7 eixos explicam divisões da política econômica global


GIDEON RACHMAN DO "FINANCIAL TIMES

Enquanto os líderes das maiores potências se reúnem para a conferência do Grupo dos 20, seus anfitriões sul-coreanos demonstram esperança ao definir a organização como "um comitê mundial de orientação". Mas tantas mãos disputam o volante que o G20 terá sorte se sobreviver sem um acidente grave.
A tensão central quanto à maioria das questões existe entre Estados Unidos e China. Mas o mundo não está se dividindo em ala chinesa e ala norte-americana. Em lugar disso, a divisão acontece em sete eixos principais.

SUPERAVIT OU DEFICIT
Os países que mantêm grandes deficit em conta-corrente e no comércio desejam que o G20 discuta os desequilíbrios mundiais. Mas têm a oposição de um "eixo do superavit", cético quanto à necessidade de ação.
EUA e China ocupam posições centrais na disputa. Mas a Alemanha, também grande exportadora, assumiu posição ainda mais dura que a chinesa na crítica à política econômica dos EUA.

MANIPULAÇÃO
Os EUA acusam a China de manipular sua moeda ao manter o yuan subvalorizado. A China retruca que são os norte-americanos que manipulam os mercados ao imprimir dólares.
Os demais países do G20 se preocupam com a possibilidade de virem a ser apanhados no fogo cruzado de uma guerra cambial mundial.

GASTO OU CONTROLE
Dois anos atrás, era esta a grande discussão no G20: EUA e Reino Unido defendiam gastos públicos maiores mesmo que causassem deficit, e a Alemanha resistia. Agora o Reino Unido aderiu aos controles de gastos e a situação política dos EUA restringirá novas medidas de estímulo por meio de gastos. Isso pode fazer do Fundo Monetário Internacional a única voz internacional a apelar por um novo pacote mundial de gastos de estímulo.

DEMOCRACIA
Das 20 potências que participarão da reunião, China e Arábia Saudita são os únicos países com regimes abertamente não democráticos e a Rússia ocupa posição limítrofe entre democracia e autoritarismo. Mas, felizmente para os chineses, as posições do G20 raramente se dividem em função desse fator.
A agenda do G20 continua a ser primordialmente econômica. Mas, mesmo quando os participantes desviam a conversa para questões políticas, outras divisões importam mais.

O OCIDENTE E OS OUTROS
A existência do G20 já é reconhecimento de que o equilíbrio mundial de poder mudou. O velho G7 representava essencialmente o mundo branco e ocidental, mais o Japão. O G20 inclui potências ascendentes que no passado foram colonizadas ou derrotadas por países do Ocidente: África do Sul, Brasil, China, Índia, Indonésia.

INTERVENCIONISMO
Os países do G20 precisam decidir uma questão filosófica fundamental: deveriam operar por meio de acordos de aplicação compulsória ou contar com adesão voluntária? Neste caso, EUA e China, ambos grandes países que se importam muito com a soberania nacional, tendem a estar do mesmo lado.

GRANDES E PEQUENOS
Há uma divisão mundial que não pode ser expressa no G20 e é aquela que separa os 20 grandes países que garantiram convites dos cerca de 170 outros. A presença de organizações como a ONU e o Banco Mundial serve em parte para compensar as nações sub-representadas.
A conclusão é desanimadora. Longe de ser a solução para os mais urgentes problemas mundiais, o G20 parece cada vez mais dividido, ineficaz e ilegítimo.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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