Lúbrica

Cesário Verde

Mandaste-me dizer
no teu bilhete ardente
que hás de por mim morrer,
morrer muito contente.

Lançaste no papel
as mais lascivas frases:
a carta era um painel
de cenas de rapazes.!

Ó cálida mulher,
teus dedos delicados,
traçaram do prazer
os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
é muito mais fogoso
que a febre epistolar
do teu bilhete ansioso:

do teu rostinho oval
os olhos tão nefandos
traduzem menos mal
os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais,
libidinosa Marta,
teus olhos dizem mais
que a tua própria carta.

As grandes comoções
tu neles, sempre, espelhas:
são lúbricas paixões
as vívidas centelhas…

Teus olhos imorais,
mulher, que me dissecas,
teus olhos dizem mais
que muitas bibliotecas.

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