Lílian Cunha
Cresce lista de compras das classes D e E
Açúcar, óleo, macarrão, suco em pó, café e outros produtos básicos formavam, até o ano passado, o conjunto dos 22 itens que entravam para o carrinho de compras das famílias brasileiras das classes D e E, com renda média mensal de até R$ 846. Refrigerantes e condicionadores de cabelo eram as poucas extravagâncias permitidas.
Mas no último semestre, cinco novas categorias de produtos engordaram a compra desse consumidor: achocolatados em pó para misturar com leite, o próprio leite (em versão longa vida), caldos de carne e suas variações, iogurtes e salgadinhos. Da mesma forma, as famílias que ganham entre R$ 1.244,00 e R$ 1.752,00 (da classe C) também incrementaram a lista de compras - que de 32 passou a ter 33 categorias de produtos, com a inclusão do creme de leite.
"Os brasileiros de classes mais baixas estão comprando mais e melhor", diz Ana Fioretti, diretora executiva da LatinPanel, empresa que coordenou um estudo para mapear os hábitos de consumo de 8.200 lares durante o primeiro semestre deste ano.
Três fatores combinados, segundo Ana, foram os responsáveis pela "turbinada" nas compras de supermercado das camadas mais baixas da população. O primeiro deles é o ganho de renda que essa parcela de consumidores vem conquistando nos últimos cinco anos. "Além da renda, o que fez o comportamento de compras desses dois conjuntos mudar foi o medo de que uma crise econômica chegasse e também o que chamamos de "movimento casulo" - ou seja, a tendência de as pessoas ficarem mais tempo em casa", diz Ana.
Como a recessão não veio - pelo menos para a maioria dos setores - sobrou dinheiro no bolso do consumidor. O dinheiro que ele deixou de gastar em bens duráveis comprados a crédito. Somando-se a isso fatores como a Lei Seca, a gripe suína, o medo da violência e a falta de tempo, os consumidores, conforme a pesquisa, escolheram passar mais tempo em casa, mas com mais qualidade. Por isso, o volume das cestas de alimentos, bebidas, higiene pessoal e produtos de limpeza comprado pelas famílias brasileiras aumentou 14% nos primeiros seis meses de 2009, em relação ao mesmo período de 2008. O valor gasto com esses itens cresceu 19% no mesmo intervalo, de acordo com o levantamento da LatinPanel.
Esse crescimento, segundo Ana, supera a performance do primeiro semestre de 2008, quando o volume de compras encolheu 3% (em comparação com a primeira metade de 2007) por conta da inflação dos alimentos verificada naquela época.
"O que temos agora, entretanto, não é apenas a recuperação do poder de compra perdido no ano passado. É um incremento real", afirma a especialista. A entrada dos consumidores classes C, D e E em novas categorias, segundo ela, é uma prova desse movimento.
Todas as categorias de produtos analisadas tiveram alta no consumo. A compra de alimentos, por exemplo, cresceu 15% em volume no comparativo com o mesmo período de 2008. A cesta de limpeza cresceu 13% e a de bebidas e higiene, 8% e 6%, respectivamente.
Outro fator que demonstra elevação nos gastos das famílias, conforme a pesquisa, é o valor médio gasto por compra, que também subiu: passou de R$ 11,55 no primeiro semestre de 2008 para R$ 12,45 no mesmo período deste ano. A quantidade de idas ao ponto de venda, seja ele supermercado, mercearia, padaria ou açougue, também aumentou. Na média - e independente de classe social - o consumidor, que fazia 13 visitas mensais, agora faz 15. "Ao que parece, as pessoas só querem sair de casa se for para abastecer a despensa", brinca Ana.
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