De costas para Brizola
De olho no novo governo, alguns pedetistas não hesitam em querer sacrificá-lo no Ministério do Trabalho, ou para ocupar seu lugar, ou para ter alguém mais afinado ali ou para garantir compensações a candidatos que ficaram sem mandatos e poderiam ir para outra pasta.
Não se trava uma luta política, uma disputa sobre o próprio destino do PDT nesse novo momento da vida brasileira. Os que articulam ou se manifestam de forma terceirizada com notas plantadas na mídia não estão nem aí para o legado de Brizola, o caudilho que pagou um preço caríssimo por sua postura nacionalista.
Querem tão somente as minguadas fatias de poder reservadas a um partido que não aparece sequer entre os que teriam vencido a hipotética cláusula de barreira, embora possa exibir como fenômeno a exuberante votação do deputado José Antônio Machado Reguffe (266.465), a maior do país em relação ao eleitorado. (Ele foi um dos mais corajosos adversários do esquema de corrupção que culminou com a prisão e a cassação do governador José Roberto Arruda).
Conflitos fisiológicos
Essa corrida nitidamente fisiológica culmina uma crise que poderá expor pelo menos dois segmentos frontalmente adversários dentro da própria legenda, sem bandeiras e sem referências políticas.
Antes mesmo da morte de Brizola, em 2004, o seu partido já vinha perdendo o verniz de esquerda. Há Estados em que está de braços com o que há de mais reacionário e alguns dos seus 27 parlamentares eleitos não escondem posturas totalmente heterodoxas. Curioso: nos Estados em que apresentou candidatos a governadores viáveis – Paraná, Alagoas e Maranhão – não elegeu um único deputado federal. Dos majoritários, apenas Ronaldo Lessa chegou ao segundo turno em Alagoas: assim mesmo teve que engolir o apoio de Fernando Collor, numa inacreditável aliança de ocasião.
Há sinais de que a bancada federal, ferramenta de negociação para o futuro governo, tende a aparentar-se ainda mais com o PTB, isto é, a jogar pesado na defesa dos interesses pessoais de cada um. Constrangido por não ter sido reeleito, Brizola Neto afastou-se da liderança, que passou ao comando de Paulinho da Força Sindical, cujo perfil é por demais conhecido.
Paulinho agora diz publicamente que quem tem representatividade para pleitear cargos no governo federal é ele e não o ministro Carlos Lupi, que não disputou mandato, inviabilizado pelo quadro criado no Diretório do Rio de Janeiro, que se abriu à pior direita do Estado, numa inesperada manobra do prefeito de Niterói, Jorge Roberto.
É bem possível que Carlos Lupi saia bastante arranhado nessa convulsão, embora conte a seu favor, perante a nova presidente, com a determinação de bancar sua indicação no primeiro turno, recorrendo a todos os expedientes possíveis para impedir a tradicional candidatura própria. Só com mais cargos o partido não racha
Sua tentativa de ampliar a participação no governo, abrindo espaço para o ainda senador Osmar Dias, derrotado nas eleições de governador do Paraná, parece ser a única carta na manga para permanecer ministro e presidente do partido, ao mesmo tempo.
Muito ligado ao agronegócio do Paraná, Osmar Dias só foi disputar a eleição de governador atendendo a um apelo de Lula, através de Lupi, já que a base governista não tinha ninguém em condições de enfrentar o prefeito de Curitiba, Beto Richa.
O pedetista achava mais seguro tentar a reeleição, no que tinha razão. Mesmo aliado com Roberto Requião, seu adversário na eleição anterior, não logrou sequer ir para o segundo turno. Há quatro anos, numa aliança com os partidos de direita, perdeu por muito pouco (50,1% X 49,9%) de Requião, o político mais proeminente do Paraná.
Segundo minhas fontes, ao pressionar Osmar para ser candidato a governador, Lupi teria garantido que ele "não seria esquecido para um cargo à altura de sua carreira política" pela presidente Dilma Rousseff. Osmar está esperando ser ministro da Agricultura, com base em sua experiência de engenheiro agrônomo e secretário de Agricultura em duas gestões no seu Estado.
Independente dessa corrida ao poder, já se fala em algumas defecções. Os aliados mais exaltados do ex-governador maranhense Jackson Lago, que apoiou José Serra diante da aliança do PT com Roseana Sarney, já pensam em procurar outra legenda. O velho, fundador do partido e signatário da Carta de Lisboa, o primeiro documento do renascer brizolista, não esconde que está muito magoado, mas permanece numa postura de prudência.
Há muito mais minas afetando a terrível condição de aliado sem peso parlamentar e político (apesar do seu charme histórico) de um governo com um projeto que se baseia nos vitoriosos. Mas se os pedetistas quiserem preservar a legenda, mesmo envoltos na guerra das prebendas, precisam agir com mais tranquilidade e resgatar o que tem de maior patrimônio: o legado brizolista, uma referência que a história conserva com o devido respeito.
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