Ministérios - O melhor é deixar como está

Tiago Pariz

Com medo de perder influência na divisão do futuro governo da petista Dilma Rousseff, o PMDB, do vice-presidente eleito, Michel Temer, defende que o desenho da Esplanada dos Ministérios elaborado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva não seja alterado a partir de janeiro de 2011.

A proposta levada por Michel Temer a Dilma e ao presidente do PT, José Eduardo Dutra, ocorre num momento em que PSB, PP, PDT e PR cobram o aumento do número de ministérios chefiados por essas siglas no próximo governo. As agremiações dizem ter direito a uma compensação mais abastada graças ao crescimento das bancadas no Congresso. Teriam, na visão deles, mais relevância na aprovação de propostas importantes no Legislativo. Por essa razão, precisariam da recíproca administrativa com direito a caneta, poder e orçamento.

O PSB vai além. Usa como pressão o número de governadores que elegeu — seis, no total. Em 2006, os socialistas, comandados pelo hoje governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos, saíram vitoriosos em três estados. Dilma preferiu não se comprometer agora com a ideia, dizendo ser preciso escutar as demandas das legendas aliadas. As duas pastas mais cobiçadas hoje são Transportes, que está na mão do PR, e Cidades, sob responsabilidade do PP. Até o PTB, que manteve o tamanho no Congresso e apoiou oficialmente José Serra (PSDB), apesar de os parlamentares terem fechado com Dilma nas eleições, busca aumentar seu espaço.

"Se cobrarmos aumento do nosso espaço, vai ter que tirar de outro partido, desarrumando o quadro que o presidente Lula fez e que hoje dá certo. Não podemos começar um governo criando problemas para a presidente eleita", afirmou o líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), citando o discurso de Michel Temer.

A fala conciliadora ocorre depois de Temer se reunir com a cúpula do partido para enquadrá-la. O vice-presidente eleito pediu que cobranças por cargos e espaço no futuro governo sejam evitadas. Ficou acertado que ele será o único a negociar com o PT e com Dilma sobre o formato da administração que chega ao Palácio do Planalto a partir de janeiro.

A bandeira da ética levantada pelo PMDB, um partido marcado nos últimos anos por disputas fisiológicas, interesses escusos e brigas internas, faz parte de uma tentativa dos velhos caciques do partido, guiados pelo vice-presidente eleito, de renovar a imagem perante a sociedade. "O partido já errou muito no passado, com disputas intestinas, até mesmo infantis e constrangedoras, que prejudicaram a nossa imagem", sentenciou Alves.

O PMDB comanda seis pastas no governo Lula: Integração Nacional, Agricultura, Defesa, Saúde, Comunicações e Minas e Energia. O PR cobiça a Agricultura para entregar na mão do senador eleito Blairo Maggi (PR-MT). O PT está de olho em retomar a Saúde, e uma possibilidade seria entregá-la ao deputado Antônio Palocci (SP). O partido de Dilma também gostaria que o futuro ministro da Integração Nacional seja indicado pelo governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). Tem gente no PT que gostaria de comandar Cidades e, no PMDB, de colocar as mãos em Transportes.

Redução
Na prática, a defesa do PMDB joga nas costas do PT — que comanda 15 ministérios — o ônus de diminuir seu espaço na Esplanada. Poucos petistas admitem ser preciso reduzir o próprio tamanho para atender aos interesses de aliados. Um deles é o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que tem todo o interesse de propagar um sermão de conciliação por estar de olho na Presidência da Câmara a partir de fevereiro de 2011.

AJUDINHA
Além de levantar a bandeira branca, os caciques peemedebistas também empregam um discurso paternalista para tratar a presidente eleita, Dilma Rousseff. Sob o argumento de que ela não tem a experiência política do presidente Lula, eles sustentam que Dilma precisará ser ajudada no começo do governo. "O Lula consagrado, quase um consenso no país, não é o mesmo de oito anos atrás. Ele chegou ao que é depois de muitos erros e acertos. Não dá para cobrar que ela tenha o mesmo desempenho do Lula. Ela vai precisar do apoio da gente. Vamos cumprir todas as determinações dela e ajudá-la sempre", prometeu o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

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