fato esbarraram as tentativas de cassar o mandato de Calheiros em 2007. Também aí morreu o projeto petista e palaciano de instalar na Presidência do Senado em fevereiro último um nome do PT.

Outro elemento favorável a Sarney é não haver alternativa viável. Os generais adversários estão todos atingidos de algum modo. Quem se levantará para reivindicar, para si ou para um dos seus, a cadeira de Sarney? O que abasteceu jatinho com verba de passagens aéreas? O que mandou a namorada ao exterior à custa do erário? Ou o que emprestou o telefone celular funcional para a filha viajar ao exterior – ato que poderia até ser explicado como uma emergência, caso a conta não tivesse montado a muitos milhares de reais?

É difícil acreditar que nenhum senador conhecia o que se passava no seu lugar de trabalho. Mais difícil ainda será provar que algum deles sabia o que acontecia. A não ser que funcionários públicos cujo pescoço está a prêmio decidam falar. E mesmo nesse caso precisará haver provas. Melhor cultivar a cautela. Uma regra de ouro na política é cada um administrar a própria desgraça. Até para ser merecedor do respeito dos pares.

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