por Rodrigo Vianna
Nessa semana, o marqueteiro de Dilma, João Santana, deu uma longa entrevista a Fernando Rodrigues na "Folha". Santana foi brilhante em vários momentos: por exemplo, quando mostrou o erro brutal da oposição ao subestimar Dilma.
Em outra passagem, o marqueteiro lembrou até a sofisticação de conceitos do antropólogo pernambucano Gilberto Freyre: foi quando disse que Dilma pode ocupar um lugar vazio na cultura política brasileira – a "cadeira da rainha". Definição sutil e precisa. De fato, o Brasil não teve figuras femininas marcantes no poder. Isso desde Princesa Isabel… A cadeira da rainha está vaga.
Falei primeiro dos méritos da entrevista. Agora, faço a crítica. Santana disse que o fator determinante pra levar a eleição pro segundo turno foi o caso Erenice. E minimizou a boataria religiosa. Nesse caso, parece-me que o marqueteiro procurou encobrir um erro estratégico da campanha que ele dirigiu. Ao apontar o caso Erenice como decisivo, ele joga a responsabilidade no governo Lula (ou no PT). E tira o corpo fora.
A realidade não foi essa. Quem acompanhou de perto a eleição sabe: o caso Erenice freou o crescimento de Dilma. Sim. Mas – apesar do escândalo - Dilma seguia na liderança, com folga pra liquidar a fatura em primeiro turno, até que os adversários passaram a usar a estratégia do terror.
Aqui nesse blog, vocês são testemunhas, escrevi 2 semanas antes do primeiro turno que a boataria religiosa corria solta nos subterrâneos. E a campanha não reagiu. Foi reagir tardiamente, a 3 ou 4 dias da eleição, quando o estrago já estava feito.
O PT e (pelo visto) também o marqueteiro estavam preparados para balas de prata convencionais. E o que veio foi uma ação sombria. Contra ela não havia estratégia. A campanha ficou tonta. Demorou a se recompor. E eu nem acho isso absurdo. Não era fácil mesmo reagir à baixaria religiosa. Mas minimizar esse episódio parece-me uma forma de nublar a realidade.
A fala de Santana sobre esse episódio lembra-me a de um técnico de futebol que ganhava o jogo, e mandou o time recuar pra segurar o resultado. O adversário fez um gol! Mas a equipe dirigida pelo técnico era tão forte que, mesmo assim, foi pra frente e na raça garantiu a vitória. Terminada a partida, o técnico saiu assobiando como se nada tivesse acontecido.
A verdade é que o pouco caso da campanha do PT diante da boataria religiosa, na reta final do primeiro turno, quase custou a vitória de Dilma. Além disso, Santana parecia despreparado para o segundo turno. A campanha bateu cabeça durante uma semana. O marqueteiro e os coordenadores fingiram que tudo devia seguir "como planejado".
Nenhum comentário:
Postar um comentário